Sobre bola, meninos sonhadores e o futebol de rico e pobre

Primeiro dia de aula, o professor se apresenta e pede que os calouros façam o mesmo, indicando o porquê da escolha do curso e em qual área cada um deseja atuar. A motivação é sempre variada, e aí vêm as histórias, casos curiosos, decisões tomadas pela paixão e o mais comum: sonhos de infância. Para muitos, o sonho tem o nome de Jornalismo Esportivo. São muitos os jovens que escolhem esse rumo da tão desejada profissão. Mas o que será que o esporte tem que encanta tantos corações?

Como qualquer menino que sonha em ser jogador de futebol, a paixão pelo esporte começou cedo para o jornalista Rafael Buiar, que também contou com o incentivo dos avós Pedro e Milton nesse processo. Ele conta que o jornalismo veio como uma opção para estar inserido nesse ambiente esportivo, já que a falta de oportunidade e condições financeiras não permitiram que ele realizasse o sonho. Desde muito novo, praticou esportes de todos os tipos, mas o futebol sempre teve seu lugarzinho especial no coração do jovem.

E assim, unindo o esporte e a paixão, nasceu o site Do Rico ao Pobre, que cobre tanto o futebol paranaense profissional quanto o amador (suburbana) reunindo de forma independente jovens jornalistas e estudantes da área. A proposta surgiu ainda na época da graduação, como uma ferramenta para avaliar as produções textuais de Rafael.

No início era apenas um blog sobre as partidas acompanhadas por ele pela TV, rádio e até nos estádios. Mais tarde, a ideia foi tomando outros caminhos e as coberturas ganharam uma proporção mais ampla. “Com o mercado em baixa na área de jornalismo, resolvi investir nesse projeto. Por isso, convidei algumas pessoas a participarem e hoje estamos em 25 e espalhados em quatro cidades do Paraná, como Curitiba, Ponta Grossa, Londrina e Guarapuava”, conta Rafael.

Hoje, a equipe DRAP (Do Rico ao Pobre) conta com três alunos do curso de Jornalismo da Uninter, Adson Lima, Evandro Tosin e Lucas Ravel, que fazem a cobertura das partidas de Curitiba e região metropolitana e produzem conteúdo multimídia para o site. Colocando o sonho em prática, esses jovens demonstram que o futebol que atrai multidões não se resume ao espetáculo milionário como esse em andamento na Copa da Rússia. A periferia também tem seus craques, e onde eles estiverem esses talentos do jornalismo esportivo estarão também.

Da sala de aula para os gramados

Lucas Ravel

Desde os 6 anos de idade, gostava muito de futebol e do jornalismo. Não saía da frente da televisão na hora do almoço, e acompanhava toda programação de jornais que podia, desde policiais até os esportivos. Primeiro ele tentou a carreira de futebol e, mesmo participando de escolinhas, acabou não tendo sucesso. Aliado ao gosto pelo futebol, o jornalismo esportivo foi uma saída para estar inserido nesse universo, já que ser jogador estava fora de questão.

Com a cara e a coragem, Lucas saiu de Matinhos, no litoral do Paraná, e se mudou para Curitiba. Logo nos primeiros meses de faculdade, o colega Cleiton, que participava do site Do Rico ao Pobre há algum tempo, convidou o rapaz para participar do projeto. Mesmo sem conhecer muito da área, ele topou a missão. “Eu não sabia nada. O que eu tinha de conhecimento era o que acompanhava pela TV. Tinha ido apenas uma vez em um estádio, e quando eu entrei, e percebi a atmosfera do amador, eu fiquei impactado e pensei: é aqui mesmo que eu quero estar”, lembra.

E com o apoio e incentivo de Rafael Buiar, aceitou o desafio como uma chance de participar de algo na área já no começo da graduação, uma oportunidade que poucos tem. “Antes eu pensava ‘é tão distante, estou separado desses caras por uma televisão’. Depois que caiu a ficha, eu olhei o pessoal do meu lado fazendo perguntas. O pessoal que eu via na TV passando o microfone pra eu fazer uma pergunta… falei pra mim ‘cara, você está no lugar certo’. Eu comecei a amar mais ainda o jornalismo esportivo. É um sonho meu que está sendo realizado”, enfatiza.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas ao cobrir um campeonato amador, como a falta de um local adequado para fazer a cobertura, ausência de tomadas e o suporte necessário por parte dos estádios, Lucas não desanima e conta que ele e os colegas aprenderam a se virar e a improvisar. “O pessoal do Do Rico ao Pobre, mesmo sendo apenas colaborativo, se dedicam ao máximo e amam o que fazem. E eu também procuro sempre fazer o meu melhor ali, é uma experiência incrível”, completa o jovem.

Adson Lima

As primeiras recordações são de estar com uma bola no pé, ou assistindo a um jogo de futebol. Desde que se lembra, o sonho sempre foi o de ser jogador. Até terminar o ensino médio, o jornalismo não havia sido colocado em pauta, mas com o sonho frustrado, acabou sendo a melhor opção para o rapaz que já não se imaginava longe dos gramados. “O tempo foi passando e alguém me perguntou: ‘porquê você não une o útil ao agradável? Você gosta tanto de futebol, porquê você não trabalha com isso?’ E como eu não pude ser jogador, então fui pesquisar e acabei me apaixonando também pelo jornalismo esportivo”, conta.

O jovem então fez o vestibular e entrou no curso de Jornalismo da Uninter no começo de 2017, e com apenas um mês de faculdade, recebeu o convite para participar da equipe do Do Rico ao Pobre. Mesmo com medo por ser apenas um calouro, Adson não pensou duas vezes e decidiu apostar na chance de trabalhar com algo que sempre foi apaixonado. “Fui a primeira vez e conheci o pessoal, eram muito gente boa, sempre dispostos a ajudar. Eu estava lá como cinegrafista, e conheci o outro lado. Por mais que você não esteja dentro do campo, você está fazendo parte de algo, não é mais só estar na arquibancada assistindo”, diz.

Em alguns momentos, o estudante chegou a ficar em dúvida quanto a área escolhida, mas com o tempo percebeu que a oportunidade que o site proporcionou a ele foi crucial para fortalecer esse vínculo com o jornalismo. “Se não fosse o site, eu não teria nenhuma experiência prática profissional, então isso me ajudou muito a ir alimentando o contato com o jornalismo. Eu fiz viagens, conheci pessoas, conheci o campeonato amador, e eles nos recebem muito bem nesses campeonatos. Isso é bem legal”, finaliza.

Evandro Tosin

A paixão pelo futebol atravessa gerações e sempre esteve na vida do jovem estudante de jornalismo. Por influência de um tio que o presenteou com um uniforme do goleiro Taffarel, um dos maiores ídolos da história da Seleção Brasileira, o sonho que começou cedo não podia ser outro: seguir a carreira de goleiro. “Um outro tio meu, do interior de Minas, sempre jogou como goleiro nos times de várzea da cidade e até hoje treina um grupo de meninas da região. Ele sempre levava os sobrinhos pra jogar nos campinhos de lá” lembra.

Com apenas 7 anos, começou a fazer escolinha de futebol pela prefeitura de Curitiba. Aos 13, já treinava futebol de campo na Positivo. Praticou firme até os 17 anos, e fez testes para o Coritiba e o Atlético, mas não teve sucesso. Chegou a jogar em um time amador de juniores do Capão Raso, mas aos 18 anos, um problema sério nos pulmões, seguido da trombose em uma das pernas, acabou com o sonho de Evandro.

Após 10 meses de uma recuperação difícil, a ideia era partir logo para o plano ‘B’, e começar a faculdade de jornalismo. “Nunca pensei em outra coisa além do futebol. Sempre pensei que se não desse certo ser jogador, eu ia ser jornalista esportivo. Eu recortava notícias sobre futebol dos jornais e colava em um caderno pessoal. Colecionava figurinhas, tinha coleção dos minicraques, videogames, tudo o que era relacionado ao esporte”, conta.

Por causa das dificuldades em encontrar emprego, e por sugestão da família, o rapaz cursou administração antes de partir para o próximo sonho. Nesse meio tempo, fez o Enem sete vezes até conseguir uma bolsa pelo Prouni na Uninter, em 2016. Ingressou na faculdade no início de 2017, almejando um futuro no jornalismo esportivo. Logo, através do mesmo colega de turma que convidou Adson e Lucas, Evandro também passou a fazer parte da equipe DRAP. “Tem sido bem construtivo para a minha formação. Lá tem pessoas com mais experiência na área, e algum tempo de casa, que estão sempre dando feedback, e isso faz a gente crescer como profissional”, afirma.

Evandro tem muito orgulho de pertencer à equipe de Do Rico ao Pobre, e fala com alegria das oportunidades que recebe através da colaboração no site. A mais recente, uma coletiva de imprensa na Arena da Baixada, com Nadja Mauad, Monique Vilela, e outros jornalistas esportivos que são referência para os estudantes. “Poder ter esse contato com outros profissionais do mercado nos faz observar como eles trabalham, é uma oportunidade de troca de experiência com os jornalistas que são conhecidos e os colegas do site”, acrescenta.

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