Porque de bike é legal

 

Denise Becker – Estagiária de Jornalismo

O trânsito nas cidades grandes é assunto frequente no noticiário, seja pelo caos, seja pela poluição ou perda da qualidade de vida. Embora soe paradoxal, a cidade brasileira vista no Exterior como modelo em ciclomobilidade tem um dos maiores índices per capita de automóveis. Curitiba tem um veículo para cada 1,2 habitante.

O site norte-americano Mother Nature Network (MNN), que trata de meio ambiente e responsabilidade social, listou em 2013 as dez cidades mais agradáveis do mundo para se andar de bicicleta. Curitiba foi a única cidade brasileira a ser mencionada. Um dos fatores avaliados foi a infraestrutura. Veja aqui a matéria.

Por ser uma forma amigável e prática de mobilidade, Silvia Valim, Eugênio Vinci de Moraes, Julio Pagnan e Fábio Ribeiro têm usado a bicicleta para ir ao trabalho. Sílvia e Eugênio são professores no Centro Universitário Internacional Uninter, onde Julio e Fábio trabalham e estudam. A instituição possui bicicletário nos campi Tiradentes, Garcez, Divina e Carlos Gomes.

O quarteto aderiu a um grupo cada vez maior em Curitiba, o de pessoas que estão trocando o carro ou o ônibus pela bicicleta. Jornalista e professora, Sílvia diz que depois dos 30 anos parece que reaprendeu a pedalar e percorre 7 km para ir e voltar da faculdade. Para evitar transtornos e estresse, anda sempre nas ciclofaixas. Quando tem.

“Comecei a andar de bike por vários motivos, um deles foi o de estar mais perto da família e da vida profissional. E já que era para enfrentar o desafio, quis uma bike que me garantisse conforto e refletisse minha personalidade. Adquiri pela internet uma bicicleta alemã personalizada de 1930, usada. Deixei do jeito que eu queria, com três marchas, cestinha e um alforje feito especialmente para caber livros e materiais que uso em sala de aula”, diz.

Três pontos importantes levaram o professor Eugênio, de 53 anos, a adotar a bicicleta como meio de transporte: ideológico, pessoal e econômico. “Eu acho que a cidade deve confinar o carro. Quanto menos usar o carro, melhor para a cidade. Tive que emagrecer e não gosto de academia. Estou economizando uma boa grana nesse negócio, pois gastava dez reais de manhã e dez à noite em estacionamento para o carro”, declara.

Julio Pagnan e Fábio Ribeiro, ambos de 43 anos, também pedalam rumo ao Centro. Os dois estudam Jornalismo e trabalham na Uninter. Julio é videografista e Fábio, diretor de cena.

Julio mora na região entre os bairros Capão Raso e CIC e se arrisca todos os dias ao longo do trajeto até o trabalho. Ao todo, percorre 22 km. “Pego um bom trecho de canaleta do ônibus expresso, porque não tem ciclofaixa nas laterais da República Argentina inteira. Na Sete de Setembro pego a via calma e depois subo até chegar na faculdade”, diz Julio.

Fábio criou coragem vendo o exemplo do colega e deixou a motocicleta de lado para andar 16 km de bicicleta. Para ele, a qualidade de vida e a economia são importantes, mas já levou alguns sustos. “A gente economiza na gasolina e faz exercício. Mas as partes que têm ciclovias estão malcuidadas, então a gente opta pelas canaletas e não é difícil passar por situações arriscadas”, diz.

Para os dois ciclistas, ainda há muito por fazer. Segundo eles, as ciclovias estão sem manutenção, mal sinalizadas e, em alguns trechos, esburacadas. Mesmo assim, a bicicleta é uma alternativa possível.

De acordo com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a cidade possui atualmente 204,2 km distribuídos entre ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. A assessoria de imprensa do IPPUC informou que até o fim do ano a cidade deverá ganhar mais 4 km de ciclovias ao longo do trecho norte da Linha Verde, que está em obras.

Outros 3 km integrarão a malha cicloviária com a revitalização da Avenida Manoel Ribas. A ordem de serviço para realização dos trabalhos foi assinada no último dia 9, sem data definida para o começo das obras.

Lei da Bicicleta

Em 2015, Curitiba sancionou a lei que dispõe sobre a mobilidade urbana sustentável, conhecida como “Lei da Bicicleta”, que estabelece 1,5 metro de distância dos carros para o ciclista pedalar com segurança. “Eu diria que 85% dos carros respeitam, inclusive ônibus. Mas nosso trânsito, nossas vias, não são feitas para isso. Bicicleta é um veículo que disputa um espaço que não é dela”, diz Eugênio. Conheça aqui a Lei Municipal da Bicicleta.

Ciclovia, ciclorrota ou ciclofaixa?

Ciclovia é um espaço físico na via exclusivo para bicicletas. Pode ser por grade, muretas, blocos de concreto. Ciclofaixa é sinalizada por faixa pintada no chão e pode ser indicada por “olho de gato” ou “tartaruga” (tachões). Ciclorrota é um caminho que pode ou não ser sinalizado e que indique a melhor rota de acesso para o local onde o ciclista deseja ir.

Conforme o IPPUC, Curitiba tem 204,2 km de vias voltadas a atender à ciclomobilidade. São 172,9 km de ciclovias, 19,6 km de ciclofaixas e 11,7 km de ciclorrotas.

De olho no que diz a lei

Os órgãos de trânsito devem garantir a segurança dos ciclistas. No entanto, é preciso estar atento às leis e conhecer quais são os seus direitos e deveres ao escolher pedalar.  Confira alguns artigos do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 29: Os pedestres têm prioridade sobre ciclistas e os ciclistas, sobre demais veículos.

Art. 58: Se não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, ou quando não for possível usá-los, o ciclista deve transitar nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação da via, com preferência sobre os veículos automotores.

Art. 59: A bicicleta só pode transitar na calçada com autorização da autoridade de trânsito e sinalização adequada.

Art. 68: Para atravessar na faixa de pedestres é preciso sair da bicicleta e empurrá-la, equiparando-se ao pedestre em direitos e deveres.

Art. 105: São equipamentos obrigatórios: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo.

Art. 181: É infração grave, sujeita a multa e guincho, estacionar um veículo na ciclovia ou ciclofaixa.

Art. 201: O veículo automotor deve ultrapassar a bicicleta a uma distância mínima de 1,50 metro.

 

Edição: Mauri König

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