Facebook News seria uma nova era para o consumo de notícias?

Autor: Poliana Almeida – Estagiária de Jornalismo

Uma plataforma internacional de estatísticas fez um levantamento sobre quantas pessoas, ao redor do mundo, estavam conectadas à internet durante o mês de abril de 2020. A ideia era produzir dados comparativos de antes e durante a pandemia de coronavírus. O resultado foi que 4,57 bilhões de pessoas eram usuários ativos diariamente da internet. Isso corresponde a cerca de 59% da população mundial.

E o que essas pessoas tanto veem? As redes sociais. As empresas comandadas por Mark Zuckerberg viram seu número total de usuários ativos ir de 100 milhões para 2,99 bilhões de pessoas no ano passado. Tudo isso graças às novas aquisições feitas pelo dono do Facebook. Para se ter uma ideia, os quatro aplicativos mais baixados em dispositivos na década foram o Facebook, o Facebook Messenger, o WhatsApp e o Instagram. Todos fazem parte do “conglomerado” Zuckerberg.

No meio desse turbilhão de posts que vemos diariamente nas redes sociais, é possível encontrar notícias e informações relevantes ao rolar a nossa linha do tempo. E é justamente para dar maior visibilidade ao conteúdo jornalístico que está sendo lançado o Facebook News.

A iniciativa prevê a remuneração aos meios de comunicação pela publicação de notícias no portal. Isso pode ser considerado uma grande alavanca para o jornalismo de qualidade. No entanto, ainda pairam muitas dúvidas sobre como vai funcionar este sistema.

 Presente de grego

O coordenador do curso de Jornalismo da Uninter, Guilherme de Carvalho, acredita que essa seja uma alternativa para o Facebook recuperar sua credibilidade. “O episódio da Cambridge Analytica (quando informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem seu consentimento pela empresa) foi um dos maiores escândalos políticos-eleitorais dos últimos tempos. E isso pesa para o Facebook. É uma resposta da rede a esse tipo de perda de credibilidade, a uma desvalorização da própria marca”, explica.

Entretanto, não podemos deixar de citar que iniciativas como essa podem ser benéficas ao jornalismo. “É recurso que vem. É dinheiro que vai ser investido em produção de notícia, em veículos jornalísticos locais. É a valorização da informação apurada e trabalhada por profissionais que passa a constar na rede social. É um aspecto positivo nesse sentido para o jornalismo, mas não podemos deixar de perceber também esse viés crítico de que o Facebook está tentando deixar seu nome limpo na praça de novo”, complementa Guilherme.

Perguntado se isso pode, de alguma forma, mudar o processo de produção jornalística vigente, o jornalista acredita que isso é pouco provável. Até porque a grande maioria das empresas de comunicação hoje em dia já mantém uma rotina dentro do ambiente digital. Sejam os que apresentam o conteúdo dos jornais em seu site, sejam os nativos digitais, como é o caso do Nexo Jornal, por exemplo, todos já incluem ciberproduções em sua pauta do dia. “Eu não acho que isso vai alterar a maneira de se fazer jornalismo, mas certamente pode aumentar a visibilidade de veículos e a distribuição de certos conteúdos”, destaca Guilherme.

A questão que mais preocupa o professor são os algoritmos, “porque essas notícias serão selecionadas de forma individual, particular, personalizada, ou seja, as pessoas não vão ter acesso às mesmas notícias”. Será que o Google ou Facebook já elencaram alguns parâmetros para essa ação, ou a publicação funcionará como os anúncios na rede mundial de computadores – quem pagar mais leva? Questão para ser acompanhada de perto, principalmente pelos comunicadores.

Isso pode reforçar ainda mais o “efeito bolha” em que vivemos. “Ou seja, determinadas notícias que me agradam aparecerão na minha timeline (linha do tempo ou feed de notícias), e outras não, como aquelas que não estão de acordo com o que penso”, exemplifica o coordenador.

Desta forma, não fugimos da armadilha característica da era da pós-verdade:  permanecemos presos em nossas bolhas, lendo apenas aquilo que corrobora nossas visões de mundo, sem espaço para debate ou contestação.

Quando questionado se o Brasil poderia fazer parte da lista de países que teriam o Facebook News implantado de início, Guilherme mostra-se otimista. “As notícias divulgadas sobre o Facebook News dão conta de que sim: há uma chance muito grande de começar no Brasil também o serviço, pois é um mercado muito forte, muito grande. Tem pesquisas de produtos culturais que apontam que o consumo de notícias e informação é maior no Brasil”, conclui.

O Facebook e a justiça australiana

Um escândalo promovido pela rede de Zuckerberg e as agências de notícias aconteceu recentemente na Austrália. O Facebook chegou a banir a veiculação de conteúdo noticioso, mas acabou voltando atrás. Isso gerou grande debate no parlamento australiano, que criou uma lei exigindo que grandes empresas de tecnologia paguem por conteúdo jornalístico publicado em suas plataformas.

Segundo dados apurados pela CNBC, o Facebook anunciou que está planejando investir aproximadamente US$ 1 bilhão nos próximos três anos na indústria de notícia. “Nós investimos US$ 600 milhões desde 2018 para dar suporte à indústria de notícias, e estamos planejando ao menos US$ 1 bilhão nos próximos três anos”, declarou ao site Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais do Facebook.

Outras empresas de conteúdo também foram afetadas. O Google já se antecipou e fechou acordos com os principais veículos de notícias da Austrália. Em um primeiro momento, sabe-se que o maior buscador do mundo irá pagar por notícias que apareçam no Google News Showcase.

Por que estas duas empresas, especificamente? Segundo as autoridades australianas de concorrência, o Google fica com 53% da publicidade paga no país. Enquanto que a fatia do Facebook é de 28%. E os órgãos públicos acreditam que os 19% que restam não são suficientes para financiar jornalismo de qualidade.

A pergunta que fica é: será esse um grande pontapé para reforçar a importância do jornalismo no ambiente digital, ou apenas uma jogada para amenizar a perda de credibilidade dos grandes conglomerados de tecnologia? O tempo dirá.

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Autor: Poliana Almeida – Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Tobias Dziuba/Pexels


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