Fred Santos é campeão dentro e fora das quadras de basquete

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

Seis vezes campeão carioca e duas vezes campeão brasileiro como armador do Clube de Regatas do Flamengo (RJ). A extensa lista de títulos conquistados pelo ex-jogador de basquete Frederico Santos não o acomodou. Fred, como é mais conhecido, encerrou oficialmente a carreira dentro das quadras no ano passado e já em 2022 foi convocado como treinador de desenvolvimento da seleção brasileira masculina.

O acreano, nascido em Cruzeiro do Sul, apesar de não ter nenhum familiar atleta, sempre foi ligado ao esporte. Lá, no entanto, não teve oportunidade de conhecer outra modalidade além do futebol.

Só aos 13 anos de idade que o adolescente começou a jogar basquete efetivamente, três anos após a mudança da família para o Rio de Janeiro, estado de origem dos pais, Celson e Aida. O casal se mudou para o Acre ainda na década de 1980 devido ao trabalho de Celson, que é engenheiro elétrico e recebeu uma oportunidade na antiga Eletroacre.

De volta para Niterói (RJ), Fred conheceu o basquete e começou a jogar na rua, depois na escola, até que decidiu fazer um teste para atuar no Canto do Rio e foi aceito.

Com o destaque que conquistou no clube niteroiense, o jogador começou a receber propostas da maioria dos demais clubes. Optou pelo Fluminense em uma “decisão muito assertiva”. Mesmo com a longa distância do deslocamento e as dificuldades de horário, Fred garante que foi muito importante para a formação pessoal e profissional.

“A partir do momento que fui para o Fluminense, acho que comecei a realmente entender um pouco mais o esporte. Tive um trabalho mais direcionado para um alto rendimento, me desenvolvi bastante, entendi muito mais sobre o jogo, o que deveria fazer, qual posição jogar (…) eu chegava em casa muitas vezes às 11 horas da noite, no dia seguinte tinha que estar na aula às 7 horas da manhã. Ia para o treino depois da aula, treinava pelo menos umas seis horas por dia. Chegava no início da tarde e só saía à noite do clube”, lembra.

Uma carreira de sucesso

Foi na categoria de base que Fred conquistou os dois primeiros títulos da carreira, que aconteceram pela seleção brasileira de basquete: o Sul-americano Sub-17, em Córdoba/Argentina (1996), e o Pan-americano Sub-18, em Medellín/Colômbia (1998).

A primeira partida profissional do jogador aconteceu aos 17 anos, pelo Botafogo, onde atuou por três anos. Até chegar ao Clube de Regatas do Flamengo, em 2006, passou por alguns times, dentro e fora do Rio, como a Associação Desportiva COC, em Ribeirão Preto (SP), pelo qual foi campeão paulista em 2001; o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte (MG); a Associação Macaé de Basquete (RJ); e em Rio Claro, interior de São Paulo.

“Em Rio Claro, foi uma temporada muito legal. Um time jovem, no qual fomos muito bem. Na época eu tinha 24 anos e ficamos entre os três primeiros do brasileiro”, conta o ex-jogador.

Mas o “melhor momento da carreira”, segundo Fred, foi mesmo na equipe rubro-negra. Na atuação pelo Flamengo, garantiu seis títulos consecutivos, foi campeão carioca de 2006 a 2011. Em 2008, garantiu o primeiro título nacional do time, no Campeonato Brasileiro de Basquete. Já no ano seguinte, conquistou a primeira edição da Liga Nacional de Basquete (NBB) e o primeiro título internacional da equipe com a Liga Sul-americana de Clubes.

Fred também soma três títulos individuais: Primeiro lugar em Média de Assistência, pela Associação Macaé de Basquete no Campeonato Brasileiro de Basquete, em 2004; Melhor Sexto Homem, pelo Flamengo na Liga Nacional de Basquete, em 2009; e Melhor Armador pela Seleção Brasileira Militar de Basquete, em 2011.

Junto à seleção militar ainda conquistou o campeonato Mundial Militar que aconteceu na França, em 2014. Nos anos seguintes passou por outros vários times, como o Caxias do Sul Basquete (RS), com o qual ganhou o campeonato gaúcho em 2016.

Das quadras para a formação de atletas

Ser treinador sempre foi um desejo de Fred, antes mesmo da aposentadoria dentro das quadras, e algumas propostas já chegavam no fim da carreira. A experiência e o conhecimento prático já faziam parte da vida do jogador, que só precisava de mais um passo para assumir o cargo, a graduação de Educação Física.

Ainda jogando em Niterói, em 2017, o atleta ingressou no bacharelado EAD da Uninter, no polo de apoio presencial (PAP) da cidade. Um dos motivos foram as centenas de possibilidades que a instituição oferece, devido aos mais de 700 polos espalhados pelo Brasil.

“Gostei da metodologia de ensino, achei bem interessante. Como quando iniciei a faculdade, não sabia exatamente em que ano iria parar de jogar, existia a possibilidade de mudar de cidade”, explica Fred.

A transferência de PAP foi necessária quando se mudou para Brasília (DF) para jogar na equipe do Cerrado e depois quando voltou a residir em Niterói.

Em 2018, Fred entrou para o basquete 3×3, na equipe do Rio de Janeiro. A modalidade urbana e inovadora é inspirada pelo esporte de rua e tem um misto de música e informalidade, o que gera maior atração para os jovens. Ao mesmo tempo, o então jogador fazia estágio em uma academia especializada para preparação física de atleta, oportunidade que conseguiu com dois amigos que já o conheciam e confiavam no conhecimento do atleta.

Fred conciliava todas essas atividades com a paternidade, “sempre tentando dar atenção máxima” para a filha Rebeca, que hoje tem 15 anos. Assim como pai e por influência dele, a jovem pratica os mais diversos esportes.

“Minha filha joga vôlei também, anda de skate. Eu ensinei todos os esportes, gosto muito de falar isso. Ela aprendeu tudo comigo, futebol, vôlei, basquete… Sempre pratiquei muitos esportes, sempre tive muita facilidade, coordenação motora, tenho um físico que me favorecia a praticar, e ela é igual. Vivendo muito o esporte como diversão, como profissão, acho que passei muito isso para ela também”, comenta.

Rebeca foi um dos motivos que mantiveram Fred nas quadras por mais tempo. Era a filha quem pedia para que ele não parasse de jogar, por isso “tomar a decisão de parar foi um momento muito difícil”.

“A gente sabe que é uma profissão que tem tempo pré-determinado para acabar. Sempre me preparei mentalmente, mas quando chega o momento de você parar uma coisa que você ama e tem o dom é realmente difícil. Minha filha me pedia e com isso ainda tentei estender um pouco mais, mesmo sabendo que já estava no limite. Foi bem emocionante para mim, saber o quanto ela gostava de me ver jogar, de ter um pai atleta. Como o esporte traz coisas boas, sentimentos bons e ensinamentos para as pessoas. Isso tudo eu tentei passar para ela”, afirma.

Já fora das quadras, mas ainda sem a validação do Conselho Regional de Educação Física (CREF), Fred entrou como estagiário na equipe técnica do Flamengo até a formação.

“O treinador do profissional, o Gustavo [de Conti], me dava bastante abertura para fazer os trabalhos que eu faço hoje, de habilidade, melhoria dos fundamentos dos atletas. Todo mundo sempre me respeitou muito pela minha carreira como profissional”, conta.

Assim que garantiu o diploma da graduação, no início deste ano, Fred foi contratado como treinador e assumiu as categorias sub-16 e sub-17, além da função de treinador de habilidades na equipe profissional. Agora, também é responsável pelas equipes sub-15 e sub-18 da modalidade 3×3 que o Flamengo possui.

“O sentimento de ser treinador é muito legal, muito gratificante ver a evolução dos atletas. Conseguir dar um sentido de coletividade, de vida, de sociedade. Principalmente aqui no Brasil, a gente não dá a importância necessária para o esporte, porque o esporte ensina muito por outros meios, outros métodos. Acho que a principal função do treinador é formar pessoas em primeiro lugar. Não só atletas, mas homens e mulheres para serem melhores pessoas e seguir nesse objetivo que eu acho que é o principal da humanidade, de a gente ser uma sociedade melhor, mais respeitosa, mais unida”, salienta o profissional.

Fred não deixa de lado o crescimento e a evolução dos atletas. Ele cita a satisfação que é ver terem mais oportunidade, se tornarem profissionais e evoluírem enquanto equipe, “um sentimento muito legal como coletivo”. É esse o espírito que ele também leva agora, com a convocação para o cargo de treinador de desenvolvimento da seleção brasileira masculina de basquete, que disputa as eliminatórias para a Copa do Mundo e a AmeriCup Recife 2022.

“Fiquei realmente muito honrado, muito feliz. Representar o seu país acho que é o auge que você pode chegar. No sentido de que é o máximo. Não que você não possa melhorar mais ainda, acho que sempre tem coisas para melhorar, mas realmente é uma coisa muito honrosa para mim”, garante o treinador.

O profissional também atua como treinador de habilidades em sua própria empresa, a Nine Skills, exclusiva para o treinamento individual e coletivo, “visando à melhora dos atletas em todos os fundamentos do basquete”, uma iniciativa que Fred já planejava antes mesmo de parar de jogar.

Destaque na graduação

Fred uniu a experiência de quase três décadas como jogador com a teoria da graduação para se aprofundar em questões que já observava na prática. É o caso de uma mudança relativamente recente que vem acontecendo no basquete: o aumento do arremesso de três pontos. Da vontade de pesquisar e apresentar o tema de forma científica para as pessoas, principalmente quem não tem tanto contato com o esporte, surgiu o trabalho de conclusão de curso (TCC) “O aumento no volume de arremessos de 3 pontos das equipes de basquetebol no século XXI”.

O profissional explica que um dos principais fatores são as estatísticas avançadas que se têm hoje em dia. Atualmente, existe um estudo muito mais científico por dentro do esporte, com números e fórmulas, na busca por uma melhor performance e desempenho, tanto no individual quanto no coletivo.

“É uma mudança muito importante no jogo, achei que merecia uma ênfase. Pesquisei referenciais teóricos sobre estatísticas avançadas, livros estatísticos americanos principalmente. Nos Estados Unidos, acho que eles já têm isso muito mais claro na cabeça deles, então foi muito legal. Pesquisei estatísticas sobre vários campeonatos diferentes, comparei anos diferentes, o início da linha de três pontos no basquete, como se deu essa evolução dos arremessos de fora, de longa distância e de três pontos, desde o início para tentar entender melhor como vem se dando essa transformação que agora se acelerou”, explica.

O egresso publicou o trabalho no Caderno Intersaberes sobre Competências, tecnologia e Inovação. Fred também apresentou a pesquisa durante o 13º Seminário Multidisciplinar: Linguagens Cultural e Corporal. Leia o artigo neste link e assista ao evento clicando aqui.

Fred conta que todo o trabalho também ajudou no entendimento e na evolução dos ensinamentos que transmite tanto para os times quanto para os jogadores individualmente. E acrescenta que, com a graduação “as questões teóricas, em conjunto com a experiência que tive como atleta, me ajudou a ter mais segurança e mais oportunidades nessa nova carreira que tenho agora”.

Para o futuro, a intenção é fazer uma licenciatura para ter as duas possibilidades da Educação Física e realizar algum curso mais específico para o basquete. Fred também não descarta a possibilidade de um trabalho fora do país, mas acredita que ainda tem muito o que fazer aqui no Brasil, com as equipes do Flamengo.

“Os planos são dar sequência e me aprimorar cada vez mais para conseguir ajudar mais ainda os atletas”, finaliza.

O atleta salienta e agradece a importância do apoio que sempre recebeu dos pais e das irmãs mais novas, Fabiana e Marina, em tudo o que fez.

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Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski


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