Varíola dos macacos: o que é, contaminação, sintomas e prevenção

Autor: Willian Barbosa Sales (*)

Você já sabe o que é um Spillover? Também conhecido como transbordamento zoonótico ou transbordamento interespecífico, ocorre quando possíveis mudanças nas características de uma doença podem fazer a transição de sua transmissão que antes era exclusiva em animais silvestres, passando a circular também em seres humanos por transmissão comunitária. Eventos de Spillover estão ocorrendo com maior frequência no mundo contemporâneo, à medida que a saúde ambiental entra em colapso com o avançar crescente e desordenado de grandes centros urbanos em direção a ambientes silvestres, ou seja, aproximando animais silvestres de humanos.

A varíola dos macacos é uma zoonose silvestre que possui incidência em regiões de floresta da África Central e Ocidental. Ela foi descoberta em 1958 e, em 1970, o primeiro caso em humano da varíola dos macacos foi registrado na República Democrática do Congo. Contudo, em 2017, após aproximadamente 40 anos sem casos relatados, um Spillover acontece. Desde então, 450 casos foram relatados na África e vários casos estão sendo relatados ao redor do mundo nas últimas semanas como Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

A varíola dos macacos tem despertado os olhares da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Essa doença é causada pelo vírus pertencente à família dos ortopoxvírus, sendo divididos em dois grupos: varíola dos macacos da África Ocidental com taxa de mortalidade de 1% e a varíola dos macacos da África Central especificamente da Bacia do Congo com taxa de mortalidade que pode chegar a 10%.

A contaminação pode ocorrer pelo contato com gotículas exaladas por alguém infectado que pode ser humano ou animal, ou pelo contato com lesões na pele causadas pela doença ou por materiais contaminados. Os principais sintomas relatados são febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão. Contudo, lesões na pele se desenvolvem primeiramente na face e depois se espalham pelo corpo chegando aos órgãos genitais. O período de incubação é de aproximadamente 13 dias podendo variar entre indivíduos de cinco a 21 dias.

A prevenção está relacionada a evitar o contato com animais doentes, tanto vivos quanto mortos que possam estar abrigando o vírus da varíola dos macacos. Isso não inclui somente os macacos, ou seja, roedores e marsupiais e espécies de primatas. É de extrema importância não comer e manusear carnes oriundas da caça silvestre. Higienizar as mãos, evitar contato com pessoas infectadas e não utilizar objetos desses indivíduos. A vacina MVA-BN e o medicamento tecovirimat foram aprovados para varíola em 2019 e 2022, contudo não estão disponíveis para toda população, por isso, a prevenção é a melhor forma de evitar a contaminação.

A Saúde Única vem desde seus primórdios, em 2004, alertando sobre a necessidade de pensar e agir de forma integrada com a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental, a fim de mitigar doenças de cunho zoonótico e consequentemente o Spillover. A saúde única é uma abordagem holística e interdisciplinar entre a tríade da saúde humana, animal e ambiental utilizada para prever e prevenir epidemias de doenças zoonóticas através do globo.

É muito importante, neste momento, a conscientização da população de que os macacos não são nossos inimigos, pelo contrário, eles são mais uma vítima do nosso antropocentrismo e da quebra da homeostase da Saúde Única. Os macacos são nossos animais sentinela, ou seja, estão nos avisando que estão ficando doentes e morrendo, e que o Spillover está acontecendo em virtude do avançar dos grandes centros urbanos para matas silvestres de forma desordenada. Ao encontrar um animal morto ou ferido não manipule, entre em contato com a vigilância sanitária do seu município, especificamente o setor de vigilância ambiental para  informações e notificação.

*Willian Barbosa Sales é biólogo, doutor em Saúde e Meio Ambiente (UNIVILLE), coordenador dos cursos de Pós-graduação área da saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: Willian Barbosa Sales (*)


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