Sem ruídos: qual a melhor comunicação em tempos de pandemia?

Autor: Barbara Carvalho - Jornalista

Há quem diga que no futuro retrataremos a história em duas épocas: a.c. e d.c. (antes e depois do coronavírus). As mudanças que começaram a acontecer na sociedade a partir de 2020, quando passamos a sofrer transformações em nível global causadas pela pandemia, são as mais diversas e vão desde áreas como economia, educação, e com certeza uma das áreas que mais entrou em destaque e mudou relações, foi a da comunicação.

Um exemplo dessa mudança são as tão famosas reuniões, pessoas que antes permaneciam presentes no mesmo espaço, deram lugar a uma conversa em frente às câmeras, com o auxílio de microfones e internet. O espaço online foi um grande aliado para que diversas atividades pudessem se manter na ativa, além de outras que precisaram se adaptar para que não sofressem prejuízos. As mídias sociais também se tornaram grandes aliadas a um momento onde o contato físico é proibido e as conversas só podem ser realizadas por meio das telas. Mas, com tantos atrativos positivos, não corremos o risco de não conseguir filtrar as informações que recebemos?

Em tempos caóticos, em que precisamos do esforço coletivo para resultados positivos, as ações realizadas pelo poder público a fim de levar a informação para a população devem ser realizadas da melhor maneira possível. “Comunicação em tempos de pandemia” foi o assunto do programa Diversos da Pós, da Rádio Uninter, no dia 18.mar.2021. Estavam presentes o coordenador das pós-graduações em Comunicação, Clóvis Teixeira Filho, o coordenador e professor dos cursos das pós-graduações na área da Saúde, Willian Sales, a professora do curso de Logística Cristiane Ripka e a professora do curso de Pedagogia Joice Diaz.

“Nem sempre a comunicação consegue, mas é muito importante isso da integração entre comunicação e técnicos especialistas da área, porque a linguagem precisa ser adequada, mas não pode transmitir uma informação errada, e tem que estar alinhada ao programa que está sendo proposto como política pública, pois isso não pode ser desalinhado”, indaga Clóvis, a respeito do trabalho que deve ser construído pela área de comunicação em conjunto com as autoridades da área da saúde.

Algumas campanhas realizadas a fim de promover a saúde pública quanto a alguma doença específica foram responsáveis por levar informação e manter a comunicação entre população e autoridades da saúde. De acordo com Clóvis, um grande exemplo são as campanhas contra o HIV e a Aids. Segundo ele, houve três grandes momentos para que a campanha da Aids surtisse eficácia, o primeiro deles foi a quebra de patente referente aos medicamentos utilizados no tratamento da doença. O segundo momento foi início da distribuição gratuita destes medicamentos, e o terceiro diz respeito às ações de prevenção.

“São três pontos importantes: primeiro a quebra de patente trabalhando com a indústria farmacêutica, depois a questão da distribuição de medicamentos e depois a prevenção. E a comunicação de certa forma trabalhou muito estes três pontos, muito focado no uso de preservativo num momento inicial, mas depois tentou também outras estratégias, umas bem-sucedidas e outras nem tanto”, relata.

De acordo com Willian Sales, é essencial que especialistas da saúde trabalhem em conjunto com os profissionais da comunicação, no intuito de abordar questões científicas de maneira simples e objetiva. “As coisas têm que ficar mais esclarecidas para a população no sentido do que é o certo a se fazer no momento, quais as opções que existem, entre outras”, diz. “Hoje temos programas de TV com grandes cientistas falando em termos que a grande maioria da população não entende, e nisso temos grandes ruídos acontecendo. Precisamos simplificar isso, dar as mãos para o pessoal da comunicação, trabalhar junto para passar a informação de uma forma translúcida”.

Cases de sucesso

Com certeza você já teve ter ouvido falar sobre o Zé Gotinha, mas, você sabia que o nome do personagem foi definido por meio do voto popular? Criado em 1986 pelo artista plástico Darlan Rosa, a pedido do Ministério da Saúde, ele nasceu com o objetivo de tornar a vacinação contra a poliomielite mais atrativa para as crianças, e o seu nome foi escolhido através de um concurso realizado nas escolas públicas de todo o país. A campanha foi um sucesso e a poliomielite foi erradicada no Brasil no ano de 1994. O sucesso do Zé Gotinha fez com que o mesmo se tornasse símbolo do Plano Nacional de Imunização (PNI).

“Os nossos signos, sejam eles mascotes ou não, crescem e não ficam estagnados no passado, esses signos são crescentes. Visto a importância do Zé Gotinha para a saúde no Brasil, na pandemia atual, por falta de uma comunicação melhor, pegamos o maior símbolo da vacinação nacional. Mas a comunicação não resolve tudo, ela precisa estar entrelaçada a outros signos que também comunicam”, alerta Clóvis.

A comunicação em outras áreas

E não foi só a na área da saúde que uma boa comunicação se tornou fundamental após o início da pandemia. A comunicação mercadológica entrou em uma nova era, quando as telas dos computadores e smartphones fazem a intermediação do aqui e agora. O fato de não poder realizar as compras pessoalmente causou o maior crescimento do e-commerce visto nos últimos 20 anos. Compras online, independentemente do produto, passaram a ser frequentes, uma rotina que se tornou possível graças as novas táticas de comunicação e adaptações que o mercado adotou.

“Na questão mercadológica temos algumas pesquisas já feitas para saber o quanto de dinheiro isso remete. O Google, por exemplo, é um canal que já fez pesquisa sobre a pandemia. Também tivemos uma diminuição da renda durante a pandemia, seja por desemprego ou por diminuição da carga de trabalho, e isso fez surgir uma preocupação com as marcas no sentido não só do consumo do produto, mas também atribuindo a elas relevância em assuntos importantes para a sociedade, como violência doméstica e racismo, por exemplo. Então, a percepção da marca e os setores da sociedade mostraram que esses setores são responsáveis por outras demandas sociais e não só a comercialização de produtos”, explica Clóvis.

O grande aumento no número de vendas realizadas pela internet gerou impacto em todos os setores que envolvem a ação desde o momento da compra até a entrega do produto na casa do consumidor. A área de logística precisou se adaptar a este novo momento e a comunicação se tornou primordial para que este trabalho fosse realizado com excelência. “A comunicação na logística já é importante para que todo processo aconteça da forma correta, e nós vimos que a comunicação nas redes sociais, por exemplo, fez com que muitas empresas não fechassem suas lojas, pois passaram a ofertar o seu produto nas redes sociais e outras que descobriram um nicho de mercado através das comunicações nas redes sociais”, comenta Cristiane Ripka.

A edição completa do programa está disponível no site da Rádio Uninter e também nos canais do Youtube e Facebook.

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Autor: Barbara Carvalho - Jornalista
Edição: Mauri König


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