O que são os ODS e como a pandemia de coronavírus atrapalhou os planos mundiais

Autor: Augusto Lima da Silveira e Ivana Maria Saes Busato*

Quando pensamos na existência humana no planeta, devemos considerar que cada pessoa necessita de condições mínimas para sobreviver com dignidade. A evolução humana, a partir do desenvolvimento de tecnologias e da exploração de recursos, trouxe ampla capacidade de modificar o nosso meio e atender padrões de vida nunca antes imaginados para a nossa espécie. Nesse cenário, entretanto, ficam a cada dia mais evidentes as desigualdades entre pessoas e também entre comunidades no alcance do atendimento dessas necessidades humanas básicas.

Existir em um planeta com mais de sete bilhões de habitantes, tendo as necessidades básicas atendidas, é um grande desafio, que necessita de articulação entre todas as nações. Considerando de maneira geral as desigualdades, bem como a disponibilidade de recursos naturais, foram propostos objetivos mundiais. Inicialmente, fundamentados em oito princípios: os ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio), propostos no ano 2000 trouxeram a discussão mundial para temáticas como a fome, erradicação da pobreza, igualdade de gênero, com metas a serem cumpridas até o ano de 2015.

Questões como o combate à fome apresentaram avanços significativos, entretanto, a falta de comprometimento de instâncias locais foi decisiva para que os resultados ficassem muito abaixo das metas estabelecidas. Após avaliação das metas atingidas e não alcançadas, os países signatários da Organização das Nações Unidas repensaram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

A partir dos resultados obtidos com os ODM, novos objetivos foram discutidos em 2015 na sede da ONU em Nova Iorque. A reestruturação trouxe objetivos mais específicos para a promoção de um desenvolvimento que fosse capaz de atender as necessidades humanas e ao mesmo tempo pensasse nos recursos naturais. Na nova configuração, as iniciativas globais passam a ser conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contendo 17 questões prioritárias com um total de 169 metas a serem cumpridas pelas nações até o ano de 2030.

Os ODS estão ancorados na necessidade de discutir globalmente temáticas relacionadas à biosfera, sociedade e economia. Questões como erradicação da pobreza, combate à fome e igualdade de gênero retornam à pauta de forma ainda mais abrangente. Além disso são incluídas também as questões sobre paz e prosperidade, que estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das nações, mas que não foram diretamente tratadas pelos ODM. Os pilares que sustentam essas diretrizes mundiais estão fundamentados no enfrentamento de problemáticas relativas às pessoas, ao planeta, à prosperidade, à paz e parcerias.

Neste momento, restando aproximadamente dez anos para que as metas propostas sejam alcançadas pelas nações, o mundo enfrenta uma das piores crises com a pandemia de coronavírus. Como ficam os ODS nesse cenário? Em um relatório recente publicado pela ONU, há uma abordagem sobre a preocupação relativa ao desenvolvimento sustentável, considerando a pandemia.

A profunda crise econômica terá reflexos no alcance das metas, o que será possível entender somente com a avaliação dos indicadores obtidos nos anos pós-pandemia. O que é possível avaliar até o momento é que, mesmo antes do contexto da pandemia já estávamos distantes das metas propostas. Os autores Sachs et al (2020), na publicação, Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Covid-19 [The Sustainable Development Goals and Covid-19] fazem uma análise do impacto em todos os 17 objetivos, destacamos o ODS3 Saúde e bem-estar, em que os autores avaliaram ter impacto altamente negativo com: maior incidência de doenças e mortalidade da Covid 19; maior mortalidade por outras causas devido à sobrecarga dos sistemas de saúde; ligeiro declínio na mortalidade devido à redução das atividades econômicas e sociais (por exemplo, acidentes de trânsito); potenciais ganhos de saúde a curto prazo devido à redução da poluição ambiental; e impacto negativo do confinamento.

É preciso um novo pensar a respeito dos acordos mundiais para minimizar os efeitos da pandemia e acelerar o percurso em busca do que foi proposto nos ODS. Isso significa levar saúde, igualdade e condições para a prosperidade à toda população, mesmo em um contexto adverso. Significa permitir que as pessoas que habitam o planeta tenham condições de suprir pelo menos o básico das suas necessidades e que os recursos naturais, que são bens públicos, estejam disponíveis a todos de forma igualitária, permitindo a perpetuação da vida no planeta. Sim, é um grande desafio, mas todo grande desafio só é solucionado quando há esforços coletivos para pensar em novas formas de realizar ações. Já não podemos nos contentar com o atual modelo, pois ele já deu claras evidências de que não está funcionando como deveria.

* Augusto Lima da Silveira é coordenador dos cursos Saneamento Ambiental e Gestão de Vigilância em Saúde da Uninter e doutorando em Ecologia e Conservação. Ivana Maria Saes Busato é coordenadora dos cursos Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública da Uninter, doutora em Odontologia com experiência profissional em saúde pública.

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Autor: Augusto Lima da Silveira e Ivana Maria Saes Busato*
Créditos do Fotógrafo: Wilfredor/Wikimedia Commons


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