George Floyd: o racismo não é invencível

Autor: Adriano Lima e Cícero Manoel Bezerra*

Na cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de maio de 2020, assistimos mais um triste e vergonhoso capítulo da violência policial contra um homem negro. A morte de George Floyd demonstra, de um lado, a face cruel, abjeta e desumana do racismo; do outro, a violência impetuosa de Derek Chauvin, um policial desprezível que é capaz de pisar no pescoço de um homem negro até levá-lo à morte.

Derek não tem estatura moral para o cargo. É um policial baixo demais até para os padrões da baixeza. E ainda: ele é a soma de tudo que pode haver de pior e mais baixo para pessoa investida com a autoridade de representar o estado de acordo com a lei e a ordem. Não generalizando ao ponto de dizer que todos policiais agem dessa forma, temos homens e mulheres que exercem essa profissão de forma digna e honrada.

Nesse texto, faremos um brevíssimo panorama histórico da questão racial nos Estados Unidos, posteriormente colocando a situação frente à legislação internacional e, por fim, destacar que devemos seguir na luta pela efetivação dos direitos humanos dos negros.

A Lei dos Direitos Civis de 1875 proibiu a segregação racial. Não obstante, a supremacia branca sempre foi obstáculo para a efetiva implementação dessa lei, e por esse motivo, a discriminação e a segregação (ainda que de forma velada) vem ocorrendo há séculos, nas Américas. Desde os grupos paramilitares como a Ku Klux Klan, a ideologia da supremacia branca tem produzido violência sistematizada contra negros.

Sabe-se que essa violência foi praticada por diversas vezes sob o amparo da lei. No sul dos Estados Unidos, a partir de 1876, aprovaram-se leis de segregação em escolas, transportes públicos, locais públicos, restaurantes, hotéis, teatros e em todos os locais da esfera pública. Tais leis foram legitimadas pelo poder executivo e pela Suprema Corte norte-americana, no caso Plessy v. Fergusson.

Sim, foram aprovadas leis de segregação, que institucionalizaram a doutrina “separados, mas iguais”. A população negra ficou privada de direitos fundamentais básicos, essenciais para a existência humana. Nesse triste e lamentável contexto, o negro não era reconhecido como pessoa humana, uma vez que nem mesmo tinha direito ao voto.

Não era suficiente privá-los de educação, saúde, reconhecimento, direito ao voto e às questões fundamentais para a vida. A violência aos negros não conhecia limites. Os brancos praticavam à luz do dia, sem peso na consciência, linchamento público, já no século XIX. A diferença para o século XXI? É que agora a violência é filmada e transmitida ao vivo. O desprezo, a crueldade e a desumanização são traços que marcam a vida dos negros há centenas de anos naquele grande e próspero país.

A luta contra as leis de segregação foi intensa, duradoura e corajosa. Associações e movimentos, além de personagens importantes, como Martin Luther King, lutaram incansavelmente para que tais leis fossem revogadas e eliminadas da legislação. Apenas no ano de 1954 é que a Suprema Corte americana reconheceu que segregação em escolas públicas era incompatível com a Constituição.

Contra a vontade dos brancos do Sul, a Lei dos Direitos Civis de 1964 foi implementada e deu continuidade a dessegregação, seguida pelo direito ao voto, em 1965. Evidentemente, trata- se de uma relevante conquista, se considerarmos o fato de que o racismo, embora continuasse presente, não tinha agora o apoio da Lei. Havia ainda muito caminho a ser percorrido. A luta estava apenas começando.

A Declaração de 1948 é fundamento básico e influente na luta contra o racismo. Já no ano de 1965, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial.

Essa convenção tem enfatizado, desde o seu preâmbulo que “qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, inexistindo justificativa plausível para discriminação racial”.

Nós os seres humanos, vencemos muitas batalhas que pareciam invencíveis. Vencemos as leis de segregação, os regimes totalitários, as depressões econômicas, a inquisição. O racismo não é invencível. Não devemos subestimar o longo caminho percorrido. Precisamos continuar resistindo e lutando, com força e determinação, a fim de alcançarmos os padrões de igualdade e justiça, essenciais para uma sociedade democrática e para a promoção da dignidade humana.

No dia 28 de agosto de 1963, em Washington, no famoso discurso “Eu tenho um Sonho”, Martin Luther King afirmou: “Não haverá descanso nem tranquilidade na América enquanto ao negro não forem concedidos seus direitos de cidadão. Os turbilhões da revolta continuarão a abalar os alicerces do nosso país até emergir o dia luminoso da justiça”.

Cabe a nós brasileiros prezarmos pela liberdade e a igualdade entre raças e cores que predominam e caracterizam nosso povo, o ir e vir, a liberdade de dizer e ser, a forma amiga e cordial onde convivem negros e brancos deve ser a marca principal da nação brasileira.

“Vidas negras importam”

* Adriano Lima é professor da Uninter e Cícero Manoel Bezerra é coordenador dos cursos da área de Humanidades da Uninter.

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Autor: Adriano Lima e Cícero Manoel Bezerra*
Créditos do Fotógrafo: Leonhard Lenz/Wikimedia Commons


1 thought on “George Floyd: o racismo não é invencível

  1. Ótimo artigo professor. Eu entendo o anseio que a humanidade tem por igualdade. Mas será que a igualdade não passou á ser ameaçada a partir do momento que passamos a utilizar os termos “brancos” e “negros”?

    Quero usar um exemplo curioso registrado nas sagradas Escrituras. Em Gênesis, capitulo 3, quando a serpente perguntou para Eva porque ela não poderia comer do fruto proibido, a mulher disse que se ela comesse, então morreria. A serpente respondeu: “É certo que não morrereis. Porque no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus” (Gn 3:4,5). Todos nós sabemos que o ser humano já havia sido criado á imagem de Deus – como Deus. Mas, ao prometer para a mulher algo que ela já possuía, a serpente produziu nela a segregação da sua identidade. Assim, a mulher internalizou a ideia de que ela ainda não era como Deus e, portanto, precisava ser.

    Eu penso que essa ideia de busca por igualdade é muito semelhante ao engano da serpente. Todos nós somos iguais. A promoção das diferenças acontece a partir do momento que as apontamos. Foi como Morgan Freeman (ator negro) disse á uma repórter que lhe perguntou o que fazer para lidar com o racismo na América. Ele respondeu: “Parar de falar nisso!”

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