A recuperação do rendimento domiciliar e a redução de desigualdades

Autor: Olívia Ribeiro (*)

Em 2022, o rendimento domiciliar per capita no Brasil demonstrou sinais de melhoria, impulsionado pela recuperação do mercado de trabalho e pela concessão do Auxílio Brasil – programa social implementado em 2022, com auxílio inicial no valor de R$ 400,00 e depois ampliado no segundo semestre para R$ 600,00. Isso se reflete em uma melhora nas condições de vida da população brasileira, principalmente nos extratos mais pobres.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a taxa média de desemprego no Brasil fechou 2022 em 9,3%, após atingir 13,2% em 2021, uma redução de 3,9 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Além disso, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita chegou a R$1.586, com alta de 6,9% frente a 2021, quando registrou o menor valor (R$ 1.484) da série histórica iniciada em 2012. Com isso, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita subiu 7,7% ante 2021, chegando a R$ 339,6 bilhões. (IBGE, 2023).

Um dos elementos observados, e que se destaca no rendimento domiciliar per capita em 2022, foi a melhoria nos rendimentos da população mais pobre. Para tanto, podemos sugerir que houve influências, tanto no que diz respeito à retomada do mercado de trabalho, com a geração de novas oportunidades e consequente elevação da oferta de empregos, quanto no que se refere à concessão do Auxílio Brasil, que também contribuiu para a recuperação dos rendimentos, fornecendo um suporte financeiro para as famílias de baixa renda.

Um outro elemento que pôde ser observado em 2022 foi a redução nos rendimentos da população mais rica. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento domiciliar per capita cresceu em quase toda a distribuição de 2021 para 2022, mas principalmente na primeira metade. Já o 1% com os maiores rendimentos teve pequena perda (-0,3%).

Esses elementos podem ser destacados a partir da constatação da redução da desigualdade de rendimentos no conjunto da população, indicado pelo Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita, que mede o grau de concentração de renda. Esse índice varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais perto de 0, mais igualitário é o sistema, enquanto os números próximos de 1 revelam maior concentração de renda e maior desigualdade. Para o conjunto da população, o índice foi de 0,544 em 2021 para 0,518 em 2022, enquanto o Índice de Gini do rendimento de todos os trabalhos que caiu de 0,499 em 2021 para 0,486 em 2022, ambos os menores da série histórica. (IBGE, 2023).

Apesar de ser considerada positiva, a redução no Índice de Gini, ainda reflete uma desigualdade elevada. Em 2022, o rendimento médio domiciliar per capita do 1% da população que ganha mais, era de R$ 17.447. Isso equivale a 32,5 vezes o rendimento médio dos 50% que ganham menos (R$ 537), uma desigualdade muito grande, ainda que, em 2021, essa razão fosse de 38,4 vezes.

Deste modo, torna-se essencial entender que analisar apenas a recuperação do rendimento domiciliar per capita não é suficiente para sugerirmos conclusões robustas acerca das complexidades das desigualdades sociais. Mesmo que a melhoria dos rendimentos da população mais pobre seja uma avanço extremamente relevante, é necessário levar em consideração que a desigualdade ainda persiste em nosso país.

Para garantir que a recuperação socioeconômica seja realmente inclusiva e duradoura, é fundamental que o poder público adote políticas públicas de longo prazo que apoiem uma redistribuição mais equitativa da riqueza, que invista na educação de base, na qualificação profissional e na garantia de que todos os grupos sociais tenham acesso a oportunidades.

Olívia Ribeiro é graduada em Graduação em Ciências Econômicas com doutorado em Administração. Tutora do Curso Superior de Bacharelado em Ciências Econômicas da Uninter. 

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Autor: Olívia Ribeiro (*)
Créditos do Fotógrafo: Alicia Nijdam/ Wikimedia Commons


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