Mercado de trabalho é mais desafiador para mulheres negras
Autor: Igor Horbach Carvalho - estagiário de jornalismo
“Muitos receberam aquela educação de que precisávamos tratar todo mundo igual, mas essa frase não funciona na prática”. Essa afirmação é da professora Cintya Santos, especialista em Gestão de Pessoas, durante o programa Momento Carreira do dia 10 de julho de 2017, transmitido pela TV Uninter.
Com as convidadas Andressa Ignácio, membro do Núcleo de Estudos Críticos sobre Branquitude, Racionalidade e Tecnologia, e Daise Rosas, especialista em Diversidade, Gestão de Negócios, Empreendedorismo feminino e Afro, o episódio trouxe um tema importante para os dias de hoje no mercado de trabalho: “Do diploma à ocupação: os desafios da desigualdade na empregabilidade”.
A conversa trouxe uma perspectiva importante sobre os diferentes marcadores da sociedade que dificultam ou potencializam candidatos em processos seletivos de emprego, que muitas vezes ignoram o currículo e, por consequência, o diploma que os candidatos possuem. Quando se trata de uma candidata mulher, negra e periférica, esses marcadores podem se tornar verdadeiras muralhas.
As convidadas levantam, então, o termo “interseccionalidade”, que nasce no ambiente acadêmico a partir da complexidade social. “Ele busca dar conta da maneira que diferentes marcadores de diferença se interrelacionam nos processos de desigualdade”, explica Andressa.
Ou seja, uma mulher negra passa por diferentes barreiras não apenas por ser mulher, mas também pela cor de sua pele. “Em certos momentos, o marcador principal que a levará a passar por certas situações será o fato dela ser mulher, em outros, o fato dela ser negra”, complementa a profissional.
Mas então, o conceito prescrito na Constituição Federal de 1988 que afirma que “todos são iguais” estaria errado? Andressa explica que há uma diferença entre a compreensão de igualdade no campo legal (isto é, jurídico) e no campo material. “Existe a letra da Lei, a construção teórica e filosófica e a ideia de igualdade, e existe a materialidade das relações”.
Assim, nasce a ideia da equidade, onde se adapta a realidade daqueles que possuem necessidades desiguais. “Uma coisa muito importante que esse conceito pressupõe é que isso não significa tirar nada de ninguém, apenas garantir que todos tenham acesso, o que o conceito de igualdade não consegue fazer”, explica Andressa sobre o ponto de partida importante para as discussões.
De acordo com Daise, 20 milhões de pessoas no país estão no mercado de trabalho informal, sendo que 79% são de pessoas negras. Dessa porcentagem, 64% correspondem a mulheres negras. “Como diz Cida Bento, dentro da sociedade existe o ‘pacto da branquitude’ e isso impede que pessoas negras participem de certos espaços, principalmente os de liderança. É limitado a apenas um ou outro”, afirma ao mostrar que apenas 4,7% de pessoas negras empregadas ocupam cargos de liderança no país atualmente.
O assunto aqui levantado ressalta que, por muitas vezes, durante os processos seletivos, os profissionais são excluídos não pela capacidade técnica, e sim por estar com marcadores. “Às vezes ela tem a capacidade, mas o fato de ter esses marcadores, incluindo o fato de ser negra, traz a interseccionalidade […] que pode inibir a possibilidade de ascensão de quem quer essa mobilidade social e buscou através do meio acadêmico”, explica Daise.
Contudo, o cenário para as empresas e profissionais de liderança tem mudado com o passar do tempo, e já se comprova o aumento na lucratividade das marcas que são mais diversas, como explica Andressa. “Muitos estudos da área administrativa apontam que a diversidade é um fator competitivo no mercado. A partir do momento que seu empreendimento contempla diferentes sujeitos […] você tem na sua organização múltiplos olhares sobre a realidade e a possibilidade de inovação e resolução de problema. […] Os estudos mostram que isso faz com que as empresas lucrem mais”.
Isso não significa, para as pesquisadoras, que há uma terceirização da culpa no mercado de trabalho, mas apenas uma compreensão do mito da meritocracia. Por isso, é importante “não entrar tão cegamente nesse mito de que todos vão chegar iguais tendo diploma”, completa.
Para finalizar o debate, as profissionais esclarecem que é importante não desistir do processo individual de aperfeiçoamento, que possibilita maneiras de se destacar no mercado. Cintya ainda destaca que cada indivíduo parte de um lugar diferente, o que não significa que uma vaga é “aberta para todos”.
“Se em uma vaga de gerente tem uma mulher negra e dois homens, eles já têm uma vantagem. Essa mulher tem marido, filho pendurado, casa para arrumar… só pela questão de gênero, a meritocracia não é exatamente isso que desenharam”, conclui a professora.
O programa Momento Carreira está disponível no canal da TV Uninter no Youtube.
Autor: Igor Horbach Carvalho - estagiário de jornalismoEdição: Larissa Drabeski
Revisão Textual: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube

Boa tarde! Por gentileza preciso trabalhar na psicopedagogia! Estou com muita dificuldae de encontrar uma vaga.
Grata! Eleusa Regina Alves Franco