Memorial para Dori, um homem de boas causas

Autor: Evandro Tosin - Assistente multimídia

O homem é eterno no legado que deixa. Dorival da Costa morreu no último dia 3.fev.2021, vítima de um câncer. “Dori”, como era chamado pelos amigos, deixa um legado de luta pelos direitos humanos e minorias sociais, e principalmente na defesa dos direitos da criança e do adolescente.  As relações de amizade ultrapassam as relações profissionais e também a brevidade da vida. Dorival era uma ebulição de ideias. Inquieto, esteve sempre à frente do tempo.

Um memorial para Dori

Neste último dia 05.fev.2021 foi realizada a homenagem “Memorial de qualificação simbólica do Professor Dorival da Costa” (para assistir, clique aqui), com participação do presidente e chanceler do Grupo Uninter, Wilson Picler, do diretor da Escola Superior de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter, Rodrigo Berté, além de estudantes e professores da Uninter e de outras instituições. A apresentação foi da professora do curso de Serviço Social da Uninter Cleci Elisa Albiero.

No início da homenagem, a professora-doutora Dirce Koga, da pós-graduação em Serviço Social da PUC-SP, orientadora do projeto de doutorado de Dorival, conduziu o memorial da trajetória acadêmica e os trabalhos de apresentação. A defesa da tese iria acontecer no dia 9.fev.2021.

“Desde que conheci Dorival, na entrevista para o seu ingresso de doutorado na PUC-SP, fiquei com impressão de que se tratava de alguém muito especial e que tinha muita pressa. Parecia que Dorival estava sempre vivendo intensamente, compartilhando várias experiências profissionais e acadêmicas, tudo ao mesmo tempo. Na sua trajetória, intensa, forte, comprometida, o outro estava em primeiro lugar. O doutorado sonhado estava em constante ebulição, praticamente pronto. Com pesquisas, análises, leituras, fichamentos, artigos, capítulos de livros”, disse Dirce Koga.

A homenagem também contou com a participação das professoras-doutoras Vanessa Machado (UEM), Eunice Fávero, Raquel Raichelis e Rosangela Dias Oliveira da Paz, todas da PUC-PR. Rosângela é coordenadora do Núcleo de Estudos em Movimentos Sociais (NEMOS), núcleo de estudos e pesquisa que o prof. Dorival frequentou ativamente por sua passagem no período de doutoramento na PUC-SP.

Vanessa destacou que o Memorial de Dorival representa os caminhos percorridos pela sua trajetória pessoal e profissional, e que a chegada do neto de Dori, Teodoro, foi sua plena felicidade. Ela lembrou, ainda, que 2020 foi uma trajetória quebrada tanto pela pandemia quanto pelo agravamento da doença do colega. O que se entrelaça com outras trajetórias quebradas de pessoas por quem ele tanto lutou, caso das crianças e adolescentes com seus direitos violados, ou em acolhimento institucional.

Durante a homenagem, foi exibido um vídeo do desembargador de Justiça do Paraná Rui Mugiati, como uma forma de reconhecimento pelos trabalhos realizados na sociedade e no incentivo à adoção de crianças e adolescentes. Dorival foi participante no Projeto de Extensão desenvolvido em parceria entre o Tribunal de Justiça do Paraná e o curso de Serviço Social da Uninter com “Pretendentes à adoção”, além da sua parceria com Rodrigo Berté no programa de Justiça Restaurativa em Fazenda Rio Grande (PR).

As homenagens incluíram ainda familiares de Dorival, a professora e coordenadora-adjunta do curso de Serviço Social da Uninter, Adriane Baglioli, e as professoras da Uninter Neiva Silvana Hack e Desiré Luciane Dominschek Lima. A ex-governadora do Paraná, Cida Borghetti, também deixou suas palavras de admiração, respeito e carinho por Dorival.

Uma tempestade diária de boas ideias

Dorival costumava chegar na sala de Rodrigo Berté toda vez com um caderno cheio de anotações. Eram três ou quatro páginas escritas com ideias ou pedidos, que ele lia um a um. O grande desejo de Dorival sempre foi ter uma nota máxima para o curso de Serviço Social, e ele conseguiu, em 2019, na avaliação do MEC (Ministério da Educação) a nota cinco tanto na modalidade presencial quanto na modalidade de educação a distância.

“O Dorival era uma tempestade diária. Quando vinha na minha sala, ele falava: ‘professor, tenho alguns pedidos para fazer’. Eu levava um susto. Ele começava a fazer todos os pedidos. ‘Temos que fazer isso, eu vi isso em São Paulo, temos que implantar aqui na Uninter’. Eram muitos pedidos e nem sempre a gente conseguia atender. Ele queria, era o seu grande desejo, que o curso de Serviço Social da Uninter fosse um dos melhores do Brasil, e foi o que aconteceu. Tanto é que, nas visitas do MEC, tivemos a nota 5 na avaliação. Aí ele dizia: ‘cinco mais cinco é dez, nós somos 10!’ Vejam a alegria que ele tinha”, lembra Berté.

O percurso acadêmico de Dori

Dorival tinha 60 anos e era natural de Floraí, no Noroeste do Paraná. Sua trajetória acadêmica começou no curso de Teologia no Seminário Presbiteriano do Sul, entre 1980 e 1983. Concluiu em 1993 um aperfeiçoamento em pedagogia religiosa pelo Centro de Treinamento do Magistério (Cetepar). Logo, fez graduação em Serviço Social pela Faculdades Integradas Espírita, concluído em 2001.

Depois, finalizou em 2005 o Mestrado em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Em 2007, deu início a seu doutorado em Serviço Social, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A defesa da tese estava marcada para o dia 9.fev.2021. Com o agravamento da doença, ele não pôde concluir a pesquisa.

Dorival estava vinculado ao grupo de estudos e pesquisa “Trabalho, Educação e Sociedade”, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação do Mestrado Profissional da Uninter. Também era editor-chefe da revista Humanidades, uma das publicações científicas da instituição. A pesquisa foi uma das paixões de Dori e ele sempre incentivou os alunos. Participou da Comissão Organizadora do 33º Congresso Brasileiro de Serviço Social, bem como das comissões organizadoras e científicas de diversos Congressos Paranaenses de Serviço Social.

Ele também trabalhou na defesa da formação e exercício profissional e do projeto ético-político do Serviço Social. Atuou no Conselho Regional de Serviço Social, CRESS 11ª Região/PR, com destacada atuação nas comissões de Ética, Instrução dos Processos Éticos, e da Criança e do Adolescente.  Além disso, dedicou-se por 12 anos à consultoria, assessoria e qualificação profissional e institucional no Centro de Estudos e Projetos em Educação, Cidadania e Desenvolvimento Profissional (CEDEPS).

Dori também tinha ampla experiência na área de consultoria e assessoria em política públicas, nas áreas de serviço social, conselho tutelar, formação profissional, política da área da infância e adolescentes em conflito com a lei.

O desafio de criar um curso inovador

Em 2014, uma missão especial foi dada a Dorival: desenvolver o curso de Serviço Social. Dori iniciou estudos preliminares, conversou com professores, pediu contribuições e seguiu adiante. Em fevereiro de 2015, foi iniciada a primeira turma na modalidade presencial da instituição. E em agosto do mesmo ano, o curso passou a ser ofertado na modalidade de educação a distância. Ele contava com uma equipe de profissionais competentes, responsáveis e qualificados, e sempre superava os desafios colocados para o desenvolvimento do curso.

Uma das profissionais a quem recorria com frequência era a professora Áurea Bastos Davet, uma das parceiras na criação do projeto pedagógico do curso de Serviço Social. “Quando ele dizia assim ‘me ajude a pensar sobre isso’, ele já tinha organizado, pensado, e certamente envolvido a gente”, lembra Áurea.

A nova proposta era a de implantação de um curso a distância. Os desafios vieram, a necessidade de rompimento de paradigmas, e também possibilidades de muitos dados e experiências. Para Áurea, Dorival tinha as habilidades de criar, agregar e ampliar. Sempre foi um trabalho realizado com muitas mãos, envolvendo os professores e demais integrantes da equipe.

“Ele ficava maravilhado com o movimento acadêmico. Sempre ativo, ele não parava. Não desligava. Tanto é que hoje, de um projeto de pesquisa, existem 12 projetos de pesquisa na Uninter. Deixou suas sementes e deram frutos. O ambiente acadêmico era a vida dele, era o oxigênio dele. Sempre acolhedor e amigo”, lembra Áurea.

Gisele Ransckoski Gomes e Isabella Chiara Terra, estudantes do curso de Serviço Social, também deixaram uma homenagem. Emocionada, Gisele destacou a importância do professor em sua formação acadêmica, participando da sua banca do trabalho de conclusão de curso, em dezembro de 2020. Isabella é assistente de operações acadêmicas no polo Carlos Gomes da Uninter, onde Dorival trabalhou. Ela lembrou do compromisso dele e da equipe de professores para formar assistentes sociais por todos os cantos do país, por meio da educação a distância.

O pesar e a homenagem de Wilson Picler

Em sua homenagem, o professor Wison Picler destacou o a importância de Dorival na área de atuação social e lamentou a perda: “Eu quero deixar aqui registrado minha justa homenagem ao professor Dorival da Costa. É com tristeza. É realmente uma perda lastimável. Nós estamos tristes. Mas existem também motivos para sentirmos alegria do trabalho que o professor Dorival deixou, não só para a nossa instituição, para a área de Serviço Social em todo o Brasil”, disse.

O chanceler da Uninter deu ênfase ao legado de Dorival: “Os alunos foram chegando e gostando da proposta que o Dorival desenhou e estava executando. Com apoio da instituição, o curso chegou a 5 mil alunos em todo o Brasil. Dorival conseguiu organizar e produzir com autores de destaque nacional 29 livros para dar suporte a essa proposta. Esses alunos recebem os livros físicos, muito bem elaborados, e isso tem sido um sucesso muito grande”.

“Deixou com certeza um legado para a educação superior, em especial a para educação a distância nesta área de Serviço Social. Dorival parte como um ícone. Dorival, obrigado por ter nos ajudado na Uninter, obrigado pelo seu profissionalismo, por seu empenho, sua seriedade, e sobretudo competência, descanse em paz”, concluiu Picler.

Frases de Dori

Para deixar na lembrança algumas das mensagens de Dorival, o memorial destacou frases marcantes da sua vida.

Sobre a academia: “A academia sempre é um caminho especial em minha vida, sobre a qual tenho a oportunidade de edificar e consolidar os princípios e fundamentos da profissão que escolhi: ser assistente social. Mas como assistente social e professor as experiências e possibilidades se alargam quando se trata da identidade do Serviço Social, da valorização do assistente social em seus espaços de trabalho”.

Sobre inovação e desafios na área do Serviço Social: “Exige que cada dia na vida do aluno, na academia, seja um tempo de aprender, de questionar, de ter liberdade de se expressar e com isso entender e assumir uma profissão que tanto tem realizado e que terá ainda muitos debates e trabalho pela frente. Ainda mais considerando esse tempo vivido de retrocessos, de desrespeito ao humano, de violências, de obscurantismos. Mas também, de possibilidades e de necessidades de resistências e reconstruções”.

Sobre o nascimento do neto: “A mais plena felicidade vivida recentemente é chamada de Teodoro, a quem acolho como a minha chama de esperança, por um mundo em que todas as crianças sejam igualmente acolhidas, é a vida que segue cumprindo o seu destino e eu me sinto completamente feliz”.

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Autor: Evandro Tosin - Assistente multimídia
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


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