Em evento da Abej, reitor da Uninter debate a educação a distância

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Há hoje, em todo o Brasil, 31 cursos de Jornalismo ofertados na modalidade educação a distância. A Uninter foi a pioneira da área, sendo a primeira instituição a lançar a formação jornalística na modalidade, em 2017. Desde então, ocorreu uma expansão significativa tanto na oferta de cursos quanto de vagas disponíveis. Esse crescimento acelerado coloca muitas questões em discussão.

O professor Marcelo Bronosky, presidente da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (Abej), apontou o acompanhamento e supervisão das atividades práticas dos estudantes como uma das maiores preocupações. Outro ponto destacado por ele é “se as instituições não estariam muito mais preocupadas em gerar recursos econômicos a partir da transformação dessas vagas em commodities”. O profissional afirma que é preciso problematizar essas questões para tirar delas o que é “efetivamente realizado e o que é mito ou preconceito sobre esse formato”.

Sendo assim, a Abej realizou um evento promoveu um debate sobre a questão com as presenças de Benhur Gaio, reitor da Uninter, e da professora Katia Alonso, que é mestre em educação e atua na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Intitulada O modelo de EAD na formação superior no Brasil: dilemas e recuos, a live foi transmitida através do Facebook e Youtube.

Benhur conta que os primeiros cursos da instituição, no começo dos anos 2000, tinham um modelo de transmissões ao vivo, por meio de satélites. Os alunos frequentavam salas de aulas tradicionais uma vez por semana. Para isso eram utilizadas telesalas, que se transformaram no que se conhece hoje por polos de apoio presencial. Apoiando-se em modelos desenvolvidos na Espanha, buscava-se uma estrutura com qualidade que pudesse chegar aos lugares mais distantes.

Com o passar do tempo, os cursos foram se consolidando, visando, acima de tudo, a qualidade. Os resultados aparecem nas avaliações de reconhecimento dos cursos feitas pelo MEC. Segundo o reitor, isso se dá pela organização, qualificação docente, a tecnologia desenvolvida e, principalmente, pela acessibilidade.

“É você ter um ambiente virtual de aprendizagem, o corpo docente qualificado e comprometido com a qualidade na educação a distância, além dos materiais didáticos e o processo avaliativo. Com esse tripé de sustentação da EAD, pelo menos no nosso modelo, nós conseguimos atingir níveis elevados de qualidade. Tanto é que nos últimos seis, sete anos de Enade nós conseguimos cinco primeiros lugares no Brasil em cinco cursos diferentes, de áreas diferentes”, destaca Benhur.

Especificamente no curso de Jornalismo, Benhur diz que a principal preocupação ao implementar a graduação a distância eram “as atividades práticas desde o começo do curso”. Para isso, foi desenvolvido um modelo de laboratório portátil individual para que os estudantes possam desenvolver seus trabalhos de qualquer ambiente.

“Nós temos obviamente televisão, rádio, que nos trazem situações de jornalistas no dia a dia, mas a essência do trabalho do jornalista é trabalhar a distância, é ser autônomo, é ter recursos disponíveis para o exercício da sua profissão onde quer que esteja”, salienta.

Além de poder contar com gravador, câmera full hd, tripé, entre outros equipamentos do laboratório portátil, os estudantes ainda recebem uma assinatura com todos os programas Adobe durante a formação.

“Hoje nós somos o maior comprador de assinaturas individuais no Brasil. Nós trouxemos esses recursos e disponibilizamos para os alunos com a grande preocupação justamente do desempenho na sua profissão, com a maior independência possível”, completa Benhur.

O reitor ainda ressalta que recursos financeiros não são o objetivo, já que o curso não é um dos que mais dá resultados para a instituição. “Mas traz resultados de posicionamentos estratégicos em áreas que são relevantes. Porque nós temos um padrão a zelar, de material didático, de professor qualificado, de sustentação deste modelo por meio de um ambiente virtual que tem todo um conjunto de tecnologias para que o nosso aluno tenha a melhor qualificação”.

Educação a distância no Brasil

De acordo com a professora Katia, a ideia de educação a distância no Brasil surge ligada à melhoria da formação, principalmente dos profissionais de educação. Em 1998 se dá a primeira regulamentação para propostas de sistemas de EAD. O credenciamento passava pelo Ministério da Educação (MEC) e as instituições precisavam já possuir cursos presenciais reconhecidos naquela área.

Em 2005 é implementado o Universidade Aberta do Brasil (UAB) para instituições públicas, visando a formação de profissionais que atuam no ensino básico ou a continuidade para aqueles já graduados. No mesmo ano, surge a portaria 4.059 do MEC, que permite o uso de recursos tecnológicos em 20% da carga horária do ensino presencial.

“Agora, mais recentemente, nós temos uma nova regulamentação do final de 2018, que vai implementar a flexibilização em até 40% da educação superior no Brasil e também desvincula o credenciamento daquilo que eram os cursos presenciais. As instituições, independentemente de terem cursos presenciais regulamentados ou autorizados, vão poder pedir o credenciamento para a educação a distância”, explica Katia.

A profissional aponta que essa flexibilização abre espaço para ofertas aceleradas de vagas no ensino superior e, consequentemente, da educação a distância.

“A flexibilização vai permitir, mais do que nunca, esse caráter de mercadoria da educação que nós temos em nosso país nesse momento. Hoje, 80% das matrículas no ensino superior estão na mão de dez oligopólios educacionais. Eu acho que a Uninter é uma das únicas que ainda não está nesse contexto dos oligopólios. Elas estão indo todas para a bolsa de valores e se nós de fato chegarmos a compor a OCDE, a educação vai ser de fato venda de serviço”, ressalta.

Durante este período de pandemia, muito se falou sobre educação a distância, ensino remoto ou híbrido. Para Katia, o modelo que tem se desenvolvido nesse momento não se encaixa em nenhum dos três, ainda que o MEC junto com o Conselho Nacional de Ensino (CNE) tenham publicado portarias o definindo como EAD.

“Educação a distância, pela legislação brasileira, prescinde de uma série de estruturas, de equipes multiprofissionais. É necessário a gente ter aquilo que são os polos presenciais, as equipes multiprofissionais, as tecnologias, as bibliotecas, os laboratórios. Com a ideia de flexibilização, isso se rompe. Acho que é importante a gente ter em vista essa questão nesse momento”, pontua.

Segundo a docente, a grande questão da EAD está na contradição entre quantidade e qualidade. Ela cita cinco elementos fundamentais do processo educativo: continuidade, organização, planejamento, acompanhamento e avaliação. Pensando nesse conjunto, ela conclui que o modelo mais efetivo é aquele que possibilita diálogo e encontro.

“Trabalhando com as tecnologias da informação e comunicação, sobretudo agora e na educação a distância também, é importante nós destacarmos que a mediação do professor, como aquele que toma decisão pedagógica, é extremamente importante. Portanto, se a instituição tem condição de dar cabo a esses cinco elementos do processo educativo, ela vai ter uma educação de qualidade, independente de ser presencial ou a distância”, finaliza.

Katia e Benhur ainda debateram sobre a substituição de professores por processos mecânicos, o que tem acarretado em demissões de profissionais em massa, além dos desafios de teletrabalho neste período de pandemia. O bate-papo completo segue disponível para acesso, através da página e do canal da Abej.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Plann/Pexels


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