A batalha do ensino médio ainda não terminou

 

Heloisa Alves Ribas – Estagiária de jornalismo

A reforma do ensino médio vem sendo discutida desde a metade no ano passado e continua dividindo opiniões. Enviada ao Congresso como Medida Provisória (MP) em setembro de 2016, foi sancionada em fevereiro deste ano pelo presidente Michel Temer. Agora, estudantes do ensino médio passarão a ter grade obrigatória de 1.400 horas anuais ao invés de 800, como era antes.

Outra mudança está no currículo. O novo ensino médio prevê a obrigatoriedade das disciplinas de língua portuguesa, matemática, língua inglesa, artes, educação física, filosofia e sociologia ao longo dos três anos. Entretanto, as disciplinas de história e geografia saíram do currículo obrigatório e filosofia e sociologia foram recolocadas após a sanção.

“Após muita pressão e mobilização, o texto da Medida Provisória 746 da reforma do ensino médio foi reformulado, mantendo a obrigatoriedade dos conteúdos de filosofia e sociologia como ‘estudos e práticas’ na Base Nacional Curricular Comum. Uma conquista importante, mas o texto aprovado anuncia que outras batalhas ainda serão travadas”, explica Everson Nauroski, pesquisador na área de educação e professor do curso de Filosofia, Sociologia e Pedagogia da Uninter.

Em artigo publicado no portal de notícia NorteRS, do Rio Grande do Sul, Nauroski e Luís Fernando Lopes, também pesquisador e professor desses três cursos da Uninter, salientam que o modo difuso e controverso que fala em “estudos e práticas” traz o risco de se descaracterizar as disciplinas de filosofia e sociologia, barateando e precarizando áreas que exigem formação profissional qualificada e constituída por sólidos estudos acadêmicos.

Os professores destacam o histórico de polêmicas na trajetória da filosofia e da sociologia na educação brasileira. “Por se tratar de conteúdos que estimulam o questionamento e a reflexão, por vezes eles são considerados ‘inúteis’ ou ‘subversivos’”, destacam. Eles observam que em muitos momentos os profissionais da área foram desqualificados, considerados doutrinadores que fazem a cabeça dos alunos. “Ora, tal infâmia subestima a capacidade reflexiva dos alunos, e contraria a essência dessas disciplinas: o diálogo, a pesquisa e a análise de dados e ideias. Debate e análise, não imposição de ideologias”.

“As demandas por estudantes criativos e empreendedores dependem de se criar um clima educacional que estimule o livre pensar, que possibilite interrogar valores, crenças e símbolos, alguns já fossilizados e nocivos para uma vida de sustentabilidade. Talvez, muitos dos problemas da educação nacional não sejam em parte, consequência daquilo que estava no currículo, mas justamente da sua ausência”, destaca Luís. Para ele, embora mudanças sejam necessárias, é importante que se saiba o que realmente precisa ser renovado.

Grandes projetos demandam grandes ideias e grandes pensadores, enfatizam Luís e Nauroski. “Mas será que precisaremos importá-los?  Grandes redes privadas de ensino têm adotado o ensino da filosofia já nas primeiras etapas da educação básica e colhem bons frutos, com alunos críticos, participativos, com capacidade de argumentação, boa redação e liderança. Benefícios que podem ser estendidos aos estudantes das escolas públicas de todo Brasil, conjugando formação humana e investimentos nas escolas”.

Os professores fazem uma indagação pertinente: “Por que adotar novamente uma receita que não deu certo?” Para eles, afastar o questionamento e a reflexão crítica da escola só piorou as coisas. As demandas por estudantes criativos e empreendedores, afirmam os pesquisadores, dependem de se criar um clima educacional que estimule o livre pensar, que possibilite interrogar valores, crenças e símbolos, alguns já fossilizados e nocivos para uma vida de sustentabilidade. “Talvez, muitos dos problemas da educação nacional não sejam em parte, consequência daquilo que estava no currículo, mas justamente da sua ausência”.

Edição: Mauri König

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