Turismo criativo promove a cultura, a economia e a acessibilidade

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

Uma das áreas mais prejudicadas durante a pandemia de Covid-19, o turismo começou a retomar suas atividades com mais força no segundo semestre de 2021, ainda com muitas restrições sanitárias. De acordo com o governo federal, o setor gerou mais de 38 mil vagas de emprego formal durante o mês de setembro, o que representa cerca de 12,5 % de todas as vagas criadas no país nesse mesmo período.

Além de ser um importante instrumento da economia, a área também é responsável por difundir conhecimento e cultura a todos aqueles dispostos a embarcar em novas experiências pelo território nacional. Visitas a grandes parques, cidades históricas e capitais são atividades que ocupam o imaginário dos viajantes.

Serginho Xavier, guia turístico com mestrado em gestão e sustentabilidade, conta que, quando era gerente de turismo da cidade de Recife (PE), o município começou a investir no turismo criativo, incluindo processos de experiência e aprendizado no setor. “Aqui em Recife, a gente costuma dizer que o que transforma é a cultura, é o turismo, é o lazer”, afirma.

De acordo com ele, os índices de violência diminuíram a partir de projetos sociais como a revitalização ambiental e o turismo comunitário. Xavier cita a Ilha de Deus (foto), localizada no centro de um dos maiores manguezais urbanos do Brasil, como o local que mais recebeu turistas nos últimos anos em Recife. Lá vive uma comunidade de pescadores que sobrevivem majoritariamente da pesca do sururu e do cultivo do camarão orgânico.

Outro caso que ele destaca é o coletivo de marisqueiras residentes na ilha, que criaram o Instituto Negralinda. Durante todo o ano, esse instituto promove atividades turísticas, oferece assistência social para mulheres de comunidades da região, cursos e oficinas, além de impulsionar as atividades locais.

Ele explica que as pessoas vêm de fora para conhecer a realidade dos moradores locais, conhecer vivências e trocar experiências. A atividade turística na ilha também impacta as demais cidades da região de Recife.

Movimentos ligados ao grafite são outro exemplo de turismo criativo na cidade, atraindo turistas que querem entender como funciona essa arte. Um exemplo disso é a iniciativa Cores do Amanhã, que usa o grafite e o turismo para levar as pessoas ao bairro do Totó.

Para Ricardo Trento, produtor cultural e diretor da Trento Edições Culturais, “antes de existir o turismo, existe a atividade cultural”. Ele explica que não existe desenvolvimento econômico e científico sem a produção artística, e que a própria cultura traz melhorias para a sociedade.

“Se olharmos um pouco mais além do contorno do lugar que a gente habita, a gente vai enxergar esse lugar que a arte ocupa e nós não valorizamos”, declara. Além disso, Ricardo exalta as tradições e festas populares em cada território e o movimento de ir ao encontro do outro no processo de consumir cultura e arte.

 Lazer, mobilidade e urbanização

O turismo nem sempre pode ser praticado por todos da mesma maneira. A acessibilidade é ponto crucial para a inclusão de pessoas com diferentes condições psicomotoras.

Maria de Fátima, membro do comitê olímpico de avaliação, que trabalha com atletas paraolímpicos, apresenta o olhar da inclusão na busca por mais acessibilidade. Durante suas viagens com atletas brasileiros, conviveu com diferentes culturas e muitas vezes observou a dificuldade em se deslocar pelos ambientes e pontos importantes das cidades.

Ela afirma que a acessibilidade é um desafio em todo o mundo, ainda mais em cidades antigas. “A acessibilidade não é o que a gente determina que é suficiente para a pessoa, é a gente buscar constantemente melhorias, possibilidades para que as pessoas tenham liberdade de ir e vir”, diz.

Com mestrado em lazer pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Wilson Pina afirma que as cidades estão se tornando cada vez mais inóspitas devido ao processo de urbanização descontrolada. Para ele, existe a necessidade de trabalhar para que isso seja interrompido, para que o indivíduo possa ter acesso ao lazer de maneira segura em parques e diversos outros locais turísticos, além de tornar as cidades mais alegres e coloridas.

Essa dificuldade de mobilidade afeta não só turistas, mas também os próprios moradores dos locais. “Se alguém fizer uma pesquisa nesse sentido, provavelmente vai constatar que, principalmente nas grandes cidades, o próprio morador conhece pouco a sua cidade”, afirma.

Luiz explica que algumas da cidade mais antigas do planeta só tomaram consciência da necessidade de melhorar a acessibilidade do espaço urbano após a Segunda Guerra Mundial, observando a quantidade de pessoas mutiladas e com dificuldade de locomoção no pós-guerra.

Ele acredita que toda a sociedade deve participar desse processo por mobilidade, promovendo o debate e propondo sugestões para a melhoria urbana, não deixando as decisões serem tomadas somente nos gabinetes, mas com ajuda das pessoas.

A cultura e a acessibilidade no turismo foram temas do primeiro dia do VI Colóquio de Práticas da Uninter. O evento tem o intuito de unir a teoria à prática, buscando refletir sobre diversos temas de importância social.

Com transmissão ao vivo pelo YouTube, no dia 05.11.2021, o primeiro dia de colóquio contou com a presença de Dinamara Pereira Machado, diretora da Escola Superior de Educação da Uninter, e Marcos Ruiz, professor da área de Educação e responsável pela mediação do debate. Você pode assistir à transmissão completa clicando aqui.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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