Semana Pedagógica inicia com palestra sobre impactos da IA na sociedade
Autor: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
A Uninter deu início à Semana Pedagógica 2024 em 22 de janeiro. Com o intuito de capacitar os colaboradores do centro universitário para o novo ano letivo, a abertura do evento aconteceu no campus Garcez, em Curitiba (PR), com auditório lotado e presença de professores e diretores da instituição.
Reitor da Uninter, Benhur Gaio iniciou a rodada de falas de apresentação e desejou um bom evento a todos. O CEO do Grupo Uninter, Marco Eleuterio, destacou a semana como espaço de valorização e capacitação do principal ativo do centro universitário: seus professores.
“Não há nada mais característico na Uninter que os processos que são criados pela academia para fazer com que nossos alunos aprendam melhor. O grande propósito da Uninter é transformar vidas pela educação”, ressaltou o diretor executivo, ele próprio professor de formação.
Desvendando a inteligência artificial
A palestra magna do evento tratou das perspectivas futuras da inteligência artificial (IA) na sociedade. Pesquisadora dos impactos éticos e sociais da IA, Dora Kaufman foi a palestrante e tratou de de diferentes abordagens quando ao conjunto de tecnologias que espanta e encanta usuários em igual medida.
Apesar de em voga nos últimos anos, o conceito de IA enquanto campo de conhecimento foi primeiro estabelecido na década de 1950. Concebida de forma a abarcar novos desafios no tratamento de dados e informações.
O que se entende hoje como IA trata-se de uma técnica pertinente à área, de redes neurais profundas. Pensada durante os anos 80, tal técnica só conseguiu ser concretizada em 2012 para o cumprimento de alguns de seus propósitos iniciais, como automação de tarefas, análise e processamento de dados etc.
Mesmo assim, somente a partir de 2017 a técnica passou a ser utilizada em larga escala, em empresas de tecnologia ou que se utilizam de meios tecnológicos. Em 2023, foi a vez de a tecnologia estar na palma da mão da população, com a chegada de programas como o ChatGPT e Dall-E, por exemplo.
A arquitetura de tais aplicações se baseia em IA generativa, capaz de sintetizar informações para a criação de textos, fotos, vídeos etc. Essa capacidade “criativa” tomou o mundo de assalto ao mostrar as possibilidades da tecnologia, até então comumente aplicada em uma arquitetura preditiva, de automação de tarefas. Ambas fazem uso de um modelo estatístico de probabilidade, que se baseia na síntese e articulação de um volume colossal de informações.
A explosão de aplicações como essas, que chegaram a atingir mais de 100 milhões de usuários por semana em novembro de 2023, tornou a IA tema principal de fóruns, convenções e congressos ao redor do mundo. Fórum econômico mais importante do mundo, a Reunião Anual de Davos, na Suíça, colocou o debate acerca da IA em primeiro plano das discussões deste ano. As discussões reuniram chefes de Estado e representantes de big techs como Google, Meta e Microsoft, a fim de elaborarem estratégias de regulamentação dessas tecnologias e de proteção aos usuários.
Quais os riscos?
Uma das grandes preocupações ecoadas em Davos foram as declarações da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva. A chefe da principal organização financeira do mundo afirmou que 40% dos empregos no mundo todo serão afetados pela IA nas próximas décadas, substituindo a mão de obra humana no mercado de trabalho e aumentando as disparidades sociais.
O texto, amparado por pesquisas e relatórios compilados pelo FMI, foi publicado no blog da organização em 14 de janeiro, um dia antes do início do Fórum de Davos. Ainda segundo a nota, tecnologias de automação são inerentes a afetar a rotina do trabalho, mas o diferencial da IA é de poder complementar, e até mesmo substituir, ocupações que demandam altas habilidades e especializações.
A constatação liga o alerta tanto para países subdesenvolvidos, emergentes e desenvolvidos, prevendo que metade dos empregos podem ser beneficiados pela IA e a outra parte, prejudicada. “As aplicações de IA podem executar tarefas-chave já desempenhadas por humanos, o que pode ocasionar baixa demanda de trabalho, menores salários e desemprego”, afirma a diretora.
Antes de tamanho alarme, é necessário entender em que ponto a IA está sendo aplicada hoje. A principal mudança surgida com o advento da IA é a migração de um mundo dominado por máquinas programadas para um mundo orientado por máquinas probabilísticas. O primeiro cenário possui parâmetros previsíveis do início ao fim de seus processos, enquanto o segundo tem como princípio a flexibilidade e o “aprendizado” ao longo do tempo.
“No primeiro, o usuário vai identificar e avaliar os riscos de uma forma muito mais simples do que de sistemas que se modificam a todo tempo. Essa é uma mudança muito grande”, explica Dora sobre o principal efeito disruptivo da IA no funcionamento da sociedade. A imprevisibilidade desses sistemas também é intensificada pela ausência de um campo teórico correspondente à área, baseando-se somente em demonstrações empíricas até o momento.
O receio da substituição da inteligência humana pela artificial é intrínseca à própria denominação. No entanto, mesmo com todas as possibilidades da IA e de sua evolução nos últimos, ela é uma inteligência desprovida de atributos básicos à cognição humana. É uma tecnologia que apenas estabelece correlações sobre grandes bases de dados, sem aspectos como causalidade, intencionalidade, analogia e imaginação.
“Não tem nenhuma relação de como se processa a cognição humana com o que se processa hoje a inteligência das máquinas”, ressalta Dora. “Essa técnica de redes neurais profundas só estabelece correlações, não estabelece causalidade. Nós, o tempo inteiro, raciocinamos ‘o que causou o quê’. É essa busca para explicar a origem do que tá acontecendo. Isso nenhuma máquina hoje consegue reproduzir.”
O processo de automação do trabalho não é um fenômeno novo, muito menos restrito à IA. Até mesmo grande parte da Terceira Revolução Industrial é um sintoma da produção automatizada, substituindo ou auxiliando a mão de obra humana em determinados processos, ao mesmo tempo em que novas ocupações passam a existir no mercado de trabalho. “À medida em que se expande essa automação, sobram menos funções exclusivas para os seres humanos”, constata a pesquisadora.
Em paralelo à diminuição de funções exclusivas ao ser humano e à expansão das possibilidades de automação por meio da IA, as novas funções necessitam de qualificação e requalificação constante da mão de obra humana. Mesmo proporcionalmente menor que a ocupação de funções pela IA, as novas ocupações que surgem na chamada “indústria 4.0” carecem de profissionais capacitados para sua execução. Segundo levantamento da consultoria de recrutamento Gi Group, 66% das empresas ao redor do mundo que fazem parte da Indústria 4.0 têm dificuldades com a contratação de profissionais especializados. No Brasil, esse número chega a 88%.
“Os especialistas acreditam que as novas tecnologias irão aumentar a produtividade e a eficiência, mas também irão levantar algumas dificuldades, tais como a falta de competências dos operadores”, afirma o relatório, que ressalta a aprendizagem contínua como característica vital para a colocação em um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico.
Números semelhantes são encontrados em estudo da consultoria ManpowerGroup, de 2022. O levantamento ouviu cerca de 40 mil empregadores em 40 países; no Brasil, o índice de dificuldade na contratação de mão de obra qualificada chegou a 81%, superior à média global de 75%. O estudo lista a área de tecnologia da informação como o mais carente em mão de obra qualificada (84%), refletida também em comportamentos e habilidades propriamente humanas. Segundo os entrevistados, são elas: raciocínio e resolução de problemas; resiliência e adaptabilidade; iniciativa; confiabilidade e autodisciplina; espírito colaborativo e trabalho em equipe.
Acusar a IA de liquidar os postos do mercado de trabalho, portanto, pode ser uma solução fácil para a constatação do estado das coisas, mas não a correta. “[A IA] É apenas um modelo estatístico de probabilidade. Não pode estar substituindo as pessoas, substitui funções. Não tenho notícia de nenhuma profissão que tenha deixado de existir [por causa da IA]. São funções e tarefas dentro da profissão”, analisa Dora.
Os grandes desafios do século
O avanço da ação humana sobre os recursos naturais para fins de produção tornou a preservação do meio ambiente o grande desafio do século. O rápido desenvolvimento das tecnologias de IA nos últimos anos a colocam como preocupação iminente para o futuro, e Dora vai além.
“Ao mesmo tempo em que a IA ajuda enormemente no enfrentamento das mudanças climáticas, permitindo aos estudiosos lidar com um número fantástico de dados e otimiza os processos, ela tem um impacto negativo no meio ambiente. São sistemas atuais que usam muitos dados. Usando mais dados, precisam-se de hardwares, sistemas de processamentos de dados cada vez mais robustos. Esses data centers usam muita energia, consequentemente [emitem] muito CO², e usam água intensamente”, enfatiza a pesquisadora.
Para ela, as mudanças climáticas e a inteligência artificial são os grandes desafios do século, devendo ser tratados como temas correlatos em uma única agenda. “A inteligência artificial não deve ser tratada como uma pauta separada, mas infelizmente assim que está predominando, inclusive na Europa”, diz.
Uma abordagem que vem crescendo no mundo corporativo na última década é o do ESG (sigla traduzida para governança ambiental, social e corporativa). O conjunto de padrões que embasam esse conceito avalia até que ponto determinada empresa é consciente do ponto de vista social e ambiental. Segundo Dora, essa é mais uma área em que a IA tem efeitos sobre, exigindo um tratamento sério e ético quando se fala do uso dessas tecnologias.
A autora avalia que as big techs (grandes empresas de tecnologias) detêm cada vez mais poder e concentração de mercado. O crescimento de processamento e armazenamento de dados exigem mais e mais tecnologia, favorecendo a dominância de gigantes da indústria tecnológica em um cenário de “empresas mais fortes, Estados mais fracos”. Os potenciais riscos dessas práticas são pontos já discutidos na sociedade, como o deslocamento de propriedade intelectual, viés discriminatório de ferramentas de IA, proteção de privacidade e fake news.
A última se revela um novo grande obstáculo em tempos de disputas eleitorais polarizadas, como é o caso da corrida presidencial dos Estados Unidos neste ano e até mesmo no Brasil, em 2026. Aplicações de IA que reproduzem vozes e rostos de candidatos são potenciais armas para o disparo de conteúdos enganosos em eleições cada vez mais dominada pela mobilização em redes sociais. Além de mais convincentes, as fake news criadas por IAs são mais ágeis que as desenvolvidas por seres humanos e mais baratas (quando não gratuitas).
No Brasil, o tema é pautado por regulação a partir do PL 2.338/2023 e recebeu atenção do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Para o ministro, é regulação da tecnologia é necessária pelos sérios riscos que ela pode apresentar à democracia brasileira e global.
Como regular?
A pesquisadora entende que a governança de IA deve se basear em padrões previamente estabelecidos. Para ela, a supervisão humana se faz necessária como contraponto ao monitorar a conformidade dos sistemas de IA com princípios e dilemas éticos gerais e individuais de cada organização, bem como em respeito a requisitos legais.
“É fundamental a supervisão humana porque há vários momentos de decisão humana. Eu não gosto do termo ‘autonomia’ associado à inteligência artificial. Tanto na cadeia de construção dos sistemas de inteligência artificial quanto na prática e na aplicação, todo o tempo tá permeado de decisões humanas”, diz.
Tal qual toda criação humana, as ferramentas de IA estão sujeitas a enviesamento de seus criadores. Pequenas e grandes empresas do setor oferecem soluções baseadas em IA, o que requer atenção por parte de usuário em relação a uma série de questões sensíveis que atravessam a lógica de produção e aplicação desses sistemas.
Dora destaca como pontos de atenção a origem, o objetivo e a cadeia de produção do sistema escolhido, assim como o tratamento de dados pessoais oferecidos pela empresa de solução.
“IA é parceira do professor, não substituto”
A multidisciplinaridade da IA a coloca ao lado da educação para um processo de transformações profundas nas metodologias de ensino. Ainda que seja um desafio, a implementação dessas aplicações deve ser encarada com bons olhos ao facilitar processos de ensino-aprendizagem entre professores e alunos.
Cada estudante aprende de uma forma diferente, e é aí que a IA pode ser integrada na educação, ao oferecer ferramentas personalizadas de aprendizado aos alunos. A partir de pesquisas de Moisés Zylbersztajn, Dora destaca exemplos de aplicações já existentes na educação, como tutores adaptativos, predição de evasão escolar, automação na gestão de conteúdo, apoio na criação de material didático, correção automática de avaliações e treinamento de professores.
Ela também projeta possibilidades de chatbots nas salas de aula, encarregados de funções como a criação de questionários, gerenciamento de tarefas personalizadas, produção de respostas de referência, criação de planos de aula e recursos visuais.
“A natureza da IA generativa transforma não apenas nossa interação com a tecnologia, mas também como pensamos a linguagem, a cognição humana, a aprendizagem, a comunicação e a sociabilidade”, sintetiza a professora.
Semana Pedagógica 2024
O tema da Semana Pedagógica deste ano é “A Chave Mestra”, ressaltando os cinco significados do acróstico da palavra “chave” (Conhecimento, Habilidades, Atitudes, Valores e Emoções). A organização é da Escola de Polos e da Pró-Reitoria de Graduação da Uninter.
Confira abaixo o restante da programação durante a semana:
23 de janeiro
14h30 – Abertura com a diretora da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL), Dinamara Machado
14h40 – Palestra com Regina Suguihara: “Saúde socioemocional no contexto da educação superior”
15h40 – Encerramento: Escola de Polos
(Auditório Garcez e transmissão pelo Univirtus)
16h – Oficina com os professores Raphael Moroz e Aline Cristina Reis: “Pit Stop Videoaula: dicas e práticas pra gravação de aula em EAD”
(Sala 46 do campus Garcez e transmissão ao vivo pelo Univirtus)
24 de janeiro
14h30 – Abertura com o pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, Nelson Castanheira
14h40 – Palestra com Glaucia Brito: “Equilíbrio entre tecnologia e interação humana”
15h40 – Encerramento: Escola de Polos
(Auditório Garcez e transmissão pelo Univirtus)
16h – Oficina com o professor Hélio Godoy: “Indicadores de avaliação docente”
(Sala 46 do campus Garcez e transmissão ao vivo pelo Univirtus)
25 de janeiro
14h30 – Abertura com o diretor da Escola Superior Politécnica, Antonio Conte
14h40 – Palestra com Fernanda Chaves: “O que você precisa para ser um professor de alta performance”
15h40 – Encerramento: Escola de Polos
(Auditório Garcez e transmissão pelo Univirtus)
16h – Oficina com a diretora Débora Veneral: “Ética e privacidade na tecnologia educacional”
(Sala 46 do campus Garcez e transmissão ao vivo pelo Univirtus)
26 de janeiro
14h30 – Abertura com o diretor da Escola Superior de Saúde Única, Cristiano Caveião
14h40 – Palestra com Adriano Coelho: “Melhores práticas Enade nos cursos”
15h40 – Encerramento: Escola de Polos
16h – Abertura com Reitoria, Pró-Reitoria e Escola de Polos
16h20 – Palestra com Benhur Gaio: “Performance acadêmica e indicadores no âmbito da IES”
17h20 – Encerramento: Pró-Reitoria de Graduação e Escola de Polos
17h30 – Confraternização no 7º andar
(Auditório Garcez e transmissão pelo Univirtus)
Autor: Arthur Salles – Assistente de Comunicação AcadêmicaCréditos do Fotógrafo: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
