Precisamos falar de suicídio

 

Denise Becker – Estagiária de Jornalismo

A morte por suicídio é considerada uma questão de saúde pública mundial. Dados de 2014 da Organização Mundial de Saúde revelam que a cada ano 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo. No Brasil, 24 pessoas cometem suicídio diariamente. Esta é a segunda causa de morte entre 15 a 29 anos no país. De 2002 a 2014, houve um aumento de 10% dessas mortes, conforme dados do Mapa da Violência 2017.

Volta e meia o tema entra na pauta da imprensa e gera acaloradas discussões, mas geralmente motivado após a morte de alguma personalidade. O assunto voltou à pauta em abril. O que pôs o tema em discussão desta vez foi o jogo Baleia Azul e a polêmica série do Netflix, 13 Reasosn Why. Tais acontecimentos motivaram a palestra “O suicídio e a cobertura da mídia”, realizado na noite desta segunda-feira (29), no auditório do Campus Tiradentes da Uninter, em Curitiba.

O evento é promovido pelo #ChegaJunto, Coletivo de Ideias, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, e deu início a um ciclo de palestras sobre diversos temas a ser realizado nas universidades do estado. A primeira palestra, nesta segunda-feira, teve apoio do curso de Jornalismo da Uninter.

“Desesperança, desespero e desamparo, os três Ds”, foram apontados como fatores de risco pelo vice-presidente da Associação de Psiquiatria do Paraná, Marcelo Heyde, e que podem levar pessoas a cometerem o ato. “As pessoas não querem morrer, elas querem acabar com o sofrimento”, diz o psiquiatra.

Mas, será que qualquer detalhe sobre suicídio publicado pela imprensa pode provocar outro suicídio? Vários estudos apontam uma tendência de alta nas mortes espontâneas por alguns dias após a divulgação desses casos deste tipo nos meios de comunicação. Para o professor da disciplina de Ética e Deontologia da Uninter, Mauri König, “dependendo da forma como a imprensa retrata o suicídio, de forma romantizada, é provável que haja algum estímulo”.

Por outro lado, o jornalista faz uma comparação com o número de mortes por suicídio e os mortos em guerras. Enquanto os meios de imprensa enviam dezenas ou centenas de correspondentes para cobrir os conflitos armados, outra guerra silenciosa que dizima 800 mil pessoas por ano no mundo é solenemente ignorada por jornais, TVs e portais de notícias.

“Por quê não falar de suicídio, um tema de relevância social?”, indaga König. Para ele, é importante quebrar o tabu que existe em relação ao tema em grande parte dos meios de comunicação. Segundo o jornalista, quando a cobertura é ética e consciente ela ajuda a sociedade a rever comportamentos, como no caso do jogo Baleia Azul. Neste caso, lembrou o psiquiatra Marcelo Heyde, o jogo estava em curso muito antes de entrar na pauta da imprensa. A cobertura consciente do caso contribuiu positivamente para o debate público.

A palestra foi transmitida ao vivo na página do curso Jornalismo da Uninter no Facebook (clique aqui para assistir). No decorrer do debate, alunos de Jornalismo da educação a distância em todo o Brasil puderam enviar perguntas e participar em tempo real das discussões.

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