Pandemia acelera problemas de desigualdade social no mundo todo

Autor: Arthur Salles - Assistente de Produção Acadêmica

A pandemia de Covid-19 acelerou e expôs processos de desigualdades sociais ao redor do mundo. Falar em imunidade em meio à crise sanitária ganhou novos contornos: aquele que mais dispõe de bens materiais pode ter o dobro de chances de sobreviver contra a doença. Ainda que a doença seja a mesma para todos, a capacidade de resistir ao agente do coronavírus vai muito além do sistema imunológico.

De modo geral, os mais prejudicados pelo “novo normal” são pessoas não brancas e mulheres. A constatação faz parte do relatório O vírus da desigualdade, publicado em janeiro deste ano pela Oxfam Brasil e que compila dados de diferentes assimetrias sociais do Brasil e do globo.

“A Covid-19 foi comparada a um raio-X, revelando fraturas no frágil esqueleto das sociedades que construímos”, declarou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Antonio Guterres, em evento de julho do ano passado em homenagem a Nelson Mandela.

Os efeitos imediatos da doença vitimaram fatalmente 4,8 milhões de pessoas; a médio e longo prazo, a miséria agravada neste período há de ceifar outras tantas vidas das centenas de milhões de homens, mulheres e crianças em situações de insegurança social.

Foram necessários nove meses para que os mais ricos recuperassem suas fortunas a níveis do período anterior à pandemia. Para os mais pobres, no entanto, a perspectiva de recuperação, quando vislumbrada, está bem mais distante: dez anos e meio, segundo cálculos do Banco Mundial.

Tamanha desigualdade pode ser encarada por vieses críticos, que a analisam como um produto calculado e organizado há séculos para que os números se acumulem cada vez mais. Assistente social e especialista em gestão de políticas sociais, a professora Mariana Richter argumenta que até mesmo as premissas do capitalismo se pautam pelo lucro e pela superprodução em detrimento da força e do espírito humanos.

“Quando percebemos esse disparate da desigualdade social, percebemos também o quanto o sistema é organizado e sustentado com base na exploração dos trabalhadores”, diz. Não bastasse o esgotamento da força de trabalho, a resposta do mercado foi grave para os brasileiros.

O número pouco animador de 12,6 milhões de desempregados em 2019 passou para 14 milhões em 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A redução da carga horária, a perda de postos de trabalho e até mesmo o fechamento de empresas prejudicou a fonte de renda para 68% dos trabalhadores entrevistados pelo PoderData em abril deste ano.

Diante da doença, os abismos econômicos impuseram obstáculos aos mais pobres também na educação. Cerca de 1,7 bilhão de crianças e adolescentes tiveram suas aulas paralisadas enquanto as escolas se adaptavam ao novo cenário. Os jovens de países com alta renda ficaram, em média, seis semanas sem aulas. Já nas nações mais pobres, crianças em vulnerabilidade chegaram a quatro meses consecutivos sem conteúdo escolar.

“Pensando nessa perspectiva crítica, estamos falando de uma desigualdade que oprime, que gera preconceito, discriminação e que impossibilita vários acessos”, finaliza a professora.

O tema foi tratado durante a 2ª Maratona Ecos do Brasil – Biodiversidade e a vida em ação da Uninter, transmitida em 24.set.21 e com participação das professoras Mariana Richter e Denise Erthal. Foram 12 horas de palestras sobre meio ambiente, humanidades e saúde, que podem ser conferidas pelo YouTube ou Facebook.

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Autor: Arthur Salles - Assistente de Produção Acadêmica
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Liliana Saeb/Creative Commons


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