Palestra online reúne especialistas para explicar por que Sobral se tornou a capital nacional da educação

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

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Localizada a 200 km de Fortaleza (CE), Sobral se tornou referência nacional de educação nos últimos anos. Com nota 4,0 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2005, a cidade deu um salto e na última divulgação do estudo, em 2017, passou a ser o primeiro lugar do país, com nota 9,1.

Todo esse avanço conquistado em pouco mais de uma década se deu por causa de uma reformulação no ensino, provocado pelo Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC), projeto iniciado no início de 2000. Projeto esse que se ampliou para todo o Estado do Ceará e em 2013 se tornou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

“O discurso que foi implementado aqui nas nossas vidas é que os filhos de trabalhadores das classes populares têm o mesmo direito [que alunos de escolas particulares e classes mais altas]. A cidade educadora de Sobral partiu desse princípio, que não se concebia mais as crianças estarem na escola sem aprender e o professor estando na escola sem ensinar”, conta a professora sobralense Maria da Penha, doutora em Ciências da Educação.

O primeiro passo para essa mudança começou com a capacitação e reconhecimento dos educadores. A princípio, a formação de gestores e em seguida a valorização dos professores. “O mínimo de vida digna para que eles tivessem o incentivo para ter ânimo, para abraçar a causa e fazer a coisa acontecer”, diz Maria da Penha.

Hoje, a cidade também conta com a Escola de Formação Permanente do Magistério e Gestão Educacional (Esfapege), uma organização social que desenvolve ensino e pesquisa, promovendo formação, capacitação e qualificação dos professores em sala de aula.

Maria da Penha relembra uma época em que não se imaginava que “os filhos das classes populares teriam as oportunidades que que filhos das classes alta, média alta têm” e que agora são totalmente habitados por eles. Ela cita vários espaços importantes que ultrapassam os muros das escolas e que também fazem parte do cotidiano, cooperando com o ensino dos estudantes e a cultura do município. São eles teatro, museus, centro de línguas estrangeiras, biblioteca municipal, além de uma escola de música, que só alunos da rede pública podem frequentar.

Diante do exemplo educacional, Sobral recebeu o título de Capital Nacional da Educação em dezembro do ano passado, através do Projeto de Lei nº 3700/2019, de autoria do Senador Cid Gomes (PDT/CE), que foi prefeito da cidade cearense quando se iniciou toda essa transformação do ensino em 2000.

“Sobral hoje oferece um ensino de qualidade não só para o município de Sobral, mas para vinte municípios da região norte do Ceará. As pessoas vêm dos demais municípios que fazem parte da macrorregião para estudar Sobral”, conta Penha. A professora diz que tudo isso se deve a visão de proximidade e de bem querer da cidade como um todo, a população pensando na cidade como seu “lugar fiel”.

Maria da Penha participou do primeiro bloco no evento “A cidade como espaço educador”, que aconteceu no dia 16.jun.2020, por meio de uma transmissão ao vivo pelo Facebook e também pelo canal do Youtube da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter.

O bate-papo foi mediado pelas professoras Dinamara Machado, diretora da ESE, e Cristiane Benvenutti. A conversa também contou com Cecilia Pestana, gestora do polo de Cascavel (PR), e Hercilia Nunes, gestora do polo de Sobral.

Sobral como estudo de caso

Sobral se tornou objeto de estudo para os alunos dos cursos da Escola Superior de Educação da Uninter. Os professores coordenadores desenvolveram temas para estudo de caso dentro de suas áreas, desde o desenvolvimento biotecnológico e da agricultura, até a referência religiosa da cidade desde a vinda dos europeus com a Igreja Católica e todo o seu descobrimento.

“Em 2019, nós acordamos que nós iríamos fazer uma viagem pelo Brasil, explorar esse país e mostrar aos nossos 94 mil alunos da Escola Superior de Educação como este país tem projetos maravilhosos e que deram certo. Esse país que, apesar de todas as lutas, é resistente e tem mostrado ao mundo que é capaz”, explica Dinamara.

Hercilia Nunes diz que, apesar de não ser uma cidade grande, o município é completamente independente da capital Fortaleza. A educadora cita alguns pontos de destaque da cidade. Além da educação inclusiva, que tem um enorme engajamento e investe em tecnologia para levar e facilidade a aprendizagem das crianças, “Sobral é uma das cidades com maior número de profissionais com carteira assinada. Os trabalhadores de lá trabalham na própria cidade e não precisam se deslocar para cidades vizinhas”.

“Eu me sinto muito honrada de ser gestora do Polo da Uninter em Sobral. Os alunos estão sempre buscando muito, são pessoas que estão sempre procurando aprender mais e questionando os conhecimentos, eu acho que é isso que tem que acontecer mesmo”, salienta Hercilia.

Esses e outros temas relacionados ao município foram abordados pelos professores Cicero Bezerra, Renata Garbossa, Gisele Cordeiro, Marcos Ruiz, Paulo Martinelli e Deisily de Quadros no segundo e terceiro blocos do evento, com orientações para os alunos que estão desenvolvendo os estudos de caso e relacionando com a realidade vivida em suas próprias regiões.

O evento ainda contou com um momento cultural no fim do primeiro bloco, com a professora Deisily, que recitou o poema “Cante de lá que eu canto de cá”, de Patativa do Assaré, e o professor André Cavazzani, que fez uma apresentação da música “À palo seco”, de Belchior, ambos artistas sobralenses. Até o momento, as transmissões contabilizam mais de 4 mil acessos.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Luiz Souza/Funceme e reprodução


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