Fato e Impacto: petróleo na Foz do Amazonas reforça dilema entre progresso e preservação
Autor: Yasmin Guedes e Madson Lopes
A decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de conceder à Petrobras a licença para perfurar um poço exploratório na foz do Rio Amazonas expõe um dilema brasileiro. De um lado, o país busca fortalecer sua economia e segurança energética; de outro, tenta se afirmar como ator relevante na agenda ambiental, o que inclui avançar na transição para uma matriz limpa.
Concedida em 20 de outubro de 2025, após anos de impasse, a licença autoriza apenas a pesquisa para identificar se há petróleo e gás em escala comercial. Mesmo assim, especialistas afirmam que o caminho político foi aberto, já que o governo defende a exploração pelo seu potencial econômico.
Para o coordenador do curso de Gestão Financeira da Uninter, Daniel Weigert Cavagnari, a decisão vai na contramão do movimento global e do discurso verde do Brasil. Embora a Petrobras seja referência em extração além-mar, ele ressalta que perfurar no encontro entre rio e oceano é um processo distinto e mais desafiador.
A região abriga uma vasta biodiversidade terrestre e marinha — recifes, corais, esponjas e algas calcárias, entre outras espécies. Por isso é considerada tão sensível. Para Daniel, um eventual vazamento de óleo traria danos ambientais que, na balança, não compensariam o empreendimento, o potencial econômico ou o desgaste político à imagem do país.
Rafael Pons Reis tem uma perspectiva diferente. Professor de Relações Internacionais da Uninter, ele reconhece o alto custo socioambiental, mas discorda que o mundo esteja efetivamente abandonando o petróleo nas próximas décadas. “Na conjuntura internacional, percebemos países ricos — Estados Unidos, Canadá — inclusive aumentando sua produção de barris de petróleo”, afirma.
Embora admita que o cenário global é desfavorável à agenda climática, especialmente pelo retorno de Trump à Casa Branca e o aumento dos conflitos armados no mundo, o professor é mais otimista quanto à possibilidade de descoberta de uma nova fronteira petrolífera. Para ele, essa nova reserva poderia substituir o pré-sal.
Localizado numa faixa do litoral do Espírito Santo ao de Santa Catarina, o pré-sal é uma camada de petróleo e gás natural situada sob uma espessa camada de sal, a cerca de 300 km da costa. Sua descoberta, em 2006, trouxe importantes benefícios econômicos para o Brasil. Mas, como toda commodity não renovável, seus estoques um dia se esgotarão.
Concedida às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30 — realizada em Belém, no Pará, no início de novembro —, a decisão não gerou grandes atritos diplomáticos. Isso porque a redução da dependência do petróleo raramente entra na pauta oficial das COPs, que reúnem diversos países produtores de petróleo resistentes a debater o tema.
Ao priorizar os combustíveis fósseis, no entanto, Rafael observa que o país pode estar negligenciando outras oportunidades econômicas mais sustentáveis e alinhadas ao seu discurso, como o aproveitamento do vasto banco genético da floresta.
Autor: Yasmin Guedes e Madson LopesEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Arte de Gabrielle Piontek
