O que sobra para as salas de cinema com o avanço do streaming na pandemia?

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

No dia 17 de março de 2020, as salas de cinema foram oficialmente fechadas em todo o Brasil. Em meio ao caos propagado pela pandemia, a indústria cinematográfica foi uma das primeiras a sofrer os impactos da Covid-19. Segundo dados apresentados na Pesquisa global de entretenimento e mídia, a receita dos cinemas caiu 70% em todo o mundo nesse período. No Brasil, esse número chegou a 86%.

Após mais de um ano fechadas, as salas de cinema começaram a reabrir e retomar suas atividades em quase todo o território nacional no mês de outubro. Mesmo com a presença ainda tímida do público, a reabertura representa o início da recuperação do setor audiovisual, e foi assunto do programa Art&Cultura, da Rádio Uninter, transmitido no dia 27 de outubro de 2021.

Arthur Salles e Bárbara Carvalho, jornalistas da rádio, receberam André Corradini, mestre em Gestão do Conhecimento, professor da Uninter e apaixonado por cinema, para abordar como está sendo esse retorno e quais mudanças ocorreram na indústria do cinema nesses quase dois anos de isolamento social.

Streaming, um novo horizonte para o audiovisual

O isolamento e a impossibilidade de ir a uma sala de cinema fez com que o consumo de plataformas de streaming aumentasse no mundo todo. De acordo com o levantamento do Kantar Ibope Media, houve um aumento de 68% no acesso às plataformas gratuitas desde o início da pandemia, e alta de 58% nas plataforma pagas.

O relatório da Motion Picture Association também mostra esse crescimento durante o período de isolamento social. O avanço no número de assinaturas de plataformas de streaming chegou a 26%, representando 232 milhões de novas contas, assim como o aumento da receita, que subiu 34%, representando uma arrecadação de US$ 14,3 bilhões.

Em ranking divulgado em julho, a Netflix é quem lidera o mercado em número de assinantes (209 milhões), seguida de Prime Video (175 milhões), Disney Plus (106 milhões) e HBO Max (67 milhões).

Cinema x streaming

Antes de que o hábito de consumir cinema em casa se consolidasse, a indústria da exibição de filmes já havia passado por uma transformação significativa, quando no final dos anos 1990 as salas de rua foram sendo substituídas pelos cinemas de shopping center, que ofereciam maior diversidade de títulos em espaços menores.

Para André Corradini, o ato de se deslocar até a sala de cinema, comprar pipoca e se unir a outras pessoas para assistir um filme é um ritual ainda muito amado pelos fãs da sétima arte. “Eu não troco a sala de cinema por nada”, diz.

Apesar do carinho que o público cultiva pelas salas de cinema, a opção do streaming se mostra cada vez mais afeita ao gosto do público, tanto pela praticidade quanto pela economia. Uma assinatura de plataforma de streaming pode custar menos do que um ingresso de cinema.

Além disso, essa alternativa se mostrou extremamente relevante para a própria indústria do cinema, que de outra forma não poderia ter lançado novos produtos durante a pandemia.

Uma consequência disso é que pela primeira vez na história a premiação do Oscar aceitou que filmes lançados fora das salas de cinema concorressem na cerimônia de 2021. Esse foi o caso de “Mank”, obra de David Fincher lançada pela Netflix, e “The Sound of Metal”, dirigido por Darius Marder e lançado pela Prime Video.

No entanto, alguns lançamentos simultâneos em cinema e streaming em 2021 desagradaram diretores e produtores, que viram a arrecadação de bilheteria sair prejudicada. Foi o caso de “Tenet”, do diretor Christopher Nolan, e de “Mulher Maravilha”, de Patty Jenkins.

O cinema nacional

As produções nacionais tiveram de lidar com incertezas não só pela indefinição sobre quando os cinemas seriam reabertos, mas também pelos cortes de verba dos últimos anos. Filmes que já estavam prontos há meses, como “Eduardo e Monica” e “Mariguella”, tiveram de adiar suas estreias. Somente com o afrouxamento das restrições de isolamento e a reabertura das salas essas obras poderão ganhar a luz do dia e chegar ao público.

Isso se deve à dificuldade que ainda existe na divulgação e promoção das obras nacionais, que muitas vezes não conquistam o interesse das plataformas e dependem de poucas salas de cinema para chegar ao público. Grande parte do catálogo brasileiro disponível online ainda é composto por séries, deixando os filmes em segundo plano.

As dificuldades do retorno do cinema em 2021 vêm gerando discussões sobre o modo de se produzir e consumir audiovisual. Ficou claro que o cinema precisa se adaptar às novas tendências de consumo. O fato é que, independente de ser consumido em casa ou nas grandes salas, o cinema continua vivo.

Você pode assistir à transmissão completa do Art&Cultura clicando aqui.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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