A educação interdisciplinar da abordagem Steam e o impacto da tecnologia na sociedade

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo

A educação interdisciplinar busca relacionar os conteúdos de diferentes disciplinas com o objetivo de capacitar estudantes para uma compreensão mais abrangente da realidade. A interdisciplinaridade é uma abordagem exigida pelo Ministério da Educação (MEC). O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) avalia a capacidade do indivíduo de analisar e organizar informações a fim de propor intervenções para certos problemas, dentro de um princípio de interdisciplinaridade.

Contudo, promover a educação interdisciplinar ainda é grande desafio para educadores e instituições de ensino. Durante as últimas décadas, algumas iniciativas têm buscado promover a interdisciplinaridade de novas formas. Uma dessas iniciativas é a educação Steam.

Acrônimo da língua inglesa formado por science, technology, engineering and mathematics, a sigla representa um modelo de educação que consiste na integração de diferentes áreas do conhecimento, tendo como objetivo formar pessoas para que desenvolvam diferentes habilidades.

A educação Steam foi o tema do programa Exatamente, transmitido no canal de YouTube da Escola Superior de Educação da Uninter, no dia 19 de outubro. Com mediação de Élcio Miguel, professor da área de exatas, e a participação de Maud Souza e Geraldo Pontes, pesquisadores na área da Steam, o programa abordou a história da educação interdisciplinar e o impacto das tecnologias na sociedade atual.

As origens

A abordagem Steam teve início em 2001, tendo como criadora Judith Ramaley, diretora da National Science Fundation, dos Estados Unidos. Bióloga e administradora acadêmica, ela atuou como presidente de várias faculdades e universidades norte-americanas, tendo como objetivo mudar os currículos de aprendizagem e promover uma educação interdisciplinar de qualidade.

Geraldo Pontes explica que na época os EUA não eram referência na educação mundial. Educadores do país entendiam que havia necessidade de se conectar áreas do conhecimento e promover mudanças nos currículos escolares.

Ele ainda conta que esse tipo de educação foi inspirado na cultura dos laboratórios e oficinas em garagens, em que as pessoas usam esses espaços domésticos com o intuito de desenvolver atividades de criação e conectar o que foi aprendido na escola em suas vidas cotidianas.

História da educação interdisciplinar

Para chegar até o conceito de Steam, foi necessário observar e absorver diferentes perspectivas sobre a modalidade e como muitos teóricos analisaram o assunto em diferentes épocas. Os traços do que hoje é a interdisciplinaridade já estavam presentes nas reflexões sobre educação do passado.

Geraldo Pontes cita importantes personagens da história, como o bispo protestante Comenius, da Igreja Morávia, que foi educador, cientista e escritor durante o século 15, considerado o fundador da didática moderna. Comenius combateu o sistema de educação medieval e buscou trazer a realidade social para a sala de aula, fazendo uso das invenções mais avançadas à sua disposição.

Séculos mais tarde, o nome de Clayton Christensen aparece como referência para entender esse modo de educação. Conhecido por seus estudos em inovação dentro de grandes empresas, ele é autor da obra O dilema da inovação, em que discute por que novas tecnologias levaram empresas ao fracasso e por que a educação não alcança seus objetivos.

“A causa do fracasso das empresas é a completa falta de percepção por parte dos gestores de que as mesmas práticas administrativas da produção que possibilitaram à empresa crescer e se tornar líder no mercado, frequentemente estão relacionadas às tecnologias incrementais que são as responsáveis pelo bom desempenho da produção”, aponta.

O que ele chama de tecnologia incremental pode ser entendida como produto da interdisciplinaridade. “Na sua pesquisa, ele [Christensen] conclui o seguinte: as empresas em geral não ficam atentas ao que está acontecendo no mercado de novidades. Elas continuam trabalhando com seus métodos tradicionais e não percebem a entrada dessas tecnologias”, diz Pontes.

Mais tarde, Christensen traz uma análise similar a essa para a educação, quando lança o livro Inovação em sala de aula, em que destaca as causas que afetam o processo de aprendizagem, como a resistência das escolas na mudança de currículos.

Outro autor citado por Pontes é o norte americano Steven Johnson. Formado em semiótica pela Universidade Brown e em literatura inglesa pela Universidade Columbia, é o autor da obra De onde vêm as boas ideias.

“Aquilo que estimula e ensina é a motivação, o impulso de satisfação que faz com que a pessoa aja para atingir seus objetivos, e a criatividade, quando o indivíduo é capaz de imaginar soluções para os problemas de sempre ou para novos problemas”, diz Pontes, explicando a perspectiva de Johnson.

O bê-a-bá da ciência

Paul Hurd criou o termo “alfabetização científica”, em 1958, com o intuito de defender a educação científica nos Estados Unidos. O autor percebeu que os conceitos e práticas da ciência ensinados na escola estavam desvinculados da realidade da sociedade, e que os alunos tinham um papel passivo no processo de aprendizagem, o que colocava em risco o processo de desenvolvimento tecnológico da nação.

Essa alfabetização se baseia em 3 pilares: 1) aprendizagem de conceitos e nomenclaturas indispensáveis em ciência; 2) entendimento dos modelos, padrões ou normas; 3) compreender o efeito que a ciência e a tecnologia provocam nos indivíduos quando são alterados os conceitos já estabelecidos.

Dentro das perspectivas abordadas, Pontes ressalta que devemos pensar se a escola atual sufoca professores e alunos ou favorece o crescimento de boas ideias. Para Maud Souza, a correlação dos saberes constrói o aprendizado: “Você vai aprender a colaborar, a trabalhar em equipe, você vai aprender com a criatividade”, afirma.

Souza e Pontes acreditam que a principal questão a ser entendida, quando se discute a educação para o futuro, é “como trabalhar a interdisciplinaridade em todas as fases da formação educacional?”.

Você pode conferir a transmissão completa do programa clicando aqui.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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