O que a literatura dos povos nativos pode nos ensinar?

Autor: Ingryd Jamilly Freitas de Oliveira – Estudante de Letras Inglês

O ensino da história e da cultura indígena tornou-se obrigatório na educação básica no nosso país com a promulgação da Lei n° 11.645, de 10 de março de 2008. Sendo assim, com o objetivo de conscientizar os estudantes do ensino fundamental sobre o valor cultural das línguas dos povos nativos e proporcionar melhor entendimento acerca de questões de sustentabilidade e de temáticas do meio ambiente, o professor de língua estrangeira pode apresentar em suas aulas as tradições orais e escritas de tribos e grupos indígenas que narram o que foi vivido ao longo de muitas gerações.

O povo Maxakali, por exemplo, hoje possui registrada quase toda a sua cultura, que outrora fora exclusivamente oral, com seus cantos poéticos e sagrados, chamados de Yãmîys, disponíveis em um acervo de obras literárias. Esse interesse pelo registro e divulgação da cultura dos povos nativos se manifesta a partir da década de 1980, com o início da publicação de produções literárias de povos nativos, em razão da falta de material didático nas escolas indígenas que transmitisse a cultura e a vivência de cada povo. As narrativas e poesias destes povos relatam a conexão do ser humano com a natureza, trazendo lições de respeito e cuidado com o meio ambiente, uma vez que a natureza é vista como uma “divindade”, pois é nela que tudo começa, que a vida se sustenta através do alimento e do trabalho.

A partir de tais obras, o conhecimento destas diferentes culturas ganha destaque em temáticas relacionadas à sustentabilidade e ao meio ambiente, sobretudo pelo valor que os indígenas dão à terra, conforme podemos visualizar no trecho da carta de Chief Seatle, líder das tribos Suquamish e Duwamish, que em 1854 falou ao presidente dos Estados Unidos, em resposta a uma proposta de compra das terras de seu povo: “Tudo aquilo que cai sobre a terra cai sobre os filhos da terra. Se os homens cospem sobre o chão, cospem sobre si mesmos. Isto é o que sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto é o que sabemos.”

Assim, a preservação cultural através de produções literárias também contribui para a perpetuação de línguas que correm grande risco de extinção. No Brasil, as línguas nativas vêm sendo extintas desde a chegada do homem branco. Segundo dados divulgados pelo Museu Nacional de Brasília, “de quase 1.300 línguas diferentes, houve mais de 1.100 extintas desde então, restando hoje no Brasil, apenas 180 línguas, faladas por uma população de 350.000 pessoas”. É importante conscientizar os jovens sobre o valor cultural das línguas nativas, e uma das ferramentas que o professor do ensino fundamental pode utilizar para isso é a literatura produzida por esses povos, que pode inclusive nos ensinar a ter uma relação mais harmoniosa com a natureza.

 

‘ÕNYÃM

‘õnyãm tuthi xux mãhã

‘õnyãm kutet xux mãhã

‘õnyãm ah hãm tu yãyhi ah

‘õnyãm mîm mõg yîmu yãy hih

‘õnyãm toktet xux mãhã

‘õnyãm ‘ãto kopa mõyõn

‘õnyãm mîm kox kopa mãm hu mõyõn ‘õnyãm a hãm tu mõ ka’ok

‘õnyãm ‘upip ‘uxãm xi pip ‘uxãm ‘oknãg

‘õnyãm nãg upnok xi xepnak um

O OURIÇO

o ouriço come folhas de embaúba

o ouriço come folhas de bambu

o ouriço não anda de dia

o ouriço anda em cima do galho da árvore

o ouriço come folhas de mamona

o ouriço dorme dentro do feixe de cipós

o ouriço fica dentro do oco do pau e dorme o ouriço não anda rápido no chão

tem ouriço que tem espinho e outros que não têm espinho

o ouriço tem rabo e pêlos brancos.

Fonte: Yãmîys maxakali – iconotextos indígenas – de Charles Bicalho – acesso no link.
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Autor: Ingryd Jamilly Freitas de Oliveira – Estudante de Letras Inglês
Créditos do Fotógrafo: Tiago Zenero/PNUD Brasil


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