“Meus peitos, meu corpo, minhas regras” – uma ode à amamentação em público

Autor: Maria Caroline Waldrigues*

O mês de agosto, também chamado de ‘agosto dourado’, dedica-se as ações intersetoriais que incentivem o aleitamento materno por meio da celebração da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), que este ano tem por tema “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”.

Para você entender melhor, esta data foi instituída em 1948 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto em 1990, com o documento chamado “Declaração de Innocenti”, organizado pela própria OMS e Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), formulou-se a Aliança Mundial de Ação pró-Amamentação (World Alliance for Breastfeeding Action-WABA), que estabeleceu em 1992 a “Semana Mundial de Aleitamento Materno” para promover as metas da referida declaração.

O Ministério da Saúde é responsável no Brasil pela adaptação do tema para o nosso país e elaboração e distribuição de materiais de comunicação, com o apoio de Organismos Internacionais, Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, Hospitais Amigos da Criança, Sociedades de Classe e ONGs.

Como tanto apoio e incentivo ao aleitamento materno, não é possível acreditar que a sociedade ainda reprima, às vezes sutilmente (outras nem tanto), uma mulher-mãe amamentar seu bebê em público. Com certeza você conhece alguma mulher que já passou por algumas destas situações, ouviu ou testemunhou:  ser flertada ou receber um olhar sensualizado enquanto amamenta. Ou talvez um olhar inquisidor com o balançar da cabeça como reprovação. Talvez possa ter ouvido as célebres frases: “cobre seus peitos, é feio amamentar em público”, ou “cobre a cabeça do nenê e seu peito para amamentar”. Também as recomendações de “amamentar no banheiro” ou ainda o convite agressivo “por favor, poderia se retirar deste local”.

São tantas falas emitidas, por várias vozes, que compõem nossa sociedade, e que muitas vezes ouvimos dentro da nossa própria casa, que cabe a pergunta: até quando as mulheres irão ouvir estes impropérios?  Até quando irão “sentir mal” ou “constrangida” por alimentar seus filhos em lugares públicos? Vez ou outra vemos situações que impedem a mulher de amamentar, seja em um terminal de ônibus, na Grande São Paulo, numa exposição em Minas Gerais ou num espaço cultural de qualquer cidade.

As autoras Kalil e Rodrigues no artigo “Mães na mídia: os discursos sociais sobre a maternidade na cobertura dos ‘mamaços’ no Brasil afirmam que a sociedade “criou um grande apelo erótico sobre o corpo feminino sendo visto, antes de um órgão funcional da lactação, um órgão erótico e sexual”. As mesmas autoras vão mais a fundo: relatam que a ‘divisão’ do corpo feminino em corpo sexual/erótico x corpo da mãe sacralizado/santo, que gesta/pari/amamenta – deixa cada vez mais escancarado a “contundente tensão que ainda existe entre a construção do corpo feminino versus corpo materno e o permanente controle social que se exerce sobre ambas as ‘versões’ desse corpo”.

É passível de certa compreensão, o motivo do constrangimento, de várias formas, quando se expõe o seio para amamentar os bebês em lugares públicos, que não seja o espaço do lar. É como se a linha do aceitável da exposição do seio fosse rompida, que, por hora, nesta situação não é ‘erótico’ para a sociedade, e, portanto, carrega certa dose de imoralidade.

Assim, a temática deste ano formulada pela WABA nunca foi tão necessária: “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”. Precisamos mesmo melhorar os ‘olhos’ da sociedade, porque os benefícios da amamentação são inúmeros! O leite materno é a base da vida!

Diante disso, a frase ‘meus peitos, meu corpo, minhas regras’, no que tange a amamentação em lugares públicos, nada mais é que um ato de dizer a sociedade: chega de crítica, condenação, ‘marginalização’ e de exclusão.

* Maria Caroline Waldrigues é enfermeira, mestre em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR, docente na Uninter, mulher-mãe de dois meninos passarinhos.

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Autor: Maria Caroline Waldrigues*


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