Imigrantes superam barreiras linguísticas e culturais para começar vida nova

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

Nos últimos anos temos assistido a movimentos migratórios de populações em busca de uma vida melhor, longe do terror da guerra e da fome. São os casos de refugiados sírios na Europa, haitianos e venezuelanos no Brasil, entre tantos outros.

Se por um lado a chegada em um novo país pode representar uma chance de sobrevivência, por outro esses imigrantes enfrentam uma dura realidade para a qual não estavam preparados. O processo de aprendizado e adaptação a uma nova cultura passa necessariamente pelo aprendizado da língua local, o que é sempre um grande desafio para os adultos. Por causa disso, uma das questões mais urgentes na pedagogia brasileira passou a ser como ensinar a língua portuguesa para estrangeiros.

Jovânia Perin dos Santos, mestra em estudos linguísticos, afirma que esse processo vai além do idioma e ressalta a importância da questão cultural na adaptação de um imigrante em seu novo país. “Quando estivermos preparando uma aula de línguas, quando estivermos pensando nessa questão das culturas, devemos olhar para aquilo que temos em comum”, diz. Ela explica que o professor tem a possibilidade de, durante a aula, compartilhar suas experiências.

A pesquisadora sugere que devemos evitar um olhar limitador, pautado por estereótipos ligados a esses imigrantes. “É importante que a gente debata, que a gente fale. A nossa função é desenvolver um senso crítico, desenvolver um olhar apurado, que leve a pensar de uma forma muito mais positiva”, afirma.

De acordo com ela, o cruzamento cultural pode ter efeitos muito positivos e benéficos para a sala de aula, mas temos de estar preparados para situações de conflito. Nesse processo, a inclusão das diversidades é fundamental.

Segundo dados divulgados pelo IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística), o português é a 9ª língua mais falada no mundo, com cerca de 234 milhões de falantes em nove países, sendo o Brasil o país com maior número de falantes.

O estudo também aponta o inglês como idioma mais falado atualmente (1,132 bilhão de pessoas), seguido pelo chinês mandarim (1,116 bilhão), o hindi (615 milhões), o espanhol (534 milhões) e o francês (279 milhões). Os dados ressaltam a diversidade linguística presente em grande parte do planeta.

Bruna Martins, graduada em letras português-francês, abordou em seu projeto de mestrado o português como língua de acolhimento para fins acadêmicos. Após a primeira grande onda migratória no Brasil do século 21, com a chegada de milhares de haitianos em 2013, em decorrência dos desastres sofridos pelo país caribenho, começa a se pensar em como ensinar o português para esses recém-chegados.

Com isso, surge o programa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB), do qual Bruna participa. Realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o programa é composto por sete cursos (letras, psicologia, direito, história, sociologia, informática e medicina) que trabalham em conjunto com os imigrantes e oferece um curso de acolhimento linguístico antes do imigrante entrar na universidade, com disciplinas específicas de português. A partir do PMUB, torna-se possível inserir esses imigrantes dentro da universidade por meio do programa de reingresso e do vestibular especial.

Dados levantados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em 2019 apontam que o Brasil recebeu mais de 700 mil imigrantes entre 2010 e 2018, o que deixa evidente a importância desse tipo de programa. “Atualmente na UFPR temos 119 estudantes imigrantes ou refugiados, então dessa forma eles conseguem ter acesso aos estudos superiores”, afirma Bruna. O projeto adota uma perspectiva plurilíngue, que leva em conta o repertório cultural dos alunos como um todo.

Ela destaca os pilares que sustentam a iniciativa: sensibilidade à diversidade linguística, intercompreensão, abordagem intercultural e didática integrada. “Quando a gente faz isso, a gente não traz o português para apagar as línguas que eles já falam, a gente traz o português para agregar nesse repertório linguístico-cultural, e isso tem que ficar muito claro pra eles”, conclui.

Derrubando barreiras

Laurette Bernadin é de origem haitiana. Quando Chegou a Curitiba, em 2010, enfrentou diversas dificuldades em seu processo de adaptação, não só com o idioma, mas para conseguir documentação, trabalho e moradia.

Durante a gestão de Gustavo Fruet (2013-2016), conseguiu estudar a língua portuguesa em um programa das escolas municipais e logo ingressou no curso de fisioterapia da Faculdade Espírita. Ela teve de fazer a transferência e finalizar o curso na Universidade Tuiuti do Paraná, após o fechamento de Faculdade Espírita.

Depois desse período, Laurette resolveu se aventurar mais uma vez. Escolheu o curso de Relações Internacionais da Uninter, em busca de saber como ajudar os seus compatriotas. “A gente está com um problema na embaixada do Haiti em Brasília, que está dificultando os documentos. Tem serviço que a gente precisa e não consegue”, afirma.

Mas as barreiras linguísticas e culturais não existem apenas para quem é estrangeiro. Riane Nascimento é brasileira, oriunda de uma comunidade quilombola do interior da Bahia. Coordenadora de produção da Eparrei Filmes, ela produziu um longa-metragem sobre sua comunidade. O filme nasceu da necessidade de falar do quilombo, mas não como um território à parte, ou com olhar de descaso. “A partir do momento que eu começo a circular, eu começo a perceber que as barreiras simbólicas estão presentes o tempo todo”, conta.

Muitas vezes, os quilombolas se sentem estrangeiros no seu próprio país, e por isso Riane decidiu usar o cinema para abordar o ponto de vista dessas pessoas. “Eu tento trazer a força e a luta através da força das mulheres do quilombo. Isso contribui para a criação do senso de pertencimento e do lugar de fala”, afirma.

A imigração e a diversidade foram temas debatidos durante o 3º Encontro Linguagens e Sociedade da Uninter. Organizado pela Escola Superior de Educação (ESE), o evento também contou com a presença das professoras Danielle Fracaro, Maristela Gripp e Thais Carvalho, além do professor Eduardo Valli.

Você pode conferir à íntegra do evento clicando aqui e aqui, no canal da ESE no YouTube.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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