Exposição fotográfica revela periferia de Maceió sob o olhar das crianças

Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo

A liberdade artística que a fotografia proporciona exercita a espontaneidade e a criatividade dos indivíduos. Falando do público infantil, em especial, a arte da captura de imagens pode vir a desencadear novos horizontes e perspectivas não observadas anteriormente. É esse o efeito buscado na exposição “Fotografia em Movimento”, desenvolvida por Beatriz Jatobá Pimentel, aluna de Artes Visuais da Uninter em Maceió (AL).

A estudante escolheu uma comunidade carente maceioense atendida pela ONG “Movimento Dando as Mãos”, localizada no Vale do Reginaldo, para levar uma proposta de trabalho artístico e desenvolver seu estágio obrigatório. O local, observa Beatriz, é desprovido de auxílio governamental e de difícil acesso.

“Para chegar lá, necessito descer uma escadaria improvisada pelos moradores. É uma região que chamamos de ‘grota’, ali a comunidade se desenvolveu, debaixo de uma ponte da cidade de Maceió, seguindo o fluxo do Rio Reginaldo”, relata.

Fundada em 1993, a ONG é apoiada por doações de pessoas e empresas, além de realizar bazares para divulgação e arrecadação de fundos. Oferece atividades de reforço escolar, alfabetização, informática, cultura, arte e esportes para jovens e crianças em situação de vulnerabilidade social, moradoras da região, além de disponibilizar capacitação para adultos em atividades produtivas.

Claudia Vasconcelos Caetano, assistente social e coordenadora da organização, apoiou Beatriz para o desenvolvimento da atividade com o uso da fotografia. Ela se inspirou no projeto “Autorretrato Nordeste”, contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Negra, que resultou na publicação do livro “Autorretrato Nordeste – Quilombos de Alagoas”, retratando a realidade e as características próprias das comunidades quilombolas de várias regiões do estado.

A estudante abraçou a ideia e instigou as crianças e adolescentes do projeto a produzirem um olhar estético, crítico e social da própria comunidade em que vivem, através da fotografia. A viagem por este novo conhecimento vivenciado pelos pequenos iniciou com o ensino da história da fotografia.

A aluna apresentou às crianças maquinários antigos, que ainda dependiam de rolos de filmes para o registro de imagens, desconhecidos por todos até então. “O único envolvimento deles com a imagem se restringia a fazer uma ou outra ‘selfie’ com o uso de um aparelho celular”, conta.

Ao longo do aprendizado, estilos fotográficos e técnicas aplicadas foram sendo elucidadas e dando brilho à imaginação dos surpresos e entusiasmados alunos. “Meus familiares e professores da ONG ajudaram emprestando câmeras fotográficas digitais e celulares para podermos realizar a prática da captação de imagens”, comenta a universitária.

Revezando os maquinários disponíveis, organizados em duplas ou trios, a garotada registrou uma grande variedade de clicks, capturando o panorama rotineiro do Vale do Reginaldo, por meio da intimidade de suas percepções. Com um total de 40 participantes, entre 8 e 15 anos, e com 64 fotografias selecionadas, nos dias 7 e 8 de outubro foi realizada a mostra, na sede da ONG, com a exposição aberta ao público.

Segundo Beatriz, a criançada se descobriu gostando desta arte, deixando o olhar automatizado do dia a dia para trás e vislumbrando com maior singularidade suas percepções dos ambientes. “A fotografia transforma o olhar de quem se dedica a produzir imagens, e através deste instrumento, eles podem levar a comunidade para além, sendo um objeto de melhora social”, diz a acadêmica.

Kamila Silvestre Sampaio, tutora do polo Uninter Maceió-Fernandes Lima, foi convidada por Beatriz e prestigiou pessoalmente a exposição fotográfica, juntamente com Stefanie Barros da Silva, da área comercial. “Foi um trabalho muito significativo, que perpassou os muros do centro universitário tendo um impacto social positivo dentro da comunidade. Percebi também a grande curiosidade que ocorreu quando acessamos a ONG, e os familiares dos alunos puderam ver o trabalho realizado sendo prestigiado por uma universidade”.

Outro ponto levantado pela tutora foi a curiosidade das crianças acerca do que seria uma faculdade. “O que eu quis deixar da Uninter para eles é a possibilidade de se conseguir esse mesmo prestígio que eles estavam vivenciando, mas em um cenário futuro, por meio de uma graduação, sendo profissionais capacitados, que possam ser valorizados e transformados através da educação”, afirma a gestora.

Algumas peculiaridades dos produtores fotográficos foram observadas por Beatriz. Caio José dos Santos, de 11 anos, gosta de tirar fotos de paisagem. Emily Vitoria Oliveira, 14, intitulou sua foto de “Poluição Contínua”, pois mostra o rio que corta a comunidade repleto de lixo, com as criações de animais rodeando a todos e junto ao esgoto a céu aberto. Fabio Apolinário, de 9 anos, captou os trabalhadores em carroças, meio de transporte bastante utilizado na região. Já a fotografia de Jefferson Veríssimo, 14 anos, fez muito sucesso pela ótima luminosidade na captura da imagem de um cachorrinho, editada em preto e branco.

Beatriz tomou gosto pelo voluntariado e continua a desenvolver atividades com artes visuais com a meninada assistida pelo “Movimento Dando as Mãos”. Sua aspiração é praticar arte e educação, com projetos bimestrais, utilizando técnicas de mosaico, cerâmica e xilogravuras, com base no Livro de Cordel, ampliando assim o contato com outras técnicas artísticas.

“Quero que todos eles se desenvolvam e possam futuramente vender suas produções dentro dos bazares promovidos internamente pela ONG. O importante é abrir os olhos deles para todas as várias possibilidades existentes”, diz. Ela ainda busca recursos para levar os registros fotográficos do Vale do Reginaldo para fora da comunidade, visando expor no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, que é vinculado à Universidade Federal de Alagoas.

 

* Clique nas imagens para conferir o crédito dos autores.

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Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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