Evento de 3 dias discute as possibilidades de atuação para os profissionais de química

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Neste mês, o Conselho Federal de Química (CFQ) e os Conselhos Regionais de Química (CRQs) comemoram 65 anos desde que foram criados, em 18 de junho de 1956, sob a Lei nº 2.800, sancionada pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Hoje, há 21 conselhos regionais por todo o Brasil. Por isso, organizações e instituições de ensino comemoraram a semana dos profissionais de química entre os dias 14 e 18.jun.2021, com eventos realizados em todo o território brasileiro.

Na Uninter, a área de Exatas da Escola Superior de Educação (ESE), realizou a 1ª Semana Acadêmica de Química, comandada pelo coordenador de área, Paulo Martinelli, e os professores do curso de Química, Luciane de Godoi e Eduardo Araujo. Com o tema Perspectivas e possibilidades na profissão do químico, docentes da instituição e convidados externos debateram sobre os mais diversos cenários profissionais, desde o empreendedorismo, atuação de licenciados até a pesquisa científica, entre os dias 14 e 16.jun.2021.

Empreendedorismo científico e na área de bebidas

Na primeira noite de evento, a professora Maria Cristina Vasconcellos contou sobre sua trajetória profissional e um novo desafio, que encara desde o ano passado. Depois de 30 anos de magistério, 23 deles na PUC-PR, a química decidiu encerrar as atividades acadêmicas e migrar para o empreendedorismo científico, com a Open Innovation Pesquisa e Desenvolvimento. O debate de deu acerca de sete tópicos: empreendedorismo, ciência, empreendedorismo científico, como ser criativo, como empreender na química, como inovar e as startups.

Maria Cristina garante que, para empreender, é preciso ter “jogo de cintura” e pensar sobre o que quer fazer, além de observar as demandas ao redor. “Para sermos químicos, a primeira coisa que a gente faz é aguçar o senso de observação. Temos que estar muito ligados no laboratório, com os cinco sentidos. Quando empreendemos, esse senso acaba existindo também. A gente precisa unir o nosso conhecimento com o que posso aplicar em benefício ao outro”, afirma.

Observação, resiliência, cérebro com muitas ideias e muito café. Esse é o combo necessário para empreender, segundo a profissional. Além do mais, é importante ter visão, conhecimento técnico e fazer uma boa gestão. Saber se criar e se descobrir também é tão fundamental quanto criar um produto ou serviço. “O empreendedorismo científico é uma mistura de tudo isso, em que eu tenho meu sonho envolvido. Entender a técnica, relacionamento, me adaptar. Tenho que ter um pensamento diferente, empreendedor”, complementa.

A estudante de Química Fernanda Provesi e o pai dela, Orival Provesi, também participaram da conversa do dia 14.jun.2021, compartilhando a experiência que possuem no empreendedorismo da área de bebidas, empresa que a família possui há quase 21 anos. Orival diz que, apesar das dificuldades acarretadas pela pandemia, a equipe soube se renovar e agarrar as novas possibilidades de atuação. “Para ser empreendedor, tem que ser muito rápido, alternativo, não pode esperar muito”, salienta.

Com a disseminação da Covid-19, chegou também a primeira crise. A empresa estava habituada a vender toda a produção, já que atendiam a grandes eventos, mas estes foram impossibilitados de acontecer. Com isso, precisaram repensar a forma de trabalhar e passaram a vender os chopes em garrafas e kits, por exemplo.

Devido ao trabalho “pé no chão” das últimas décadas, com pensamentos a médio e longo prazo, mesmo em meio às dificuldades, a família conseguiu investir quase R$ 1 milhão, com recursos próprios. O crescimento permitiu a compra de um novo prédio, com investimento em energia solar. O empresário ainda prepara a produção e divulgação para novidades no próximo ano.

“Para empreender, não pode ter medo. Se tiver, não sai do lugar. Tem que ter muita coragem e correr atrás do seu sonho”, garante Orival.

A live completa, com os debates da primeira noite, pode ser acessada neste link. “São exemplos para que os nossos alunos possam pensar o que é ser empreendedor”, conclui o coordenador Paulo Martinelli.

Atuação do licenciado e pesquisas na área de divulgação

Dinamara Machado, diretora da ESE, realizou a primeira palestra da segunda noite de evento. A profissional abordou a construção da carreira profissional a partir de alguns pilares fundamentais, e acredita que “o problema é deixar de ter experiências na nossa carreira. Indiferente da idade, é deixar de fazer aquilo o que o teu coração pede e o que a sua razão está conciliando”.

Para a docente, a resiliência é o primeiro ponto importante. Isto, porque uma trajetória profissional não acontece “do dia para a noite, não é um conto de fadas”. Assim como conciliar a carreira com a família e outros lazeres, é preciso muito estudo e dedicação. Além do mais, é essencial “ser um profissional do seu tempo”. “Eu tenho que reconhecer o cenário em que eu estou. Este é um tempo de sustentabilidade, observar o diferente, o que posso fazer e projetar da minha cidade para o mundo, porque nós vivemos em uma sociedade globalizada”, garante.

Outra concepção apresentada por Dinamara é que, atualmente, a palavra que diferencia os profissionais é a colaboração. Segundo a diretora, a escuta ativa é o que faz projetos vencerem nestes tempos. “Ter a coragem de trabalhar coletivamente significa amadurecimento”, salienta. Da mesma forma que reconhecer a sociedade em que se vive, para entender o contexto social.

“Se tenho resiliência, sei o tempo em que estou, consigo fazer leitura desse tempo, trabalho de forma colaborativa, tenho foco. Qual é o foco? O melhor produto, com a melhor qualidade, porque quero ser um grande Jequitibá, eu quero fazer sombra, abrir caminho para outras pessoas. E eu só vou conseguir fazer isso se eu tiver foco”.

No segundo bloco, o professor Jailson Pacheco, mestre em química, com atuação na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), abordou os Desafios e perspectivas da pesquisa na área de educação em química. Jailson é doutorando e trabalha na pesquisa com a divulgação científica. “A escolha não foi à toa. A área seria a primeira a pensar o ensino de ciências na forma como tem hoje. A divulgação de informação em espaços não formais vem no ensino de ciências e hoje tem uma educação, tudo está entrelaçado nesse contexto”, explica.

O docente conta que, antes de uma formação específica em universidades para formar professores de ciências, os cientistas se reuniam em cafés para debates públicos. Naquela época, nem sempre o papel da mulher era permitido. E mesmo com todo o histórico, a área ainda está sendo construída. “Para discutir ciência na maneira que a educação exige, tem que ter uma formação multicultural e participação de todos”, ressalta.

Questionado sobre o porquê de ter o ensino de ciências como campo da pesquisa, Jailson afirma que sempre houve uma preocupação com a educação no geral, mas também sempre se teve a ideia de que “essa geração que está aqui é pior do que a anterior, que é mais comportada, sabia mais”. Para o profissional, a realidade é que “essa geração tem tanto conhecimento disponível que, às vezes, não consegue foca para uma área específica”.

“A primeira coisa que o campo de pesquisa na área de ensino tem que mostrar e tem que ficar claro, é que a área de ensino, como qualquer outra área, vai concentrar uma grande quantidade de informações, que precisa ser transposta para o público, o seu aluno em sala de aula ou participante de um café em um evento de divulgação científica, por exemplo”, conclui.

Os bate-papos com os professores do dia 15.jun.2021, seguem disponíveis para livre acesso.

Legislação e regulamentação da profissão

Na última noite, Jonas Comin, conselheiro do Conselho Federal de Química (CFQ), abordou o tema Profissão e atuação do químico. Jonas apresenta as legislações referentes ao exercício profissional e conta que os químicos só foram regulamentados em 1º de maio de 1943, com a aprovação do decreto-lei nº 5.452, sancionada por Getúlio Vargas. Um marco para a criação de conselhos profissionais, assim como para as atribuições de cada área e reconhecimento da profissão no Brasil.

Muitas pessoas confundem os papeis dos conselhos com os sindicatos, por exemplo. Por isso, o conselheiro destaca as formas do sistema de organização social, com as associações, clubes, sociedades, conselhos e ordem profissionais.

“A função principal do CFQ, e automaticamente dos CRQs, é fiscalizar o exercício da profissão de químico em todo o território nacional. Compete ainda, propor ao governo federal as modificações para a regulamentação do exercício da profissão. A partir disso, o próprio CFQ tem, desde sua criação, editado diversas resoluções para especificar, regulamentar, de acordo com o progresso, evolução da sociedade, todos os temas e todas as áreas”, explica.

Aos CRQs, também compete expedir as carteiras profissionais, examinar reclamações e representações relacionada a algum tipo de serviço, com a verificação de infrações e apresentação ao CFQ. As atribuições dos cursos de Química, registros profissionais e de empresas e responsabilidades das organizações são outros tópicos debatidos pelo profissional.

O impacto ambiental da mineralogia

Para encerrar as apresentações e celebração da semana dos profissionais de química, Hérlon Costa, geólogo e mestre em geologia exploratória, realizou uma palestra sobre Qualidade e meio ambiente com viés da mineralogia. O profissional afirma que para falar sobre o tema é importante entender o contexto em que os elementos químicos e minerais surgiram na natureza.

Neste sentido, Hérlon faz uma viagem ao passado geológico da Terra e conta toda a formação dos minerais. De acordo com o geólogo, nem todos têm uma importância econômica e os metais são os mais visados, devido às propriedades que os outros não apresentam e aplicações que não podem substituir tão facilmente ou com baixo custo. Entre os metais, estão ferro, cobre, chumbo, zinco, alumínio, ouro, prata, urânico, mercúrio, entre outros.

“O Brasil tem a maior mina a céu aberto do mundo de extração de ferro, que fica no Pará. Exporta ferro para o mundo inteiro, principalmente para a China e os Estados Unidos. Tem também grandes jazidas de minério de alumínio, que é uma empresa francesa, também no Pará, que extrai alumínio. Um dos minérios de alumínio mais puros do mundo. Por isso os metais são muito visados e tem alumínio, ferro em vários materiais. Você extrai esses elementos da natureza e pode criar ligas metálicas em laboratório, tornando a resistência deles ainda maior”, explica.

O profissional diz que a extração de minérios sempre causa algum tipo de impacto ambiental, “não tem para onde fugir”. Primeiro, porque a matéria-prima está no solo e subsolo, o que requer o desmatamento para tirar. Mas alguns são menos prejudiciais que outros e a interferência no processo de impacto também pode variar de acordo com o modo e custo, assim como a quantidade de rejeitos, separação e concentração. Por exemplo, a areia ou a brita têm pouco material descartado, “se aproveita quase 100% de tudo o que é extraído”.

Hérlon lembra que o relatório Planeta vivo de 2008 apontava que o consumo de recursos naturais excedia 30% da capacidade de o planeta se regenerar, já naquela época.

“Apesar de existir normas ambientais que regulamentam e fiscalizam a mineração, esta atividade provoca sérios problemas de degradação ambiental e socioeconômicos, que afetam diretamente a natureza e a qualidade de vida da população, se nós cientistas, engenheiros, químicos, não debruçarmos sobre os estudos e pesquisas e tentarmos descobrir métodos de se extrair o minério sem grandes impactos ambientais”, finaliza.

Os debates completos do dia 16.jun.2021 podem ser acessados aqui.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König


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