De difícil diagnóstico, desidratação em idosos passa desapercebida

Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo

Uma curiosa coincidência: o corpo humano e o planeta Terra apresentam em sua composição, proporcionalmente, a mesma quantidade de água, cerca de 70% de sua massa. Talvez não seja apenas acaso, mas uma prova da interconexão existente entre nós e a natureza.

Como um carreador de nutrientes, oxigênio e sais minerais, a água ajuda na hidratação corporal, e também na eliminação de substâncias tóxicas do nosso organismo, utilizando como veículos de saída o suor e a urina. Segundo as recomendações nutricionais do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, em concordância  com a Agência de Saúde do Canadá, a ingestão diária ideal de água, em qualquer idade, deve ser de no mínimo de 30 ml  por quilo de massa corporal.

Envelhecimento e desidratação

De acordo com a professora Fátima Denise Padilha Baran, diversos estudos apontam que o consumo de água pela população idosa, em especial, costuma ser abaixo do recomendado. Enfermeira de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, pós-graduada em Enfermagem Gerontológica e doutora em Enfermagem na área da saúde do idoso, ela comenta que a relação entre envelhecimento e desidratação é mencionada desde a antiguidade por filósofos. “Deve-se saber que os seres vivos são úmidos e quentes, e a velhice é seca e fria”, dizia o filósofo grego Aristóteles. “Ainda na pós-modernidade estamos trabalhando com essa questão. A água é parte constituinte do nosso corpo, sem ela todos os nossos sistemas entram em colapso”, afirma Fátima.

Conforme determina a National Health Service in England – Guidance Nutrition and Hydration, a desidratação é caracterizada pelo declínio da água corporal, que causa sintomas ou disfunções de órgãos e sistemas.

Fátima explica que a composição hídrica do corpo humano varia ao longo da vida, sendo de 90% em bebês, 70% na adolescência, 60% na fase adulta e 50% quando idosos. “Quando estamos mais velhos, nossa reserva hídrica fica menor. Existem literaturas que trazem até 40% de composição hídrica na senescência. Os idosos desidratam facilmente, não só pela pouca reserva hídrica, eles não percebem a falta de água no corpo, não sentem vontade de beber água. Seu centro de regulação da sede é disfuncional ou ineficiente e a percepção da sede também é menor”, complementa.

O difícil diagnóstico

O diagnóstico clínico de desidratação em idosos nos serviços de saúde não é muito comum, pois os sintomas podem ser confundidos com qualquer outra alteração apresentada pela idade avançada.

Deisi Forlin Benedet, coordenadora do Bacharelado em Enfermagem da Uninter, doutora em enfermagem pela UFPR, ressalta que sintomas como alteração de pressão arterial e desorientação em idosos podem ser sinais de desidratação, e muitas vezes não é atribuído nexo causal com esta falta de líquidos e hidratação do paciente.

Câimbras, dores de cabeça, tontura, fadiga, boca seca, diminuição do volume urinário, alteração dos batimentos cardíacos e falta de elasticidade na pele também podem ser considerados sintomas de desidratação.

Atenção à hidratação

Não é necessário haver episódios de diarreia ou vômito para uma pessoa idosa apresentar um quadro grave de desidratação. Segundo Fátima, um dia mais quente e com baixa umidade do ar já se torna um fator de risco para este público.

Muitas vezes o consumo de líquidos fica em segundo plano, frente às demais necessidades apresentadas no envelhecimento. Os banhos, aplicação de curativos e a administração correta de medicações são prioritários, não sendo dada a devida atenção ao consumo hídrico diário.

Maria Caroline Waldrigues, coordenadora dos cursos de Tecnologia em Gerontologia e Bacharelado em Gerontologia da Uninter, explica que avaliar a coloração da urina é um indicador relevante para analisar a desidratação. Enfermeira e também mestre em educação pela UFPR, afirma que a transparência caracteriza conformidade. “Quanto mais água ingerimos, mais clara e diluída é a urina, garantindo equilíbrio das funções renais.  Os rins filtram cerca de 150 litros de sangue por dia, perdemos de 1,5 a 3 litros de água, na excreção e urina. A água é um bem valoroso e pode prevenir doenças, principalmente em pessoas de idade avançada.

A velhice deve ser saudável

As professoras enfatizam que não se pode normatizar disfunções orgânicas em  pessoas acima de 60 anos. Para elas, um idoso saudável apresenta suas funções preservadas e fora deste contexto devemos encarar como anormalidade.

“A expectativa de vida no Brasil aumentou, sendo hoje de 77 anos para os homens e de 84 anos para as mulheres. A velhice deve ser saudável, com qualidade, não devemos aceitar certos fatores como normais”, salienta Maria Caroline.

O consumo mínimo diário de água recomendado para pessoas 60+, segundo as professoras, é de 1,5 a 2 litros, e pode ser estimulado através da oferta de sucos naturais, água de coco, chás e sopas.

“Água purifica, renova, traz energia, saúde e vigor, é algo maravilhoso”, conclui Fátima.

A desidratação em idosos foi um dos temas apresentados na SuperMaratona UninterTerra Planeta Água. O debate foi mediado pelo professor Andrew Silva Alfaro, tutor nos cursos de Gestão de Organizações do Terceiro Setor e Práticas Integrativas e Complementares, e foi transmitido pelo canal do Grupo Uninter no YouTube em 18.mar.2022. Você pode assistir à transmissão na íntegra através deste link.

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Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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