De boia-fria a primeira brasileira campeã mundial do boxe feminino, a história de Rosilete dos Santos

Autor: Yasmin Guedes da Silva - Estagiária de Jornalismo

A primeira brasileira a se tornar campeã mundial de boxe, Rosilete dos Santos, estreou de forma marcante a nova temporada do programa Papo de Arquibancada, transmitido no canal do YouTube da TV Uninter, ao lado da jornalista Renata Cristina. A pugilista paranaense, nascida na cidade de Castro, compartilhou os desafios de uma trajetória que começou longe dos ringues, trabalhando como boia-fria em zonas rurais do interior do Paraná. Ela detalhou os caminhos percorridos desde os ringues amadores até o pódio do esporte mundial, quebrou tabus sobre a maternidade e falou sobre a importância do seu legado.

Rosilete iniciou sua carreira em 2001, no boxe amador, após conhecer o boxeador Macaris Livramento, que se tornaria seu técnico e futuramente seu esposo. Relembrou os tempos difíceis em que o boxe era visto como uma modalidade exclusivamente masculina e contou que, na época, a notícia de que uma mulher iria lutar causou estranhamento e que só depois descobriu ser a primeira mulher paranaense a subir num ringue para uma luta oficial. A transição do boxe amador para o profissional foi outro ponto abordado, Rosilete explicou que a mudança significou recomeçar do zero. “O profissional começa tudo de novo, é uma nova carreira. Começa tudo do zero. São novas regras. Você começa uma luta, duas lutas, já tinha 16 lutas no amador e voltei para o zero. Mas faz parte”, detalhou a campeã.

Ela também vivenciou o duplo desafio de ser mãe e atleta de alto rendimento. Após o nascimento da filha, acreditava ter encerrado a carreira para dedicar-se exclusivamente à família. No entanto, um convite para disputar o título mundial na Alemanha, em 2008, surgiu quando sua filha tinha apenas dez meses, levando-a a uma decisão difícil. A atleta explicou que a recuperação da forma física foi uma batalha intensa, mas que a oportunidade era um sonho.

“Meu Deus, isso era tudo que eu queria, mas meu Deus, e agora? Eu acima do meu peso”, relatou. A logística da viagem para a Alemanha com a família toda foi uma condição essencial para que a luta acontecesse. Rosilete destacou como sua presença no exterior com a filha bebê quebrou paradigmas e se tornou um marco simbólico. “Fiz história lá na Alemanha por estar carregando um bebê. Imagina uma lutadora carregar um bebê. Não existe isso junto, não é?”, contou, entre risos.

A condição de campeã mundial de Rosilete vai além da disputa na Alemanha em 2008, que não resultou no título. Como ela explica, seu status de campeã permanece intacto por um reconhecimento especial: “Eu sou campeã emérita, gente. Então, mesmo aposentada, velhinha, acima do peso, eu continuo sendo campeã porque eu fui eleita nos Estados Unidos a campeã emérita”. Este título de campeã “eterna”, concedido pela instituição que representava, a WIBA (Associação Mundial de Boxe Feminino), consagra toda a sua trajetória e contribuição histórica para o boxe feminino. Enquanto as grandes entidades mundiais ainda não incluíam mulheres em suas disputas, a WIBA era a principal organização dedicada exclusivamente ao boxe feminino, e Rosilete se tornou a primeira brasileira a conquistar esse feito em uma entidade mundial de boxe, em 2013.

Sobre seu papel como pioneira, a pugilista refletiu sobre a dimensão inesperada de seu legado. Afirmou não ter noção, no início da carreira, do impacto que suas conquistas teriam para as gerações futuras. Rosilete expressou sua gratidão pelo reconhecimento que recebeu. “Não tinha realmente a noção. Eu sou muito grata ao carinho, principalmente da imprensa paranaense, pelo respeito, pela admiração, não só pelas lutas, pelos títulos, mas pela pessoa que eu sou, pela minha essência, de onde eu vim”, declarou.

Além da carreira vitoriosa, a atleta também falou sobre o trabalho social que realiza atualmente ao lado do marido. Enfatizou a importância de usar o esporte como ferramenta de transformação, promovendo eventos que lapidam novos talentos e, simultaneamente, arrecadam doações para famílias em situação de vulnerabilidade. “A gente sabe que a fome existe e a gente tem muitas famílias que a gente ajuda”, explicou, detalhando as ações que distribuem toneladas de alimentos.

A entrevista mostrou a força de uma mulher que desbravou caminhos inéditos no esporte nacional. Das mãos calejadas pelo trabalho rural às luvas que ergueram o cinturão mundial, Rosilete carrega nas costas não apenas a responsabilidade de representar um país, mas o peso de abrir caminho para todas as mulheres em um esporte que durante décadas lhes negou o direito de lutar, e vencer. Para mais detalhes, o bate-papo completo está disponível no canal do YouTube da TV Uninter.

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Autor: Yasmin Guedes da Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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