Fato e Impacto: Lei contra a adultização é sancionada

Autor: Ketlyn Laurindo da Silva e Nayara Rosolen

Em busca de alinhar as melhores práticas internacionais de segurança digital e de garantia dos direitos da infância, o Estatuto Digital da Criança e do Adolescente (ECA Digital) se tornou um marco legal no Brasil. Instituído pela Lei nº 15.211/2025, sancionada no dia 17 de setembro, a iniciativa fortalece a proteção de menores no ambiente online. Além de multas, o documento prevê sanções que vão desde a suspenção temporária até proibição de atividades. 

O assunto voltou à tona e ganhou repercussão na grande mídia após a denúncia do youtuber Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, que expôs o uso excessivo da imagem de menores em redes sociais. O vídeo, publicado no dia 6 de agosto, já conta com mais de 50 milhões de acesso. A psicóloga Simone Manzoki explica que a adultização não está somente na internet e alerta sobre os riscos.

 

 

No Brasil, a presença infantil no ambiente digital é expressiva: 93% das crianças e adolescentes têm acesso à internet e, entre eles, 83% já possuem perfil em redes sociais, muitas vezes antes da idade mínima permitida. Levantamentos apontam que 94% das crianças de 4 a 6 anos utilizam telas diariamente, enquanto sete em cada dez acessam redes sociais todos os dias.

A alta exposição também traz riscos: 29% dos usuários de 9 a 17 anos relatam ter vivido situações ofensivas ou constrangedoras online. O coordenador do curso de Psicanálise da Uninter, Cláudio Hernandes, salienta que a exploração do trabalho infantil é uma das formas de adultização que existem, assim como a sobrecarga de responsabilidades precoces. Na internet, a exposição também passa a ser uma fonte de renda.

 

 

O tema abre espaço para discussões sobre o sharenting, prática em que os pais e responsáveis expõem excessivamente a rotina e a imagem dos filhos nas redes sociais. Embora muitas vezes motivada pelo afeto ou pelo desejo de compartilhar momentos importantes, essa exposição pode gerar vulnerabilidades, desde a apropriação das imagens até a normalização de abusos.

Crimes digitais contra crianças seguem em crescimento alarmante. Quando um conteúdo sexualizado se propaga na internet, não existe controle sobre quem terá acesso. O que para alguns é inofensivo, para outros é a porta de entrada para uma rede de exploração e pedofilia. Esse cenário evidencia o agravamento da adultização quando associada à sexualização. 

 

 

Apenas em 2023, foram registradas mais de 71 mil denúncias de abuso e exploração infantil na internet, um aumento de 77% em relação ao ano anterior. Somente nos primeiros meses de 2025, mais de 49 mil casos já haviam sido notificados, o que confirma a tendência de avanço desse tipo de violação.

Manzoki afirma que crianças que têm sua imagem exposta de forma constante por adultos tendem a naturalizar a adultização. Contudo, essa vivência pode acarretar consequências psicológicas profundas, com reflexos que se estendem ao longo da vida.

 

 

A profissional alerta que, no contexto de jovens estarem cronicamente online, cabe aos adultos repensar os limites entre o registro familiar e a preservação da infância.

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Autor: Ketlyn Laurindo da Silva e Nayara Rosolen
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen e Gabrielle Piontek


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