Conservação dos biomas e desenvolvimento econômico devem caminhar juntos

Autor: Fellipe Fernades - Estagiário de Jornalismo

Uma sociedade socialmente mais justa se constrói aliando o desenvolvimento econômico e a preservação do meio-ambiente. Diferentemente do que alguns setores da sociedade querem demonstrar, preservar biomas e enriquecer uma nação não são objetivos contraditórios. Um dos caminhos para alcançar o desenvolvimento sustentável é por meio da Ecologia Social, que visa a transformação da sociedade em um ambiente com maior inclusão das pessoas e ambientalmente saudável.

As práticas educativas não formais e a ecologia social foram temas de uma palestra que fez parte da Maratona Ecos do Brasil, transmitida pela fan page Maratonas Para Desenvolvimento Sustentável Uninter, no Facebook, disponível aqui. As professoras Jandicleide Lopes, coordenadora do curso de Educador Social da Uninter, e Alessandra Galli, doutora em Tecnologia e Sociedade e advogada com conhecimento na área de educação ambiental se reuniram para um bate-papo.

“A perspectiva da ecologia social vislumbra a criação de uma sociedade com novas consciências, é uma abordagem crítica que considera os progressos industriais e tecnológicos, mas entende também que as relações humanas devem partir de um princípio e nível de consciência política, coletiva e social”, explicou Jandicleide.

A educação não formal é entendida como parte integrante da educação ambiental. O conhecimento verbal indígena, por exemplo, está fora das academias e não deve ser levado em conta como um conhecimento inferior por causa disso. “O Brasil não foi descoberto, foi colonizado. A nossa constituição traz um capítulo específico para tratar dos indígenas, eles são nossa população originária. Alguns homens brancos se acham superiores, desprezando seus conhecimentos e tradições. Eles têm uma relação de território muito diferente da nossa, diferente da nossa relação de acumulação. Embora tenhamos essas garantias todas na constituição, estamos longe da efetividade desses direitos determinados”, comentou Alessandra.

A partir de 1981, em decorrência da movimentação global causada pela Conferência de Estocolmo realizada na década anterior, foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil, primeira sistematização jurídica de normas ambientais no país. O documento compatibiliza o desenvolvimento socioeconômico, interesses de segurança nacional e proteção da dignidade da pessoa humana.

“A educação ambiental deve estar em todos os níveis de ensino, inclusive na comunidade, visando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. A capacitação da comunidade ocorre para que ela entenda seu papel e sua importância na defesa do meio ambiente. Estávamos em período de regime militar e temos uma das normas mais importantes até hoje. Não adianta só termos normas se não entendermos a sua importância”, explica Alessandra.

Todos temos direito a um meio ambiente equilibrado, isso está na constituição. Entretanto, formas de enriquecimento por meio da extração completa dos recursos naturais, sem pensar em sustentabilidade a longo prazo, fazem com que essa realidade fique cada vez mais distante. Globalmente falando, o que se vê são países centrais na estrutura capitalista transferindo suas produções (e consequentemente os danos ambientais de sua produção de riqueza) para países na periferia do capitalismo.

“Essa é uma visão de desenvolvimento e progresso equivocada, o que se tem muitas vezes em populações menos favorecidas é a transferência da exploração e da contaminação para essas comunidades. De modo geral, a divisão norte e sul do mundo já é um primeiro fator, mas neste sul a exploração e a poluição não atingem igualmente a todos. Muitos empreendimentos poluidores são instalados próximos a populações tradicionais, agredindo seus ecossistemas, modos de ser, fazer e viver, que é o que a constituição nos garante”, expõe a professora Alessandra.

Por mais que o Brasil seja um país independente desde o século XIX, o pensamento colonial ainda perdura na sociedade, o que, no entendimento das professoras, contribui para o colapso econômico e social que vivemos. “Que se mostre para as pessoas que é possível gerar emprego, renda, melhoria da qualidade de vida das pessoas, sem destruir a natureza, porque essa falácia, essa dicotomia extrema entre progresso e proteção da natureza nos trouxe onde chegamos”, lamentou Alessandra.

A professora Jandicleide propõe uma ação intercultural para a superação desse entendimento de desenvolvimento ultrapassado. “Temos que perceber a interconexão de todos com todas as coisas, não a separação. Tentar transcender, no cotidiano ordinário, essa prática colonial de que a gente tem que depredar, ser hostil, que o diferente não serve. A perspectiva da ecologia social se chama ecologia da liberdade, porque traz para responsabilidade de cada um essa perspectiva de atuação com generosidade”.

E Alessandra complementa. “Essas pequenas práticas, no volume, no todo, fazem diferença sim. A ideia das habilidades e competências. A gente tem que valorizar o que é nosso, parar de achar que apenas o que vem de fora é bom. O turismo é uma forma de desenvolvimento sustentável que pode sim ajudar no pós-pandemia. Valorizar nosso patrimônio natural, temos que nos unir e pensar em desenvolvimento sustentável. Nos unir para colocar em prática todos os pensamentos”, finalizou a convidada.

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Autor: Fellipe Fernades - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Rosario Xavier/Pixabay


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