Aprígio é condenado de manhã e inocentado à noite

 

Gabriel Bukalowski – Estagiário de Jornalismo

Arandir dá um beijo na boca de um rapaz estirado no asfalto, atropelado por um ônibus. A manchete de jornal fala de homossexualidade. Arandir é acusado de empurrar o amante ao encontro a morte. Há muitas versões, mas ninguém sabe o que realmente aconteceu. No desenrolar da história, Arandir é morto pelo sogro, Aprígio, que acaba declarando seu amor secreto pelo genro. Quase seis décadas depois, Aprígio foi submetido a dois julgamentos no mesmo dia. De manhã foi condenado, à noite foi inocentado.

Aprígio foi posto no banco dos réus pelos alunos do curso de Direito da Uninter. Os acadêmicos do primeiro período da manhã e os da noite participaram nesta quinta-feira (8), no auditório do campus Garcez, em Curitiba, do 12º Júri Simulado Literário de Direito, baseado na obra O Beijo no Asfalto, do escritor Nelson Rodrigues. A turma da manhã o condenou, a da noite o absolveu.

No livro, publicado em 1960, o protagonista beija a boca de um homem que acaba de ser atropelado por um ônibus. A abordagem sensacionalista de um jornal mostra Arandir como um criminoso que planejou a morte do amante e depois o beijou. Em meio à ambiguidade da morte de Arandir, o caso foi debatido pelos acadêmicos de Direito, levando Aprígio a julgamento.

O evento deste ano foi organizado pela professora Margarete Terezinha de Andrade, professora da língua portuguesa da Uninter. “Esse júri foi criado para incentivar a leitura, principalmente dos alunos do curso de direito. Sugeri uma pesquisa de obras clássicas para fortalecer a leitura, a interpretação e a argumentação”.

A proposta foi um incentivo para aos alunos para desenvolver os conhecimentos na hora defender teses e acusações. Eles foram divididos para exercer as diferentes funções dentro de um Tribunal do Júri. Alunos do primeiro período formaram a banca de defesa e a de acusação, tanto de manhã quanto à noite; um aluno do quinto período fez o papel de juiz; alunos de diversos cursos eram os jurados.

Para acadêmico Caio Garcia, o simulado foi uma forma de organizar os conhecimentos de várias áreas no campo, inclusive na hora de usar o linguajar correto para cada caso. “Através do simulado, pude aprender mais sobre processos, códigos e sobre a forma como devo agir diante do juiz e do réu. Tive certeza que é isso o que realmente quero”.

“Eu faço a seleção dos livros em que há homicídio apresentado de forma ambígua, ou seja, quando o criminoso não está explícito”, explica a professora. Além disso, professores de Direito auxiliavam os alunos a tirar dúvidas e dar apoio para a realização do evento.

Margarete diz não ter conhecimento na área jurídica, mas sente orgulho ao ver a participação e o envolvimento dos alunos com a literatura brasileira. “Eu não sou advogada, mas o importante é que eles fizeram. Tiveram a autonomia de fazer todo o trabalho, não interferi em nada”, comenta a professora, satisfeita com o resultado da apresentação.

Pais e demais familiares dos alunos compareceram no júri simulado para prestigiar o trabalho dos acadêmicos.

Edição: Mauri König

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