A ciência é construída com evidências, não com opiniões

Autor: Vitor Diniz - Estagiário de Jornalismo

Além de sofrer com os problemas sanitários e econômicos causados pela pandemia da Covid-19, as pessoas também estão cercadas pelas fake news, que geram dúvida, medo e pânico. As notícias falsas geram desinformação e colocam muitas vidas em risco.

Existem aqueles que insistem em acreditar que determinados medicamentos podem ser a solução para acabar com o coronavírus. Mas a comunidade científica, até o momento, afirma que não existe nenhum medicamento eficaz para curar ou evitar a contaminação pela Covid-19. Ainda assim, ouvimos relatos de pessoas que se sentem seguras por usarem medicamentos, e que acreditam que isso as torna imunes ao vírus. O fato é que não podemos refutar a ciência a partir de opiniões.

Para falar sobre os perigos da automedicação, sobretudo da importância de respeitarmos a ciência, a Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter organizou um bate-papo com os professores Cristiano Caveião, coordenador de área da Escola de Saúde, Ivana Busato, coordenadora do curso de Gestão Hospitalar, Benisio Ferreira Filho, coordenador do curso de Biomedicina, e Vinicius Bednarczuk de Oliveira, coordenador do curso de Farmácia.

Benisio destacou que o bate-papo era de caráter científico, e com um intuito educacional. “O mais importante nesse momento é mantermos a paciência, uma vez que os recursos estão chegando, e ainda persistem informações que causam mais desconforto do que ajuda. O motivo dessa live é ajudar as pessoas a filtrarem esse tipo de informação, trazendo conforto, e informar da melhor forma, para que tenham consciência do que está acontecendo e do que pode vir pela frente”.

Ivana tem vasta experiência na vigilância sanitária. Ela enfatizou que a pandemia da Covid-19 não acabará no ano de 2021, mas que a situação pode melhorar. “O coronavírus viverá entre nós, assim como a H1N1. Só haverá erradicação da doença se conseguirmos fazer a imunização de mais de 90% da população mundial, e se não houver variantes que nos obriguem a desenvolver novas vacinas para serem aplicadas na população nos próximos anos”, disse.

Benisio lembrou que a Uninter cumpre com a obrigação de lembrar que os profissionais de saúde devem pautar suas ações baseadas em evidências cientificas. Cristiano falou sobre o grande avanço da ciência, e que os profissionais de saúde realizam muitas pesquisas. “O problema é que muitas informações são disseminadas por meio de redes sociais, e de maneira errônea. Mas existem as revistas científicas que publicam aquilo que foi testado, validado, comprovado”.

Ele ainda abordou os diferentes tipos de conhecimento: o científico, que envolve tudo aquilo comprovado pela ciência; o conhecimento popular ou empírico, que é compartilhado de uma pessoa para outra; e os conhecimentos religioso e filosófico. “São muitas formas de se obter conhecimento a partir de vertentes diferentes. Hoje estamos falando de conhecimento científico, então a todo e qualquer profissional da área da saúde, independente da área de atuação ou de instrução desse profissional, ele deve sempre buscar evidências científicas da melhor maneira possível”, afirma Caveião.

A coordenadora do curso de Gestão Hospitalar disse que os serviços de saúde têm estruturas internas que discutem os procedimentos, pois existem protocolos assistenciais realizados por grupos de profissionais que trabalham para encontrar os melhores procedimentos, medicamentos, garantindo a melhor assistência aos pacientes. “Tem vários sistemas internacionais, com pesquisadores que fazem análises profundas das pesquisas científicas, e as pesquisas têm uma graduação de mostrar evidências. Por exemplo, uma pesquisa transversal, que é realizada com poucos elementos, que traz apenas uma informação, e não uma evidência, terá de ser pesquisada por outros profissionais da ciência”, explica.

Segundo Benisio, a chave da pesquisa científica é a reprodutibilidade, ou seja, a capacidade que os cientistas têm de replicar testes através de métodos científicos, fazer novas descobertas, ou até mesmo reafirmar descobertas realizadas por outras pessoas que trabalham na área científica. “Para que algo seja reconhecido cientificamente, é necessário que seja estudado através de uma metodologia que afasta outras hipóteses e outras possibilidades. Quando obtenho resultados através de pesquisas, mostro para a comunidade científica. A comunidade científica vai ver como desenvolvi minha análise, vai verificar os dados da pesquisa, e outros cientistas vão tentar reproduzir o que fiz. A partir disso a comunidade científica entra em um consenso de que algo existe, através das evidências”, explica.

Baseando-se em pesquisas científicas, os órgãos que regulamentam as profissões da saúde, os chamados conselhos profissionais, ouvem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e se for comprovado determinado estudo, é providenciada a liberação para que o profissional introduza na rotina clínica determinados métodos de tratamento de saúde.

O coordenador do curso de Biomedicina ainda afirma que jamais gravaria um vídeo com o celular, falando sobre os métodos científicos que utiliza em suas pesquisas, e publicaria nas redes sociais. Ele enfatiza que vídeos recebidos via WhatsApp, Facebook e Instagram não servem como base para validação. “Isso não é comunicação científica. Existem meios oficiais para apresentar pesquisas perante a comunidade científica, e após a validação da reprodutibilidade, isso pode ser aceito e considerado como parte da nova rotina clínica”, explicou.

A Ivermectina é um vermífugo usado para eliminar a presença de parasitas no corpo, e o medicamento teve uma alta explosiva nas vendas nesse momento de pandemia. Levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostra que as vendas da Ivermectina tiveram um aumento de 557,26% em 2020, se comparado a 2019. Uma parcela da população brasileira acredita que o medicamento ajuda no processo de imunização contra o coronavírus, e o utiliza no chamado “tratamento precoce”.

Vinicius lembrou que na bula da Ivermectina podemos verificar que não há nenhuma indicação de que o medicamento tenha eficácia na proteção contra o coronavírus. “A própria fabricante do medicamento, e que, portanto, seria a maior interessada nas vendas do remédio, já fez publicações afirmando que a Ivermectina não tem nenhuma eficácia no combate ao coronavírus”, explicou.

Você pode assistir à live completa, que aconteceu no dia 31.mar.2021, na página Escola de Saúde, Meio Ambiente e Humanidades – Uninter no Facebook.

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Autor: Vitor Diniz - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Fernando Zhiminaicela/Pixabay


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