“Foi a primeira vez que trabalhei em uma jornada esportiva com um time todo feminino”

Autor: Kauã de Freitas e Nayara Rosolen

Fascinada por televisão desde a infância, Renata gostava de ocupar o seu tempo de infância nos anos 2000 com a programação diária acessível, do jornal da manhã à novela da noite. Mais do que entretenimento, a TV despertava curiosidade e ajudava a entender o mundo. Estar na tela parecia algo “muito legal”, mas era a realidade transmitida pelo jornalismo que a deixava com uma sensação de “realização”.  

Foi assistindo ao programa Profissão Repórter que teve a certeza do caminho que queria seguir. O que ainda não imaginava é que, aos 28 anos, aquela menina que cresceu em frente à televisão seria reconhecida pelo próprio trabalho na Câmara Municipal de Curitiba (PR) e na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) pela atuação como jornalista. Mais do que conquistar a profissão que sonhava, ela integra uma geração que abre caminhos para muitas outras mulheres, em um campo historicamente dominado por homens, mas que marca a crescente visibilidade do talento e da competência feminina.  

Formada em Jornalismo pela Uninter, Renata realizou estágios na agência experimental Mediação e na Central de Notícias Uninter (CNU), onde hoje integra parte da equipe efetiva como assistente de comunicação acadêmica. Além disso, mantém trabalhos na área do jornalismo esportivo, em rádios web da capital paranaense, pelos quais foi homenageada e premiada, em novembro e dezembro de 2025.  

Renata e mais cinco jornalistas mulheres receberam reconhecimento e destaque na câmara dos vereadores e na Alep pelo trabalho realizado no projeto Total Esporte – Aqui é Diversidade, idealizado pela UniFM e composto por uma equipe 100% feminina em transmissão esportiva, algo inédito na região de Curitiba. 

Todas receberam uma menção honrosa proposta pela deputada Marli Paulino (Solidariedade), no prédio da Assembleia Legislativa do Paraná, no dia 11 de novembro. Além da entrega também dos diplomas de congratulações e aplausos na Câmara Municipal de Curitiba, promovido pelo presidente legislativo, Tico Kuzma (PSD), em 18 de novembro. Ainda no dia 2 de dezembro, as profissionais foram recepcionadas por Kuzma para os reconhecimentos individuais e uma conversa mais próxima, para entender o cenário atual do setor. 

A UniFM 94,5, rádio da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná (FUNPAR) em parceria com a D+ Comunicação, foi responsável pela transmissão do clássico entre Athletico e Coxa (Athletiba) no dia 28 de junho de 2025, na série B do campeonato brasileiro, e do campeonato de futebol amador, o Suburbana, no dia 2 de agosto. As marcas de audiência somaram mais de 8 milhões de visualizações, somente no clássico curitibano. 

Renata vê a premiação como um reconhecimento devido às mulheres em uma área predominantemente dominada por homens. “Esse prêmio veio como uma coroação. Claro que nós, como mulheres, temos um caminho grande para percorrer, mas só de saber que tem gente olhando o seu trabalho e que está valorizando isso, é muito importante. A gente quer e precisa ocupar mais esses espaços. Ainda em 2025, nós ouvimos que o futebol não é para a mulher e outras ofensas com esse intuito, e é justamente por isso, por não estar nesses lugares, que essas falas ainda circulam. A premiação é algo para mostrar que a mulher pode estar em qualquer lugar e onde ela quiser. Essa foi uma conquista muito bacana”, destacou. 

Do sonho à realidade  

A paixão pelo futebol se deu ainda na infância, embora por muitos anos a modalidade tenha sido colocada como “coisa de menino” no pensamento tradicional da família. O contato se deu aos poucos, a princípio por conversas que escutava entre o pai e o irmão mais velho. Mas o vínculo aconteceu de vez por volta dos nove anos de idade. “Passei a querer ter um time e comecei a torcer. Com o tempo, o futebol acabou se tornando parte do meu consumo diário e a paixão que me moveu durante muitos anos”, lembra Renata. 

Hoje, ela se torna exemplo dentro de casa para as novas gerações que chegam. Os sobrinhos, por exemplo, nunca questionaram a presença de mulheres no futebol e veem como algo natural, diferente do que ela viveu na infância. E como mãe de uma menina de dez anos, Maria Clara, a representatividade tem um papel ainda maior. Embora já tenha tido contato com discursos machistas, para Maria o preconceito não é algo que faça sentido, já que acompanha a atuação da mãe e fica feliz com a forma com que é reconhecida. 

“Eu amo que minha mãe seja uma jornalista e que ela se dedicou tanto para conseguir os prêmios dela, com tanto amor e carinho”, declara a filha. 

Para Renata, o amor pelo futebol se tornou uma possibilidade de profissão quando, em 2018, realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, no ano seguinte, conquistou uma bolsa de estudos do ProUni para estudar Jornalismo na Uninter. De acordo com a jornalista, as oportunidades na instituição se tornaram uma nova possibilidade de realizar o sonho, já que, em determinado momento, ele se tornou mais distante.  

“Após concluir o ensino médio, engravidei e me dediquei integralmente à minha filha nos primeiros anos, enfrentando também o julgamento social de que minha vida pessoal havia acabado”, conta.  

O primeiro convite para atuar em uma rádio web aconteceu em 2019, para um projeto voluntário realizado por colegas da faculdade, onde teve a experiência de participar de alguns programas. No ano seguinte, por meio de uma parceria com outro veículo tradicional da região, ingressou nas jornadas esportivas. As primeiras experiências vieram carregadas de desafios técnicos e de reflexo do machismo do meio, seguido do período conturbado da pandemia. Porém, o retorno ao gramado, pelo contrário, foi “maravilhoso”, de acordo com Renata. Mais oportunidades surgiram com iniciativas de inclusão de mulheres nas transmissões de rádios parceiras.  

Mas não só o futebol marca a atuação no jornalismo esportivo. Ela também já passou por outras modalidades, como futsal, bocha, esgrima, vôlei e, mais recentemente, até o boxe. “Para mim, cada esporte e cada partida carrega uma história única. Cada cobertura me traz conhecimento e me envolve bastante. Cada esporte traz consigo um significado muito grande para mim, não só profissionalmente, mas também pessoalmente”, garante Renata.  

Nesse meio tempo, a profissional também já atuou em agência e retornou ao jornalismo institucional na Uninter, onde também apresenta o program Papo de Arquibancada, na TV Uninter. Mas nunca deixou de lado a atuação nas transmissões esportivas. Mesmo na dupla jornada, afirma que o que a faz permanecer é a “paixão”. E ainda que deseje viver exclusivamente na editoria especializada, lembra que antes de ser jornalista esportiva, carrega consigo a profissão de forma integral. “O jornalismo é uma paixão. Sou muito apaixonada pelo meu trabalho e pelas coisas que faço”, salienta. 

“A coisa mais legal das coberturas é coloca a mulher onde ela deve estar, ou seja, onde ela quiser. Marcar a nossa presença, abrir aquele espaço. A parte mais desafiadora, é ser uma das poucas (…) ter que se provar constantemente e ignorar todo o entorno, sejam as ‘piadas’, os comentários maldosos em relação ao que eu sei ou até mesmo da minha aparência, e seguir em frente”, pontua Renata. 

A evolução percebida de mulheres na área é lenta, mas significativa. Isso a motiva e a faz pensar que o fato de estarem crescendo forma também uma rede de apoio necessária no meio. A profissional ressalta a coragem necessária entre as colegas de profissão para se exporem como comunicadoras, tendo consciência dos julgamentos constantes, que ultrapassam o profissional e chegam a ofensas pessoais. Por isso, a valorização e reconhecimento se tornam ainda mais importantes. 

“Foi uma experiência muito diferente estar cercada por mulheres em uma transmissão. Foi a primeira vez que trabalhei em uma jornada esportiva com outra mulher, e não só isso, com um time todo feminino (…) fiquei muito grata pelo reconhecimento. É importante ocuparmos esses espaços e valorizarmos isso, para que a sociedade entenda que as mulheres [no campo esportivo] não são um caso isolado. Tive o privilégio de estar ao lado de excelentes profissionais que já conhecia. Conheço o trabalho delas e sei o quanto são talentosas. Esse reconhecimento é importante porque reflete a coragem de mulheres que enfrentam resistências significativas”, afirma.  

Para Renata, o suporte oferecido pela Uninter durante a formação e o início da carreira profissional foi fundamental. A egressa menciona o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Univirtus, a tutoria e a metodologia que “facilita os estudos” como alguns diferenciais. E destaca a grade de professores “extremamente qualificada, que me deu uma base sólida tanto no processo jornalístico, como ética, prática e teoria, que me engrandeceu tanto quanto na minha formação pessoal e social”. 

“Em todo esse período, recebi muito apoio, aprendizado, feedbacks e paciência, o que me permitiu iniciar minha carreira no jornalismo dentro da própria instituição. Minha experiência foi extremamente positiva e transformadora”, conclui a jornalista.  

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Autor: Kauã de Freitas e Nayara Rosolen
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Fonseca/CMC, ALEP e Franklin de Freitas


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