Vírus Nipah: uma nova ameaça à saúde pública

Autor: Willian Barbosa Sales (*)

A saúde única é conhecida como uma forma holística de interligar e interrelacionar a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental. Acreditamos que viver e pensar no equilíbrio e interação dessa tríade é a única maneira de preservamos o planeta Terra em sua totalidade para as gerações futuras.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) fez um alerta que a população global poderá atingir 9,7 bilhões de pessoas até 2050. Algo terá de ser feito em relação à poluição de nossos sistemas de suporte à vida, água e alimento para essa população, uma vez que só temos um planeta, e, com essa quantidade de indivíduos, o aumento da propagação de doenças infecto contagiosas é alto, incluindo as zoonoses.

A humanidade terá de fazer uma importante transição para controle de seus recursos relacionados à tríade da saúde única para evitar os ciclos de explosão e colapso do suporte à vida no globo terrestre. No último ano, tivemos várias notícias de doenças emergentes e reemergentes de cunho zoonótico, em diferentes continentes do globo, passando por todas as mutações genéticas do COVID-19, Gripe Aviária e, neste último mês, o Vírus Nipah (NiV) que tem assolado a Índia.

O NiV pertence à família Paramyxoviridae e ao gênero Henipavirus. Foi identificado pela primeira vez em 1998, na Malásia. Seu reservatório natural são os morcegos frugívoros do gênero Pteropus, também conhecidos por “raposas”, que vivem principalmente na Ásia, Indonésia e Austrália. A transmissão do NiV para os humanos acontece via contato direto com os morcegos ou com seus fluídos corporais como saliva, urina, fezes e alimentos contaminados.

O vírus pode ser transmitido para outros animais de convívio com humanos como cães, gatos e animais de fazenda como cavalos, cabras e ovelhas. O NiV é um patógeno considerado prioritário pela Organização Mundial de Saúde (OMS), devido à sua propensão para causar surtos, e um patógeno de nível de segurança biológica 4, devido à indisponibilidade de tratamento eficaz ou vacina.

Apesar de apresentar sintomas leves em humanos, com a evolução e o desfecho da doença, alterações dos níveis de consciência e outros sintomas neurológicos podem surgir nos casos mais graves, levando ao coma entre 24 e 48 horas. O NiV possui uma alta taxa de letalidade, chegando aproximadamente a 70% entre os indivíduos infectados. Até o presente momento, não existe vacina ou medicação para prevenção ou tratamento da infecção.

Três tendências mundiais interrelacionadas podem estar exacerbando os riscos zoonóticos emergentes ao redor do globo como o NiV: crescimento da renda, urbanização e globalização. O crescimento da renda está associado ao aumento do consumo de proteína animal nos países em desenvolvimento, o que aumenta a conversão de terras selvagens para a produção de animais e, portanto, a probabilidade de surgimento de zoonoses. A urbanização implica maior concentração e conectividade das pessoas, o que aumenta a velocidade de propagação de novas infecções.

Por fim, a globalização facilitou a disseminação de patógenos entre os países por meio do contato interpessoal devido ao crescimento do comércio e das viagens. A contenção e a mitigação de novas doenças zoonóticas só ocorrerão com o auxílio da abordagem da saúde única, equilibrando os mecanismos existentes entre a saúde humana, animal e ambiental.

* Willian Sales é Biólogo, Doutor em Saúde e Meio Ambiente, Coordenador dos cursos de Pós-graduação área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter

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Autor: Willian Barbosa Sales (*)
Créditos do Fotógrafo: Reprodução/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA


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