Uma reflexão estética sobre o racismo

Autor: Barbara Carvalho – Jornalista

Existem diversos tipos de curvaturas e texturas de fios de cabelo, indo desde o liso até o crespo. Dentro disso, podemos considerar que realmente existe um cabelo bom ou um cabelo ruim? Questões como essa, que parecem ser corriqueiras e sem importância, são um dos milhares de motivos pelo qual pessoas pretas sofrem preconceito.

Lutar pelo reconhecimento da beleza diversa, como o tipo de cabelo, nariz e tom de pele é uma das bandeiras levantadas pelo movimento negro. Para discutir o racismo direcionado pela sociedade brasileira aos corpos negros nasceu o livro Racismo Estético: Decolonizando os corpos negros, do aluno de Segunda Licenciatura em Letras da Uninter, João Paulo Xavier, de Belo Horizonte (MG). “A Uninter foi a instituição privada que mais se aproximou do que acredito como educador”. João também é docente, pesquisador, mestre em linguística aplicada e doutor em estudos de linguagens.

Racismo Estético, segundo livro de João, traz uma reflexão que se origina de um episódio de racismo presenciado pelo próprio autor. Com depoimentos reais de pessoas negras que viveram situações de racismo, o livro conta com diversas narrativas autobiográficas. Além disso, a obra é resultado de pesquisa desenvolvida por um grupo de estudos do qual João participa.

“Dessa coleta de dados foram extraídas as respostas, e as mais impactantes foram escolhidas para serem analisadas. Nessa perspectiva, priorizei narrativas que apontavam as consequências dessas experiências e como os respondentes as superaram”, conta João.

De acordo com dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,10% dos brasileiros se declaram negros. Dos 210 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumem como pretos e 89,7 milhões de pessoas se declaram pardas. Houve um aumento de 32% no número de declarantes pretos ou pardos dos anos de 2012 a 2018. Mesmo sendo a maioria da população, as pessoas pretas ainda lidam com os desafios da invisibilidade e da falta de representatividade.

“Se você como pessoa negra ou parda não se vê representada, você é vítima de racismo estético e precisa se informar para que possa lutar para que a situação seja transformada. Não há transformação social sem educação e produção de conhecimento. Essa é a minha motivação, ver pessoas como eu representadas e consideradas em suas estéticas, arte e construções identitárias”.

A discriminação estética não está somente no preconceito com os traços da negritude, mas também em exemplos como projetos para criminalizar o funk, tapumes para esconder favelas e a cobertura de grafites. Esta é a proposta principal de João, “abordo a importância do acolhimento da beleza, da arte, das subjetividades e expressões estéticas plurais (negras, indígenas, sertanejas, ribeirinhas, brancas etc)”.

Mas João busca combater o racismo de outras formas, não atuando somente na sala de aula e no mundo da literatura. Nas redes sociais, ele administra uma página de humor no Facebook, “Nazaré, a Orientadora”, espaço em que também prioriza a educação e a informação. “Eu sou um educador. Em tudo que eu faço, seja a preparação de uma aula ou a brincadeira de fazer um ‘meme’, está um conhecimento ideologicamente direcionado”, ressalta.

Não à toa, o livro Racismo Estético será oficialmente lançado no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi criada em 2011 e faz referência a Zumbi dos Palmares, além de celebrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil.

“A estética é um construto considerado nobre, dentro do campo filosófico, por ser representativo das especificidades e expressões humanas. Quando a dimensão estética é negada a um indivíduo, automaticamente um apagamento identitário ocorre. O Brasil é um país diversificado em que podem ser encontrados vários tons de pele negra, por exemplo. Do mais claro ao mais retinto, reconhecer a beleza negra não é impô-la sobre a beleza branca. Acredito em uma educação libertadora. Na autonomia do sujeito. Na leitura da letra para ler o mundo e na transformação por meio da educação e do cultivo do hábito da leitura”, conclui João.

O livro Racismo Estético: Deconolizando os corpos negros já se encontra disponível para venda. Para adquirir, basta acessar o link aqui.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Barbara Carvalho – Jornalista
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *