Solidariedade e humanidade: qual sua rede de relacionamentos?

Autor: Dinamara Machado e Márcia Regina Mocelin*

A vida diária transcorre normalmente em nossa sociedade com todos os seus problemas e fragilidades, com todas as suas glórias e vitórias, e o mais importante nessa vida diária é como as relações se estabelecem, como elas se fortalecem ou como se estremecem. É bem verdade que o momento atual mudou a vida de milhares ou milhões de brasileiros, que se viram diante de situações inusitadas ou até então impensadas, mas também é verdade que antigos valores foram retomados. Como é possível estabelecer uma nova vida diante de velhos hábitos.

Diante de tudo que aconteceu e acontece é imprescindível pensar o convívio em sociedade sem adotar determinadas formas de se viver, e podemos citar que entre elas está a solidariedade. Porém, solidariedade não é uma palavra restrita aos necessitados, principalmente financeiramente. As pessoas mais abastadas podem necessitar da solidariedade de outrem em outras mais variadas situações, afinal inclusive podem sofrer de carência emocional. E bem sabemos que o dinheiro pode comprar muito, mas não compra amor, reciprocidade, verdade, carinho (…)

Com certeza podemos afirmar sem medo e sem sombra de dúvidas que a solidariedade é um ato humano nobre e necessário diariamente para que tudo possa andar de forma concatenada.

Como admitir em plena sociedade capitalista, vista por muitos como fonte de ganhar dinheiro e lucrar em cima de situações que são urgentes tal como a saúde. Como compreender que em plena miséria se espalhando pelo mundo, o mais forte quer ainda ficar mais fraco em detrimento dos mais fracos? Como conviver com os dados do IPEA retratados na pesquisa Distribuição de Renda nos anos 2010: uma década perdida para desigualdade e pobreza, em que a renda per capita dos 5% mais ricos subiu quase 9% no período 2015-2018, os 50% mais pobres da população viram sua renda média encolher 4%. O que temos experienciado nos últimos anos é o crescimento exponencial da pobreza econômica, e queremos crer que é possível reverter a pobreza econômica e humana.

Estaríamos ainda no campo da solidariedade e no caso de seu contrário, ou já adentramos outros valores como caráter, moral, ética…

Ser solidário significa ser reciprocamente responsável, colaborando efetivamente com o próximo e entendendo que essa generosidade retorna para cada um que pratica a solidariedade. Bondade, generosidade, colaboração, boa intenção, ajuda, são sentimentos que nos incitam a compaixão e compreensão dos sentimentos de todos, e principalmente ser um contribuinte sem esperar que algo similar ocorra em troca.

Costumamos dizer que pequenos gestos são extraordinariamente eficazes para transformar as pessoas e as circunstâncias em que se encontram. A pesquisa de Banerjee, Duflo e Kremer, ganhadores do Prêmio Nobel da Economia, mostra a pobreza como um problema multidimensional, que ultrapassa a falta de recursos financeiros.

As mudanças de micromundo são possíveis, nós podemos ajudar instituições, ser voluntários em algum projeto, doar roupas, objetos, doar sangue, ou simplesmente incentivar quem faz isso, encorajando-os e dizendo que acreditamos nesse trabalho solidário realizado, mas sempre que fizer qualquer desses atos é necessário que seja verdadeiro.

Ao contrário do que muitos pensam, ser solidário e ter esse valor como direcionamento de vida vai muito além de ser nato ou inato, está também focado no desenvolvimento de atos simples como empatia ou uma boa escuta. É muito importante estar bem consigo mesmo e conhecer a si mesmo para poder entrar nessa concepção de vida de ser solidário.

Na teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner de 1980, os estudos apontaram para a compreensão das habilidades cognitivas do ser humano em sua individualidade. Por mais que entendamos que o ser humano a partir desta teoria domina apenas uma ou duas das inteligências, destacamos a necessidade de conhecer as habilidades humanas experimentando estímulos e experiências que influenciam o desenvolvimento desta competência. Quando na Década de 90 iniciamos a disseminação dos pilares da Educação aprendíamos que é necessário APRENDER A SER E APRENDER A CONVIVER.

Com base nas inteligências, que são oito no seu total (Lógico-matemática; Linguística; Corporal-cinestésica; Intrapessoal; Naturalista; Espacial; Musical; Interpessoal e Existencial), cremos que a solidariedade pode estar na base das duas últimas inteligências citadas. A Interpessoal, porque são pessoas que tem facilidade em desenvolver relacionamentos e de entender o outro em suas emoções e desejos e a Existencial, porque sugere um ser humano de perfil mais questionador e que tem como atitude constante o questionar-se sobre o papel do ser humano e da humanidade, e o porquê das coisas serem e estarem como estão.

Segundo Gardner “Inteligência é a capacidade de identificar e resolver problemas e criar produtos de valor na própria cultura”, e essa é a grande questão que significa e ressignifica o ser humano, na tentativa de fazer da sociedade um local de convivência branda e de interculturalidade, somados a solidariedade responsável.

Venha e faça parte de uma sociedade possível, e que a única bandeira possa ser igualdade e equidade com respeito aos diferentes HUMANOS. E por último lançamos uma pergunta: de qual rede de relacionamentos você quer fazer parte? Daqueles que ajudam no desenvolvimento de um mundo mais justo e igualitário ou daquele grupo que apenas faz seu crescimento a partir da exploração dos outros?

* Dinamara Machado é diretora da Escola Superior de Educação da Uninter. Márcia Regina Mocelin é maestrina do Instituto Música e Arte.

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Autor: Dinamara Machado e Márcia Regina Mocelin*
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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