Sólida formação técnica do Itamaraty fortalece a diplomacia brasileira

Autor: Madson Lopes - Estagiário de Jornalismo

Diante de um impasse sobre quem abriria a primeira Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 1947, o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, oportuno, sugeriu o Brasil para realizar a abertura. Ali nasceu uma tradição que já dura 80 anos. Mesmo não estando prevista em nenhuma regra oficial, o costume brasileiro de abrir as reuniões da organização é respeitado por todos os 193 Estados-membros. 

Ao longo das décadas, o Brasil usou o espaço de maneira estratégica para fortalecer sua diplomacia. Mas num mundo tomado por tensões, o papel de relevância do Brasil frente às discussões mundiais é constantemente questionado. Em 23 de setembro, quando o presidente Lula (PT) participou da 80ª Assembleia da organização, reacendeu o debate sobre qual o tamanho do país nas relações internacionais. 

Foi sobre isso que tratou o programa da TV Uninter, Conversa com o Reitor, apresentado por Benhur Gaio. A edição, realizada no dia do internacionalista, 26 de setembro, recebeu o coordenador do curso de Relações Internacionais da Uninter, Guilherme Frizzera, e o professor do mesmo curso, André Frota. 

Os professores concordaram em considerar o Brasil como um ator cada vez mais relevante no tabuleiro diplomático. Eles avaliaram que a política externa brasileira tenta equilibrar pragmatismo e autonomia para defender seus interesses e projetar sua influência, especialmente no sul global, onde busca posição de liderança. Segundo eles, o país historicamente neutro e equilibrado, curiosamente, tem sua diplomacia fortalecida quando emplaca discursos mais ideológicos, como o de Lula na última Assembleia. 

No discurso, o presidente defendeu a soberania nacional como um sinal de resistência ao tarifaço norte-americano e destacou a necessidade de maior atuação da ONU frente às crises climática, migratória, de fome e em conflitos como o de Israel e Gaza — que classificou como um genocídio ao povo palestino. 

“Foi um discurso que tentou apontar para uma ordem internacional cada vez mais multilateral, com o sul global tendo mais voz. É uma contestação a uma ONU que ainda está presa a decisões concentradas em cinco países”, analisou Guilherme, se referindo aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos. 

Para Guilherme, o Brasil, ao mesmo tempo em que busca dialogar com Washington e Pequim, rejeita a submissão a ambos, que hoje travam uma guerra econômica e de influência. “[O Brasil] traz uma posição, ao menos discursiva, de um sul global que quer fazer parte dos que fazem as regras, de fazer essa transição para uma nova ordem mais democrática e multilateral, sem nenhum tipo de submissão a qualquer polo de poder”. 

Na mesma direção, o professor Frota lembrou que a busca pela autonomia e pelo desenvolvimento são vetores históricos da política brasileira. Mesmo durante o regime militar, quando o país esteve sob forte influência ideológica norte-americana, Frota explicou que o país logo buscou um alinhamento mais pragmático. “Tem certas tradições da diplomacia brasileira que não são de governos, elas já têm um adensamento da própria tradição de inserção internacional do Brasil”, pontuou. 

Muito dessa tradição, observam os professores, deve-se ao fato de o Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), possuir uma formação técnica sólida, imune, em grande medida, ao jogo político do Poder Executivo. Guilherme explica que o órgão se tornou muito mais de estado que de governo. “Entra presidente, sai presidente, ele mantém uma estabilidade”, explica. 

A razão para isso é que a política externa não é uma pauta prioritária ou de maior adesão popular, como segurança pública, saúde e educação. “O Itamaraty conseguiu não ser contaminado por essa pauta política e acabou gerando perfis técnicos em todas as áreas”, disse Guilherme, destacando que essa autonomia reafirma o compromisso do país na construção de uma ordem internacional mais justa e equilibrada. 

Assista à entrevista completa no canal da TV Uninter no YouTube. 

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Autor: Madson Lopes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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