Segurança alimentar em xeque: o impacto do surto de Salmonella no Canadá

Autor: *Willian Barbosa Sales

Um recente surto de Salmonella no Canadá, ligado ao consumo de pistaches e produtos derivados, acendeu um alerta global sobre os riscos invisíveis que rondam a segurança alimentar. De acordo com fontes oficiais e veículos confiáveis, 62 pessoas foram infectadas, incluindo 10 hospitalizadas, com idades entre 2 e 89 anos. Os produtos afetados incluem chocolates, sorvetes e baklava — uma sobremesa tradicional do Oriente Médio feita com camadas finas de massa filo, recheio de nozes ou pistaches e calda de mel ou açúcar, conhecida por sua textura crocante e sabor intenso.

Os itens foram comercializados em Ontário, Quebec e New Brunswick. A Agência Canadense de Inspeção de Alimentos (CFIA) orientou que os consumidores descartem ou devolvam os itens contaminados, destacando que alimentos com Salmonella podem não apresentar alterações visíveis, como cheiro ou aparência, mas ainda assim causar doenças graves.

Embora os sintomas de salmonelose geralmente apareçam entre 6 e 72 horas após o consumo de alimentos contaminados, o processo de confirmação laboratorial e notificação oficial pode levar semanas. Isso ocorre porque a investigação epidemiológica envolve a coleta de amostras clínicas, análise microbiológica, rastreamento da origem do alimento e comunicação entre diferentes órgãos de saúde pública. Esse intervalo reforça a complexidade da vigilância epidemiológica e a importância da educação sanitária e da comunicação rápida entre consumidores e autoridades.

Esse episódio internacional nos convida a refletir sobre as chamadas Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), que são causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados por microrganismos patogênicos, como bactérias, vírus, parasitas ou toxinas. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2007 e 2020, foram registrados em média 662 surtos por ano, afetando mais de 150 mil pessoas e resultando em 152 óbitos. Crianças menores de cinco anos representam 40% da carga global de DTHA, evidenciando a vulnerabilidade dos grupos mais frágeis da população.

Entre os agentes etiológicos mais comuns está a Salmonella spp., uma bactéria gram-negativa que habita o trato intestinal de humanos e animais, podendo ser transmitida por alimentos contaminados, especialmente carnes cruas, ovos, leite não pasteurizado e vegetais mal higienizados. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece critérios rigorosos para sua detecção. A Instrução Normativa nº 60/2019 exige a ausência de Salmonella em 25 gramas de amostra em alimentos prontos para consumo. Já a RDC nº 724/2022 define os padrões microbiológicos para diferentes categorias de alimentos, reforçando o controle sanitário na cadeia produtiva. A presença da bactéria pode causar febre, diarreia, vômitos e dor abdominal, podendo evoluir para quadros mais graves em idosos, crianças e pessoas imunocomprometidas.

A prevenção de surtos de Salmonella exige uma abordagem integrada e contínua. Entre as principais medidas estão a educação sanitária para manipuladores de alimentos, a fiscalização rigorosa em estabelecimentos comerciais e industriais, o tratamento adequado da água utilizada na produção, o cozimento completo de carnes, ovos e vegetais, a separação de alimentos crus e prontos para consumo, o armazenamento em temperaturas seguras e o monitoramento laboratorial constante por órgãos como os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) e a própria ANVISA. Além disso, o fortalecimento da vigilância epidemiológica e a comunicação transparente com a população são essenciais para evitar que surtos como o do Canadá se repitam em território nacional.

Em tempos de globalização alimentar, onde produtos cruzam fronteiras diariamente, o Brasil precisa reforçar seus mecanismos de controle, investir em educação sanitária e garantir que a segurança alimentar seja uma prioridade de saúde pública. O surto canadense não é apenas um problema local, é um alerta para todos nós.

 

*Willian Barbosa Sales é Biólogo, Doutor em Saúde e Meio Ambiente, Coordenador dos cursos de Pós-graduação área da saúde do Centro Universitário Internacional UNINTER.

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Autor: *Willian Barbosa Sales
Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal/Banco Uninter e Gül Işık/Pexels


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