Saúde humana depende da preservação ambiental

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Hipócrates, considerado o pai da epidemiologia, há mais de 2.000 anos já dizia que a saúde é resultado do equilíbrio entre os elementos naturais e o ser humano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a biodiversidade e os ecossistemas são pilares centrais para a vida no planeta. São fontes de alimentos e ingredientes essenciais de medicamentos, compostos medicinais, combustível, energia, além de meios de subsistência, enriquecimento cultural e espiritual.

“Com toda essa biodiversidade estando em equilíbrio, é possível a gente ter água limpa, ar limpo, e nós não temos outro planeta para ir. Não adianta, nós temos que cuidar desse aqui. Se nós formos para outro planeta, nós seremos um elemento estranho, porque lá estará com o seu equilíbrio, nós seremos os invasores. O planeta Terra se desenvolveu em um equilíbrio perfeito entre toda essa biodiversidade, de todos esses elementos. Então, seus desequilíbrios provocam algum tipo de adoecimento no ser humano”, ressalta a professora Ivana Busato, coordenadora dos cursos de Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública da Uninter.

Ivana lembra a situação de racionamento de água que a cidade de Curitiba (PR) tem sofrido nos últimos meses, devido à falta de chuva. A profissional explica que preservar não é deixar o meio ambiente intacto, mas utilizar os recursos encontrados nele de maneira consciente, pensando na sua disponibilidade para as próximas gerações. Caso contrário, mudanças radicais podem acontecer, provocando danos à saúde.

Além da pandemia do Covid-19, outras doenças emergentes surgem por causa do comportamento inconsequente do ser humano. A febre amarela, a dengue, a zika e a chikungunya são algumas delas. Essas epidemias resultam do desmatamento e da ocupação humana. As patologias seguem em equilíbrio em matas e florestas, mas quando os animais são obrigados a saírem de seus habitats naturais, levam junto doenças que o organismo humano não está preparado para receber.

Assim como as doenças transmissíveis, as não transmissíveis podem estar relacionadas à redução da diversidade microbiana no ser humano. Entre elas, a diabetes tipo um, esclerose múltiplas, distúrbios alérgicos, asma, doenças inflamatórias intestinais. Um fator para isto é o auto medicamento, prática com frequência alarmante no Brasil.

“Eu tenho que pensar de uma forma holística, eu tenho que pensar a união de todos esses seres vivos. E isso a gente só consegue com o conceito da saúde única, quando eu junto a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental. A gente não pode mais pensar isso de forma desmembrada e a pandemia que nós estamos vivendo nos mostrou isso”, diz Willian Sales, coordenador dos cursos de pós-graduação na área de saúde da Uninter.

Segundo Sales, hoje há um transbordamento zoonótico. O termo se refere à quando um vírus silvestre sofre mutação e passa para outra espécie, replicando até chegar nos seres humanos. De acordo com o profissional, isso acontece única e exclusivamente por invasão de espaço alheio. “Nós, seres humanos, estamos invadindo cada vez mais áreas protegidas, estamos invadindo cada vez mais o espaço delimitado por umas espécies de forma desordenada”.

Uma dessas ações seria o crescimento agropecuário. Para ele, esse processo precisa acontecer, mas é necessário um equilíbrio que não é visto, já que os indivíduos estão invadindo espaços sem pensar nas consequências ao longo dos anos. Ele afirma que a situação que se vive hoje com a pandemia pode ser resultado de ações de quinze, vinte, trinta anos atrás. Outro ponto importante para Sales é a comercialização de animais silvestres, que merece acompanhamento mais cuidadoso.

“Eu tenho que respeitar a cultura local, mas tenho que verificar questões locais que fazem essas pessoas consumirem a carne desses animais silvestres sem nenhum tipo de acompanhamento, para saber se esse animal está ou não doente e assim sucessivamente. São ‘N’ fatores que a gente tem que avaliar”, afirma.

Alguns dos principais impactos negativos no meio ambiente, segundo o profissional, são a perda e alteração da biodiversidade, a exploração predatória nos recursos naturais, a introdução de espécies exóticas no nosso ecossistema e o aumento de tóxicos no ambiente. Ele salienta que os recursos naturais não são infinitos e que o contato com espécies nativas de outros locais pode gerar o surgimento de patologias graves.

Ivana lembra que também existem interações positivas entre homem e a biodiversidade. Por exemplo, a criação de áreas protegidas, fornecimento de água e ar limpos para situações críticas, como a regulação de pragas e doenças, a fabricação de medicamentos e a produtividade agropecuária.

“Nós já vimos que o planeta Terra tem uma resiliência grande e tem a capacidade de se reequilibrar, basta nós colocarmos em prática. Nós temos que começar aqui e agora, respeitando a biodiversidade com equidade, solidariedade e com empatia. E com respeito à dignidade humana, que nunca é demais”, finaliza a profissional.

Os professores debateram o assunto na palestra A importância da biodiversidade para a saúde humana, que fez parte da Maratona Ecos do Brasil, transmitida através da página Maratonas para desenvolvimento sustentável Uninter.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Martinvickery/Pixabay


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