Racismo estrutural e os exemplos televisionados: De Vini Junior a Davi do BBB 24

Autor: *Maristela R. S. Gripp

Recentemente, a entrevista coletiva em que o jogador Vini Junior chorou gerou uma grande repercussão no mundo todo. O atleta é um dos melhores da sua geração, mas isso não o protegeu contra os constantes ataques racistas que vem sofrendo todas as vezes que entra em campo na Espanha. O jogador disse que, por causa do racismo que sofre todas as vezes que entra em campo, já não sente prazer em jogar.

Enquanto isso, aqui no Brasil, o evento do momento é o Big Brother Brasil. O programa está na sua 24ª temporada e segue gerando polêmicas. Dessa vez, o país viu em rede nacional um jovem negro, Davi, ser destratado da forma mais vil por alguns participantes da casa. Davi foi o campeão da edição, mas durante o programa, o participante pensou em desistir várias vezes, diante da dificuldade em revidar as ofensas. Os ataques têm cunho racista e revelam o pior do nosso país: o preconceito racial e o racismo estrutural.  

Um dos preconceitos mais reproduzidos no Brasil é o preconceito racial que afeta a vida de pessoas negras física e mentalmente.  O Brasil possui a maior população negra fora da África. Os negros são atualmente 56% da população, mas ainda assim, sofrem com a violência e o desrespeito em todas as instituições sociais. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, houve um crescimento de 50% nos registros de ocorrências de racismo e injúria racial. Já está comprovado que uma pessoa negra tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinado no Brasil. A cada 10 pessoas assassinadas no país, 8 são negras. Isso comprova que o racismo mata, à medida que desumaniza o corpo negro tratando-o como um animal ou como pobre e bandido.   

O professor e ministro Silvio Almeida afirma que a sociedade brasileira foi construída sobre as relações escravagistas implementadas aqui, durante o período colonial. Foram essas relações que relegaram as pessoas negras ao lugar de subalternidade e que deram origem ao que se passou a chamar de “racismo estrutural”, isto é, um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas no dia a dia da população que promove, mesmo quando não há intenção, o preconceito racial.  

De acordo com a presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Débora Gonçalves, o racismo estrutural fica configurado quando a ordem jurídica, política e econômica preserva “os privilégios brancos” e cria condições de prosperidade para apenas um grupo. Isso fica muito claro quando pessoas negras e brancas estão concorrendo a uma vaga de emprego. A pessoa negra, mesmo com uma ótima formação, é quase sempre descartada ou ganha bem menos que uma pessoa branca na mesma posição.   

Infelizmente, o jogador Vini Junior e o participante do BBB 24, Davi, não serão os últimos negros a serem tratados com desprezo e violência pela sociedade.  O racismo e o preconceito ainda farão as suas vítimas fatais ou não. Até o dia em que vejamos o outro como nosso igual, isto é, alguém que também é digno de respeito e amor. O dia em que seremos capazes de superar aquilo que nos diferencia e separa, para sermos apenas humanos.  

*Maristela R. S. Gripp é Doutora em Estudos Linguísticos, Psicopedagoga e Profa. do Curso de Letras no Centro Universitário Internacional UNINTER 

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Autor: *Maristela R. S. Gripp
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube/Real Madri/ Wikimedia Commons


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