Quando o cuidado adoece: falhas evitáveis no atendimento custam vidas

Autor: *Vaniele Silva Pinto Pailczuk

Todo mundo que procura atendimento de saúde espera sair melhor do que entrou. Mas nem sempre é isso que acontece. Há situações em que o cuidado, em vez de curar, causa novos danos, e o pior é saber que muitos desses casos poderiam ser evitados. Segundo o Relatório Global de Segurança do Paciente de 2024, da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um em cada dez pacientes sofre algum tipo de dano durante o atendimento à saúde, e metade desses eventos poderiam ser evitados.

A OMS define segurança do paciente como a redução ao mínimo aceitável do risco de danos desnecessários, mas estamos longe de tornar isso uma realidade. Os erros mais comuns incluem medicação na dose ou no paciente errado, cirurgias realizadas em local incorreto, infecções associadas ao cuidado e quedas durante a internação. Não são acidentes inevitáveis; são falhas de processo, de comunicação e de cultura institucional.

Eu, como profissional de saúde, sei que essas situações nem sempre resultam de descuido. Muitas vezes, nascem de processos falhos, da sobrecarga das equipes e da falta de protocolos aplicados corretamente. As seis metas internacionais de segurança do paciente mostram por onde começar: identificar corretamente cada paciente, usar medicamentos com segurança, melhorar a comunicação entre profissionais, prevenir infecções, reduzir quedas e evitar erros cirúrgicos. Não são apenas normas técnicas, mas compromissos éticos com cada vida atendida.

Mas o que fazer quando o erro acontece? Mais do que buscar culpados individuais, precisamos aprender com as falhas para que não se repitam. Isso significa investir em treinamento, protocolos claros, tecnologia que apoie decisões clínicas e, principalmente, uma cultura de transparência, em que admitir falhas não seja sinal de fraqueza, mas de responsabilidade.

Já vi mudanças simples evitarem tragédias. Também já vi erros conhecidos se repetirem porque ninguém quis falar sobre eles. Fica a pergunta: vamos continuar tratando danos evitáveis como acidentes ou assumir, de uma vez por todas, que segurança do paciente é tão essencial quanto qualquer tratamento? Quando o cuidado adoece, não é o sistema que paga a conta; são as pessoas. E isso não pode continuar.

*Vaniele Silva Pinto Pailczuk, enfermeira, especialista em UTI/ Urgência e Emergência, professora e tutora de cursos de pós-graduação na área da saúde no Centro Internacional Uninter.

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Autor: *Vaniele Silva Pinto Pailczuk
Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal/Banco Uninter e Karola G/Pexels


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