Qual o papel dos homens na luta contra a violência sofrida pelas mulheres?

Autor: Gladisson Silva da Costa*

Os acontecimentos recentes em nosso país demonstram como ser mulher no Brasil é difícil e perigoso. Vimos o caso de uma menina de 11 anos que, mesmo amparada pela lei, foi impedida de interromper a gravidez (fruto de um estupro) e o caso da atriz que, também vítima de um estupro, decidiu não interromper a gravidez e entregar o bebê para adoção e, mesmo assim, foi julgada e atacada pela opinião pública.

Agora, nos deparamos com o caso de um médico anestesista que, usufruindo do seu status quo (homem, branco, médico), se sentiu à vontade e confiante o suficiente para, a pouco mais de um metro de outros profissionais, estuprar uma mulher sedada durante a realização de uma cesariana.

Esses casos deixam bem claro que vivemos em uma sociedade patriarcal marcada pelo machismo estrutural, e expõem a triste realidade de que os corpos femininos não estão seguros em absolutamente nenhum lugar. Entretanto, uma outra questão me chamou a atenção. Pouquíssimos homens se manifestaram publicamente sobre esses casos.

Ou seja, essas atrocidades foram jogadas na cara de toda a sociedade minimamente informada, mas geraram debate, revolta e indignação basicamente em círculos femininos. Na TV e na internet, além dos jornais, apenas publicações ligadas a um público majoritariamente feminino se propuseram a refletir sobre essas violências.

Claro que temos aqui um recorte de gênero muito claro, mas esses casos mostram que esse é um problema estrutural e, por isso, precisamos que toda a sociedade se mobilize para enfrentá-lo. O protagonismo sempre será feminino, mas os homens, enquanto aliados de uma pauta feminista, precisam utilizar seu lugar de privilégio nessa sociedade para questionar e problematizar essas questões. Nós, homens, precisamos participar desse diálogo, ou então, as mulheres continuarão falando sozinhas.

Em tempos bélicos, é preciso destacar que esse posicionamento não pode se restringir a um punitivismo vazio, do tipo “é só matar o estuprador que resolve”. Precisamos refletir que tipo de sociedade é essa que permite que mulheres sejam objetificadas de tal forma, que sejam violentadas na rua, no trabalho, em seus lares, em uma mesa de cirurgia.

Nós, homens, precisamos, com urgência, ouvir as vítimas e admitir de uma vez por todas que os estupradores não são apenas desiquilibrados e “doentes”, como muitos gostariam de bradar, pois, assim, seria muito mais fácil digerir o problema. Essa violência toda é perpetrada por homens, como eu e você, que são namorados, irmãos, padrastos, amigos, professores, companheiros e médicos de mulheres.

Precisamos refletir, mas também agir! Vamos estudar sobre sexismo, misoginia e sobre como (re)construir uma masculinidade não opressora, sem esperar que as mulheres nos ensinem como fazê-lo. Isso não é obrigação delas. Vamos ouvir o que as mulheres têm a dizer e respeitar o que está sendo dito por elas. Respeitemos, portanto, os limites das mulheres: não significa não, ponto final. Não devemos policiar os corpos ou vozes das mulheres – e de ninguém. As mulheres são seres autônomos, que não existem para o satisfazer nossos desejos e expectativas.

Há espaço para homem como aliado na luta feminista. E é justamente refletindo sobre nossos privilégios e enfrentando o nosso próprio machismo, dos nossos colegas e amigos.

Ou nos posicionamos e, principalmente, mudamos nossas ações para implodir essa cultura machista e misógina ou as mulheres (nossas conhecidas ou não) continuarão sendo oprimidas, violentadas, julgadas e mortas!

* Gladisson Silva da Costa é especialista em Metodologia do Ensino de História, professor dos cursos de Letras e História da Uninter.

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Autor: Gladisson Silva da Costa*
Créditos do Fotógrafo: Karolina Grabowska/Pexels


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