Punk rock: batidas fortes e antipatia à cultura vigente

Autor: Daniela Mascarenhos - estagiária de jornalismo

Quem nunca teve sua fase rebelde na adolescência? Se você viveu a rebeldia ao extremo por volta de 1976, é muito provável que tenha passado pelos moicanos e músicas com ritmo intenso do punk. Na Inglaterra, o movimento foi muito marcado por bandas como a The Clash.

O próprio nome da banda já remete ao punk rock, já que significa choque, conflito, estrondo, etc. Quem é fã sabe que o som deles vêm como uma coisa mais dura, agressiva e com poucos acordes, como se realmente quisessem destruir algo. Características bem marcantes do punk.

A professora da Escola Superior de Línguas da Uninter, Edna Marta, mais conhecida como Teca, conta que, “eu só tinha 12 anos quando a The Clash surgiu, mas já me fisgaram desde aquela época”.

Ao contrário do que muitos pensam, o movimento punk teve início nos Estados Unidos e não na Inglaterra, em um pub chamado Country, Bluegrass e Blues (CBGB) ou também conhecido como O berço do Punk Rock. O local era muito frequentado por várias bandas que começavam com o movimento e, para apoiar novos artistas, o clube só permitia que tocassem músicas autorais.

O clube foi inaugurado em 1974 e não existe mais, mas a sigla permanece viva em camisetas de seguidores do movimento e de muitas bandas.

Assim como todo movimento artístico reflete um momento histórico social, com o punk não seria diferente. Quando o movimento migrou para a Inglaterra, chegou justamente no período de uma tensão política econômica muito forte no país.

“Se você pega a música de bandas como o Sex Pistols, por exemplo, encontramos a música God Save The Queen (Deus salve a rainha) que faz uma crítica à monarquia. É muito emblemática a imagem da rainha da Inglaterra dentro do movimento punk com a bandeira do Reino Unido”, comenta Teca.

É muito interessante quando paramos para pensar nos anos 1960-70. Foi quando o mundo virou de cabeça pra baixo. Tivemos a revolução sexual, o homem foi pra Lua, aquele conservadorismo da sociedade foi posto em xeque, houve os movimentos estudantis na França, ou seja, uma época marcada por uma efervescência cultural muito grande.

“Um período pós-Segunda Guerra, Guerra Fria, tínhamos a guerra do Vietnã também. Obviamente a cultura refletiu isso. Nesse mesmo período nós temos o movimento hippie, paz e amor, viver em comunidade, faça amor, não faça guerra. E o movimento punk era exatamente o oposto! Não tinha nada de bonitinho, lindinho ou meigo, era uma coisa agressiva. E aí, diferentemente do movimento hippie que promovia essa coisa de comunidade, o punk ia pro individualismo e independência. Eles trouxeram essa vertente muito forte dentro do movimento”, explica a professora.

Esses aspectos do punk rock refletem muito o panorama da economia da época: cada um por si e Deus por todos para dar conta dessa situação econômica grave. “Acho muito interessante esse contraste de movimentos. Ambos são contemporâneos, refletivos desses problemas da sociedade, mas com propostas diferentes e que tomaram muita força na Inglaterra durante esse período”, diz Teca.

Way of Life do Punk

Não é supressa que a forma de viver e as características do punk não são restritas às suas músicas. A questão do sarcasmo, aquele interesse pelo grosseiro e ofensivo já são aspectos clássicos que podem ser observados durante todo o contexto histórico.

E, para aqueles que pensam que o conceito de DIY (faça você mesmo) surgiu com a moda das influencers digitais, está muito enganado. “Esse conceito já era utilizado no movimento punk, eles mesmos customizavam suas próprias roupas, por exemplo”, explica Teca. Não somente as roupas, mas também de serem independentes em relação às grandes corporações.

Segundo a professora, “eles optavam por gravadoras menores, independentes e também foi uma época muito marcada pela produção de fanzine (revista de fã) com base na fotocópia, xilogravura, desenhos, recortes, tudo feito manualmente. Para fugir dessas grandes corporações, eles optavam pela produção artística”.

A reutilização de roupas e símbolos de conhecimento geral em um novo contexto bizarro era uma moda muito frequente também, como por exemplo, a já citada imagem da Rainha da Inglaterra utilizada pela banda Sex Pistols. A crítica social vinha entre esses gestos e formas de se expressar.

E, não passível de esquecimento, o desprezo por toda e qualquer ideologia de ordem política ou moral. Também, muito embutido pelo pessimismo: se você não tem perspectiva de progresso, que futuro pode enxergar, não é? Por conta desse desprezo pelas ideologias, o anarquismo foi muito associado ao movimento punk.

A professora explica que, “o anarquismo é contra qualquer tipo de domínio ou autoridade, eles promovem o amor livre, não existe hierarquia. Então todos os valores morais, sociais e políticos não existem ali”. Nesse contexto, o movimento punk se apropria dessa ideologia também. Não é à toa que o símbolo do anarquismo percorre o movimento.

Dentro de todo esse panorama da Inglaterra, as bandas obviamente eram formadas pelas pessoas mais pobres que tinham inúmeros motivos para criticar os sistemas políticos e econômicos. A professora Teca conta que “a própria banda The Clash se envolvia em questões políticas. Eles apoiavam os rebeldes sandinistas na Nicarágua. Um grupo terrorista na Nicarágua que lutava contra a ditatura dos Somoza”.

O nome do movimento sandinista vem do nome de Augusto César Sandino, um guerrilheiro que entre 1926 e 1933 já lutava contra a influência dos EUA, que ocupavam a Nicarágua desde 1912.

Mas, mesmo sendo contra ideologias, ainda assim grupos que eram considerados minorias acharam sua voz no punk. “Dentro da política punk as mulheres encontraram seu espaço para serem vocalistas de bandas, terem suas próprias bandas. Não que o discurso feminista fosse uma ordem dentro do movimento, mas ali as meninas tinham algum espaço para mostrarem sua arte e sua música”, comenta a professora.

O primeiro elemento cultural do punk: Música

Pode até não ser o seu estilo, mas com certeza é impossível confundir o som do punk rock. As músicas têm curta duração, possuem poucos acordes, solos breves ou não possuem solos, além de “letras rebeldes, sarcásticas, com uma batida muito forte. Sempre com uma manifestação de antipatia à cultura vigente, muito contrário ao movimento hippie, por exemplo”, explica a professora.

Teca comenta que quando dava aulas presenciais de língua inglesa costumava usar a música Should I stay or should I go por ser muito boa para trabalhar o verbo modal “should”. O verbo que aparece quando queremos um conselho.

“Durante a letra da música, a gente percebe que é alguém falando pra outra pessoa: ei, se decida! Você quer que eu fique ou quer que eu vá? Então temos uma conversa em que várias opções são apresentadas”, explica a professora.

“Música é muito legal para treinar pronúncia, observar gramática dentro de um contexto ao invés de decorar textos e tabelas. Com a música você ainda se diverte e aprende a utilizar os pronomes”, complementa.

Febre mundial e Mamonas Assassinas

Ainda que no punk não seja necessário uma série de motivos para lançar uma música, existem muitas lendas sobre Should I stay or should I go, uma das mais, senão a mais conhecida do The Clash. A versão mais aceita pelos fãs e comunidade, é que a música foi usada para descrever o curto relacionamento entre o Mick Jones, vocais e guitarra, com a cantora americana Ellen Folley.

Um fato interessante, e que passa despercebido por muitas pessoas, é que a música possui alguns refrões cantados em espanhol por Joe Strummer, vocais e guitarra rítmica, e pelo cantor texano, Joe Ely. Também, para os ouvidos mais atentos, é possível escutar o grito acidental de Mick Jones, em que podemos ouvir ele dizendo “split” (separa) no meio dos refrões, como uma resposta para os problemas apresentados durante o diálogo da música.

Em 2004, a música entrou para a famosa lista das 500 melhores canções de todos os tempos da Revista Rolling Stone, ocupando a 228ª posição.

E, como se não bastasse ser uma febre no mundo todo, o som repercutiu muito no Brasil. Para quem lembra da banda Mamonas Assassinas, com certeza vai recordar da música Chopis Centis, o início da música é bem familiar. Isso acontece porque a banda usou o famoso riff da música Should I stay or should I go. Se ouvir de novo comparando as duas, vai perceber a inspiração da banda brasileira no início da canção.

A edição de agosto do MGM – Music, games and movies contou tudo sobre a banda The Clash e a sua ligação com o movimento punk na Inglaterra. O bate-papo foi entre a jornalista Barbara Carvalho e a professora Edna Marta. Para assistir à transmissão completa, clique aqui.

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Autor: Daniela Mascarenhos - estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Wikimmedia e reprodução Youtube


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