Profissionais ressignificam as avaliações escolares

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

De acordo com o sociólogo brasileiro Fernando Bastos de Ávila, o conceito de avaliar é “a ação de apreciar em seu justo valor um ser”. Isso mostra que as avaliações não existem apenas em espaços de ensino, mas que diariamente os indivíduos estão em um processo de avaliação, consigo mesmo e com os outros. E quando isso adentra os muros da escola, não se resume a um valor recebido em uma prova.

Para o professor Ivo Both, que atua no Mestrado em ducação e Novas Tecnologias da Uninter, a avaliação existe “em função da aprendizagem” e, neste caso, “as notas são secundárias”. O profissional acredita que esses resultados são úteis para fins práticos, como concursos, mas que o ato de avaliar deve acontecer em prol de facilitar e melhorar o ensino-aprendizagem. “O mais importante é que nós tenhamos clareza a respeito do conceito de avaliação. Avaliar é ajudar, é orientar, incentivar”, diz Ivo.

Ao relacionar isso com o conceito de Ávila, Ivo Both  pensa que “ser justo com o aluno depende da formação, das origens, da herança cultural” dos professores, que não desempenham um papel fácil, mas que é fundamental para a sociedade. Apesar das avaliações serem sempre associadas aos profissionais da área de educação, o docente diz que “avaliar é coisa de toda pessoa” e que a auto avaliação é tão importante quanto avaliar o estudante. “Porque enquanto eu estou me auto avaliando, eu estou me perguntando ‘será que hoje valeu a pena eu estar em sala de aula?’”, conclui.

Segundo a professora Rita Turmann, da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, o intuito nesse processo é promover o progresso, de maneira contínua. Não apenas para que os estudantes compreendam o conteúdo em sala de aula, mas para que eles sejam “indivíduos atuantes, com significado” e que possam “intervir no meio em que vivem”. Portanto, é importante que os profissionais tenham claro o que quer e o que deve observar em uma avaliação.

“Ela vem nos trazendo indicativos de como aquele aluno está durante aquele processo que eu desenvolvi aquele conteúdo, se ele está entendendo, se ele conseguiu compreender realmente todos os fatos que compõem aquele determinado conteúdo, aquele determinado conceito”, explica.

Manoela Gonçalves, professora do ensino fundamental há mais de 20 anos, acha importante que, mais do que mostrar o que foi aprendido dos materiais, o avaliar serve para retomar o processo no que pode ter ficado sem compreensão para o aluno e entender o que causou o “erro”. Isso porque, segundo ela, existem questões externas que podem interferir no aprendizado, como questões emocionais e até mesmo fisiológicas. O que evidencia a importância do olhar cuidadoso para com o estudante.

“Quando você se aproxima da criança, você consegue perceber o que ela pode apresentar de melhor. Acho fundamental esse olhar no aluno, contemplando todas essas questões emocionais, sociais, porque você consegue extrair dele o melhor”, complementa.

As avaliações durante a pandemia

Se antes do período pandêmico as avaliações escolares já causavam desconforto e até medo nos estudantes, esses sentimentos podem ter sido potencializados com o estudo remoto e as atividades sendo realizadas de casa, com apoio da família. A professora Rosangela Gorski, que trabalha há mais de 28 anos com educação e atua com turmas do quarto e quinto ano, acredita que o próprio núcleo familiar pressiona as crianças por um bom desempenho e que isso gera uma interferência emocional.

Ivo Both pensa que as provas de avaliação são importantes em todos os níveis de escolaridade, desde o ensino infantil até a pós-graduação. E que a empatia e sensibilidade para perceber os estudantes e as diferentes realidades que eles vivem não devem sair do foco em nenhuma dessas fases. “Quanto melhor nós entendermos os erros dos nossos alunos, melhores professores nós podemos ser para eles. Isso é importante, saber valorizar o erro”, afirma.

As avaliações podem acontecer de diversas formas, desde estudos de caso, portfólios, mapas conceituais, até trabalhos em grupos e individuais, ou mesmo as provas objetivas e subjetivas. Com a chegada da pandemia, os profissionais precisaram reinventar e Rosangela garante que isso começa desde o planejamento das aulas, pois é nesse momento que são estabelecidos os objetivos a serem atingidos, assim como as habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes. Isso é importante para escolher as melhores ferramentas e ofertar as melhores condições para que os alunos progridam.

Uma das principais questões do ensino remoto para os estudantes do presencial é a participação em aulas realizadas por ferramentas de vídeo. Rosangela diz que muitos não gostam de abrir o microfone ou a câmera, mas que é preciso “ganhar eles pelo coração”. Ela conta que tem buscado estratégias para que essa participação aconteça e que eles sejam avaliados em diferentes âmbitos, através da escrita e dos jogos, por exemplo.

“Essas atividades de avaliação têm que ser extremamente dinâmicas nesse momento para que o aluno se sinta pertencente da sala de aula e que ele sinta um motivo e queira estar, goste de estar ali. Principalmente, que ele consiga demonstrar que está atingindo o objetivo, mesmo através de uma brincadeira. Isso para mim já é uma avaliação. Nesses momentos prazerosos a gente já está vendo se o aluno está atingindo ou não os objetivos, se ele teve compreensão daquilo que foi determinado, se ele está cumprindo as regras estabelecidas. Tudo isso você pode criar e gerar prazer na criança, ao invés de gerar medo”, conclui.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução


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