Podridão cerebral e o uso inteligente da IA

Autor: Armando Kolbe Junior*

A eleição de “brain rot” (podridão cerebral) como a palavra do ano pela Oxford University Press em 2024 foi um sinal de que a sociedade finalmente percebeu o preço da gratificação instantânea. Inicialmente associada ao consumo incessante de vídeos curtos, que treinam nosso cérebro para buscar a dopamina do “petisco” de informação, atrofiando nossa capacidade de foco e raciocínio profundo no córtex pré-frontal, o problema agora se estende ao uso preguiçoso da Inteligência Artificial.

As Inteligências Artificiais, como o ChatGPT, se tornam um inimigo quando a usamos como um substituto total do nosso pensamento. Se pedimos à máquina a resposta final para um problema ou um texto completo sem esforço próprio, estamos nos permitindo a atrofia cognitiva. O cérebro é um músculo, e o que não for usado, definhará.

Temos que deixar bem claro que a solução não é abandonar a tecnologia, mas mudar a nossa interação. A IA deve ser um agente de expansão, e não de substituição. Minha sugestão é usar a IA de forma socrática. Não peça a resposta, peça para ela elaborar as etapas, sugerir contra-argumentos para a sua ideia, ou explicar um conceito em diferentes níveis de complexidade. Essa abordagem te força a ativar o pensamento crítico para julgar o output da máquina, o que é o verdadeiro exercício cerebral.

Podemos sim automatizar as tarefas repetitivas com a IA para liberar nossa energia mental para o que realmente importa: a criatividade humana, a resolução de problemas complexos e a conexão de ideias. Por outro lado, a recente falha global de serviços, com a queda da Cloudflare, nos deu um lembrete dramático da fragilidade de nossa dependência digital. O que fazemos quando a tecnologia falha? Já pensou nisso?

Devemos tentar combater a podridão cerebral mantendo o hábito da leitura profunda e do registro manual. Se o nosso raciocínio atrofiar, ficaremos duplamente vulneráveis quando a rede cair. Podemos dizer que a tecnologia é uma ferramenta, mas não a única fundação da nossa sociedade. É necessário valorizar as habilidades humanas não digitais e fortalecer os laços de comunidade. Quando o servidor falha, é a sua rede de vizinhança e sua capacidade de se comunicar face a face que garantem a sua sobrevivência.

A IA é uma extensão poderosa do nosso intelecto, mas não pode ser o único suporte das nossas vidas. Precisamos de um cérebro treinado, resiliente e de uma sociedade humana profundamente conectada. Este é o Plano B.

O nosso destino não pode depender de um cabo submarino ou de um algoritmo quebrado. É hora de despertar o intelecto e garantir que a luz da nossa própria inteligência não se apague quando a tela ficar preta.

 

*Armando Kolbe Junior é Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento, além de professor e coordenador dos cursos de Administração, Contábeis e Análise e Desenvolvimento de Sistemas no Centro Universitário Internacional Uninter.  

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Autor: Armando Kolbe Junior*
Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal/Banco Uninter e Tim Gouw/Pexels


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