Pandemia agrava problemas sociais do dia a dia

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

A pandemia de Covid-19 acelerou processos de esgotamento mental, insegurança no trabalho e desigualdade social. Falar em “novo normal” soa como uma relativização do que antes já passava longe da normalidade e hoje soma mais de 3 milhões de mortos por uma única doença.

Antes da pandemia, o mundo já dava sinais de uma tragédia em curso, mas advinda de doenças silenciosas e mais desiguais que o novo coronavírus. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura calculava que 750 milhões de pessoas (isto é, uma a cada dez) estavam expostas a altos níveis de insegurança alimentar em 2019. Das crianças menores de cinco anos, 144 milhões (duas em dez) sofriam de subnutrição. Ao passar de dez segundos, uma criança morre de fome.

No Brasil, mais da metade da população (116 milhões) convive com algum grau de insegurança alimentar, enquanto 19 milhões de brasileiros enfrentam diariamente a fome. Os números são da rede pesquisa Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), coletados em dezembro do ano passado no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

O país também sentiu os impactos da pandemia na força de trabalho. O número pouco animador de 12,6 milhões de desempregados em 2019 passou para 14 milhões em 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A redução da carga horária, a perda de postos de trabalho e até mesmo o fechamento de empresas prejudicou a fonte de renda para 68% dos trabalhadores entrevistados pelo PoderData em abril deste ano.

Esses fatores se acumulam e convergem para a saúde mental da população. A OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu em 1946, durante a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, a condição de saudável como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

“A pandemia é um fator externo que altera esse ambiente em que estamos vivendo hoje”, afirma a professora de Serviço Social da Uninter Sandra dos Santos. “Se as pessoas já estavam instáveis, imagine com um elemento novo de retirada dessa estabilidade do trabalho, desse rendimento mínimo para subsistência? Como fica a saúde mental?”

Para a OMS, o Brasil vem sendo o país mais ansioso do mundo desde 2017, quando 18,6 milhões de pessoas (9,3% da população) viviam com o transtorno. A taxa era três vezes maior que a média global. A depressão, no mesmo levantamento, atingia 11,5 milhões de brasileiros. Com a pandemia, o Ministério da Saúde conduziu uma pesquisa sobre o tema. Os resultados preliminares apontaram que 86,5% dos mais de 17 mil entrevistados relataram o convívio com a ansiedade. A taxa para depressão foi de 16%.

“Muitas coisas podem aparecer no corpo que fazem parte desse esgotamento [mental]”, explica a professora e psicóloga Thayz Athayde. “A gente pode pensar no que tem sentido durante a pandemia e começar a apontar: por que eu estou sentindo isso? O que o meu corpo quer dizer? Converse com o seu corpo. O nosso corpo fala, e a gente precisa botar ele pra falar”.

A compreensão dos limites do corpo e da mente humana diante de tantos problemas precisa ser posta em prática por todos, mesmo numa sociedade em que o suor receba aplausos e os transtornos mentais sejam vaiados. O caminho é longo, mas, quanto antes for dado o primeiro passo, menos tempo levará a travessia.

“Os problemas que saúde mental impõe são complexos, então as respostas não podem ser simples”, finaliza Thayz.

O bate-papo entre as professoras fez parte da 2ª Maratona da Saúde promovida pela Uninter em 30.abr.21, com o tema Pandemia: tendência e aprendizados. A conversa pode ser conferida na íntegra clicando neste link, e os demais programas da maratona podem ser vistos na página Maratonas para Desenvolvimento Sustentável Uninter, no Facebook.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Andre Moura/Pexels


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