Pandemia acelerou o contato da Igreja por meio das mídias sociais

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

A comunicação sempre foi a base das igrejas, fosse ela midiatizada ou não. Alguns padres, pastores e líderes destas instituições se sobressaem no modo de comunicar, ganhando mais espaço e visibilidade nos meios de comunicação e, assim, atraem mais fiéis seguidores. As mídias digitais multiplicaram estes números e aproximaram mais as pessoas, em particular nesses tempos de pandemia do novo coronavírus. Dentro desta lógica comunicacional, o tema foi discutido na live A Igreja e as mídias sociais.

Dom Mário Spaki, bispo de Paranavaí (PR) e referencial da Pastoral da Comunicação (Pascom), diz que a Igreja é toda comunicação, desde o primeiro instante. “Quando a gente fala em comunicação, o que aconteceu nesses dois mil anos ainda antes de existir o microfone, ainda antes de existir um som na Igreja, rádio, televisão? A Igreja comunicava. Ela comunicava o Evangelho, comunicava dos púlpitos, ela comunicava no relacionamento interpessoal. Na medida que no início do século passado foram vindos esses meios de comunicação a Igreja foi entrando”.

Ainda que a comunicação tenha sido o principal instrumento da Igreja nos últimos séculos, o bispo acredita que houve um atraso da instituição no ingresso para o mundo digital. A dúvida de como se daria essa relação e se ela aconteceria para o bem ou para o mal, fez com que a princípio surgisse uma desconfiança. “Se por 19 séculos nós estivemos na frente, agora nós temos que ter a humildade de sentar na sala de aula e aprendermos comunicação, porque nós não estamos mais na vanguarda”, comenta Dom Mário.

A jornalista Karina de Carvalho é assessora de impressa na Pascom da Regional Sul II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Como não é necessário que seja um profissional para fazer parte da Pastoral, ela se inseriu neste meio antes mesmo de ingressar ao curso superior, mas diz que a comunicação acabou se tornando uma missão e diz que vive o jornalismo como uma vocação.

“Cada trabalho que aparece, cada coisa que a gente cria é feito não só como um simples trabalho profissional, mas também é aquilo que eu vivo e acredito. E acho que é um graça muito grande. Nem todo mundo pode exercer sua profissão dentro de uma Instituição que acredita”.

Celebrações em meio a pandemia

A transmissão de cultos, gravados ou ao vivo, por emissoras de rádio e televisão não são uma novidade. Há décadas elas fazem parte da rotina de milhares de pessoas, inclusive com canais religiosos próprios. Mas a necessidade do isolamento social com a pandemia do novo coronavírus fez com que as celebrações ganhassem uma nova configuração até nas menores e mais distantes cidades dos interiores do Brasil e do mundo.

Segundo Karina, neste momento em que as famílias se vêm obrigadas a ficar dentro de casa, elas também sentem vontade de participar, mas não das missas transmitidas pela televisão e sim dentro de suas próprias comunidades, das paróquias que frequentam e com o pároco que estão habituadas. A solução encontrada para isto foram as lives transmitidas por meio das mídias digitais.

Dom Mário ressalta que não só os padres e membros da igreja mergulharam de cabeça nas redes sociais e se lançaram no meio digital, mas que profissionais desta área também se dispuseram a colaborar nesta missão, ainda que não tivessem uma ligação tão direta com a Igreja.

“Já se pedia para a Igreja aproveitar um pouco mais esse potencial digital que temos hoje. E com a pandemia a gente foi, de certa forma, empurrado. Quem ainda não estava inserido, se viu obrigado a usar esses meios que são uma forma eficaz de estar próximo das pessoas. É uma grande riqueza. Nos ajuda a estar próximo da nossa comunidade, mas também a ver que todos estão fazendo esse esforço para usar esses meios e para manter a Igreja viva, a Igreja de portas abertas na casa de cada família”, pontua Karina.

Para a jornalista, este é um passo que não tem volta, não dá para negar a eficácia dessas mídias. Mas ainda que venham obtendo sucesso neste novo momento em que as igrejas precisam manter as portas fechadas e as redes sociais ganham protagonismo, alguns desafios já são avistados após a pandemia.

O primeiro obstáculo seria manter as pessoas que se colocaram e se prontificaram a ajudar nesse período de necessidade e que podem colaborar mesmo quando tudo passar, dando continuidade a esse trabalho digital. Outra preocupação destacada por Dom Mário é a hipótese de que essa midiatização pode comprometer a questão presencial física. O Bispo faz uma comparação a pandemia da gripe espanhola, que aconteceu entre os anos de 1918 e 1920, e que ocasionou uma queda da participação de fiéis. Segundo ele, se assim acontecer, “evidentemente isso vai ser muito problemático”.

Visita ad Limina Apostolorum em Roma

Dom Mário Spaki e Karina de Carvalho participaram da visita ad Limina Apostolorum em Roma pela Regional Sul II da CNBB, que aconteceu entre os dias 17 e 27.fev.2020. O encontro entre bispos diocesanos e prelados da Igreja Católica com o papa acontece a cada 5 anos e pela primeira vez os sacerdotes decidiram levar um profissional para fazer todo o registro da viagem para que pudesse ser transmitido em tempo real por emissoras brasileiras e também pelas mídias sociais. A função ficou por responsabilidade de Karina, que acompanhou a comitiva de 22 prelados e 3 sacerdotes em todos os compromissos durante os 10 dias da visita.

“Aquilo que a gente não comunica, morre localmente. Evangelizar é contagiar com a mensagem boa de Jesus. E quando a gente leva essa boa notícia de forma testemunhal ou através da narrativa, desta forma o bem que foi vivido localmente tende a se alastrar” explica Dom Mário.

Karina conta que eles fizeram um planejamento de comunicação e ela produzia diariamente áudios, vídeos e matérias que foram enviadas para dioceses e também para TVs católicas e não-católicas, além de emissoras de rádio e o Vatican News, site de notícias oficial do Vaticano.

“Foi um trabalho muito intenso, mas para além disso foi uma experiência de fé para mim, conviver com os bispos, ver a fraternidade entre eles. Em todos esses momentos, eu pude testemunhar um pouco da vivência, das preocupações, foi tudo muito rico. E, claro, uma grande Graça foi o dia do encontro com o Papa Francisco”, lembra.

Apesar de ter acesso restrito a reuniões dos Bispos, Karina pôde conhecer de perto e saudar pessoalmente o papa. Francisco elogiou a presença da jornalista entre tantos homens e observou que mais mulheres deveriam ocupar o espaço. A assessora diz que “foi uma grande alegria” e que a oportunidade de cobrir a viagem a fez perceber “tanto a sensibilidade dos Bispos do Paraná para com a comunicação, a valorização que eles dão e também que o papa aprecia isso”.

“Foi um encontro transformador e eu gostaria de dizer para cada um e para cada uma: observem que tipo de papa é esse, observem como são os outros Papas antecedentes. São pessoas santas, escolhidas pelo espírito santo a dedo e que estão deixando uma marca muito profunda não só na Igreja Católica, mas em toda a humanidade”, finaliza Dom Mário.

Esses e outros tópicos sobre os assuntos foram abordados pelo bispo Dom Mário e pela jornalista Karina na live especial A Igreja e as mídias sociais, transmitida pela página do Facebook de Humanidades da Uninter, no dia 10.jun.2020. O bate-papo foi mediado pelos professores Márcio Pelinski e Gilberto Bordini, ambos do curso de Teologia Católica.

Para maior inclusão, a transmissão contou com a participação de Márcia Eliza de Pol, intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Até o momento, 3,3 mil visualizações foram contabilizadas e pessoas de todas as regiões do Brasil e também dos Estados Unidos participaram da conversa, interagindo via chat.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König


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