Pajubá destaca a urgência de representatividade lésbica em todos os espaços

Autor: Yasmin Guedes da Silva - Estagiária de Jornalismo

A urgência por mais representatividade na mídia e o combate ao apagamento histórico da comunidade lésbica foram alguns dos temas discutidos na edição especial do programa Pajubá, dedicada ao Dia da Visibilidade Lésbica. Transmitido ao vivo no dia 29 de agosto pelo canal do YouTube da TV Uninter, o episódio contou com a presença da professora, pesquisadora e produtora cultural Sheurily Costa.

Com experiência como professora de artes e teatro, Sheurily é uma mulher cisgênero, lésbica, doutoranda e mestre em educação pela Universidade Federal do Paraná. Logo de início, ela conta que, durante sua trajetória escolar, a arte, e principalmente a linguagem teatral, foi essencial para sua existência e resistência: “Porque o nosso processo durante a educação, para cada um, acontece de uma forma, às vezes boa, às vezes dolorosa. E a gente vai encontrando formas de existir nesse espaço”, esclarece.

Ainda discutindo suas vivências, Sheurily enfatiza como a performance artística pode ser uma ferramenta para driblar a opressão no ambiente escolar e como a arte na educação é, e deve ser, um local seguro, onde corpos e identidades são respeitados e acolhidos. O programa também abordou a importância do ensino como ferramenta de transformação, e a convidada compartilhou estratégias usadas em sala de aula para acolher estudantes LGBTQIAPN+.

Em um dos momentos mais elucidativos, a pesquisadora explicou a diferença entre o Dia do Orgulho Lésbico, em 19 de agosto, e o Dia da Visibilidade Lésbica, no dia 29 do mesmo mês. O primeiro remete a um marco histórico de resistência em um bar localizado em São Paulo, em 1983, frequentado por lésbicas. Quando a circulação de um jornal publicado por um grupo lésbico-feminista foi proibida, ativistas se organizaram, lideradas por Rosely Roth, em uma manifestação que garantiu a reconquista do direito de frequentar o bar e divulgar o material.

Já o Dia da Visibilidade Lésbica marca a realização do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), em 1996, que debateu necessidades políticas e sociais, além de marcar um avanço importante para a comunidade. “Foi tão forte assim a possibilidade de este evento acontecer, sem interrupções, sem ações violentas. Então, ao final do primeiro dia do evento, foi discutido e decidido para demarcar esse dia, o 29 de agosto, como o dia da visibilidade, justamente para ter uma data também com uma lembrança feliz”.

Sobre a importância de conhecer a própria história, Sheurily elucidou a origem dos termos “lésbica” e “sáfica”, partindo da Grécia Antiga, com a história da poetisa lírica Safo e da Ilha de Lesbos, até a ressignificação de insultos: “Então, o sapatão é um desses termos que surge como um xingamento proferido por homens, nesse sentido de afetar um lugar de mulheres que não performam o dito como feminino. Mas não demora muito para que as lésbicas se apropriem desse termo e tomem isso como uma forma de resistência, de se autonomear sapatão” nos conta. A professora também declara a importância de estudar a história da linguagem para compreender a existência dos termos.

Sheurily defende a relevância de reconhecer as lutas específicas de cada grupo dentro da comunidade, evitando o apagamento de suas particularidades. Ela ressalta que, por exemplo, a luta de um homem gay cisgênero branco é diferente da de uma mulher trans preta. Fatores como raça, classe, gênero e sexualidade criam experiências únicas de opressão, que exigem respostas específicas em políticas públicas. Para a pesquisadora, a evolução da nomenclatura, de GLS para LGBTQIAPN+, é necessária para demonstrar o amadurecimento do movimento e reconhecer as desigualdades e violências distintas enfrentadas por cada subgrupo.

Uma discussão muito interessante trazida pelos apresentadores do programa foi a representatividade lésbica em produções audiovisuais e as limitações impostas. Sheurily acredita que o audiovisual tem um papel fundamental no combate ao apagamento de casais lésbicos e na ampliação da representatividade, mas critica a repetição de narrativas trágicas ou estereotipadas: “A gente precisa quebrar esse estigma de que as lésbicas são essas pessoas introvertidas, leitoras de poesia, que ficam só no quarto escondidas e que namoram em segredo. Não, a gente escala, a gente empina a moto, solta a pipa e faz um monte de coisas. Somos múltiplas e dentro da própria lesbianidade, a gente tem muitas formas de existir e de se relacionar”. Para ela, a falta de referências diversas atrasa processos de autoaceitação. Ela finaliza destacando que consumir e produzir narrativas que refletem avanços, é crucial para oferecer referências positivas à juventude.

Além de tudo isso, o programa, apresentado pro Nayara Rosolen e Ricardo Mourão, está repleto de diálogos impactantes, fatos que nos fazem refletir e até indicações de produções audiovisuais. Para quem deseja compreender em profundidade as discussões sobre representatividade, educação e os desafios enfrentados pela comunidade lésbica no Brasil, a gravação completa está disponível no canal da TV Uninter no YouTube.

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Autor: Yasmin Guedes da Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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