Os desafios do atendimento de saúde a povos indígenas

Autor: Maurício Geronasso - Estagiário de Jornalismo

Atualmente o Brasil tem uma população indígena estimada em 897 mil indivíduos, conforme dados do Censo de 2010 do IBGE. Divididos em 305 povos, eles representam uma parcela de 0,47% da população brasileira, dos quais 94,9% residem em reservas indígenas. A barreira linguística ainda é uma dificuldade no contato com esses povos, que possuem 275 línguas nativas, sendo que 17,5% dos indígenas não falam o português.

Enfermeira especialista na assistência às populações vulneráveis, Débora Regina de Oliveira Moura explica que “era necessário sempre contar com o suporte de outras pessoas para auxiliar na comunicação com esses povos”. Ela  atuou nos cuidados à saúde indígena no parque indígena do Xingu, no Mato Grosso, logo após sua formação em enfermagem, em 2013. À época não havia médicos no Alto Xingu e os atendimentos eram feitos pelos próprios enfermeiros. O acesso ao local era um imenso desafio, viagens que muitas vezes duravam mais de 24 horas, em condições muito precárias.

“Além de todo conhecimento teórico-prático adquirido durante minha formação, foi necessário que eu conhecesse as reais necessidades da população indígena antes de estar inserida naquele meio”, explica Débora. Os tratamentos de saúde deviam sempre passar pela permissão dos pajés e dirigentes das tribos, o que exigia da equipe uma sensibilidade com a cultura indígena.

As fragilidades estruturais das aldeias é também um desafio para os profissionais de saúde: 68,8% sequer possuem um banheiro e 10,3% não contam com energia elétrica. Para auxílio desses profissionais, em 1999 foi criado o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), uma unidade gestora de atenção à saúde indígena.

O DSEI atualmente executa a gestão de 34 postos de apoia à saúde espalhados estrategicamente pelo Brasil. Para uma melhor visualização das localidades onde os povos indígenas estão, a Funai (Fundação Nacional do Índio) disponibiliza mapas com e dados geográficos das tribos indígenas espalhadas pelo país, os quais podem ser consultados clicando aqui.

Profissionais de saúde encaram com bastante serenidade essa nobre missão, buscando levar melhores condições de saúde a esses povos distantes. Suas responsabilidades vão desde atendimentos de emergência até vacinação, suturas, exames de pré-natal e partos, além do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes. “Através de cumplicidade e parcerias, tentamos qualificar na área da saúde alunos indígenas, para que dentro de suas próprias etnias retornem para atuação e contribuam com seus povos”, explica Débora.

A identidade indígena está intimamente ligada ao território que os povos habitam. Para os profissionais da saúde, é preciso conhecer e respeitar o significado das práticas de cura ligadas a cada cultura, estabelecendo uma conexão entre a tradição nativa e a medicina tradicional. “Cabe a nós mostrar a importância do trabalho de promoção à saúde, nunca esquecendo o respeito à cultura indígena”, ressalta Débora.

Apesar do acompanhamento de saúde dos povos indígenas ser norteado pelos programas e políticas públicas do SUS, as práticas devem observar a cultura das comunidades para um melhor desenvolvimento do trabalho. Geralmente os índios não procuram o atendimento médico, cabendo aos profissionais fazer uma busca ativa, indo até as ocas para consulta e atendimento personalizados.

Quanto mais o serviço de saúde consegue dialogar com esses povos, maiores são as chances de promover a saúde dentro das aldeias. “Devemos ter um olhar diferenciado como profissionais para atender essas populações, buscando também entender como elas nos veem”, conclui a enfermeira.

Débora participou da live Como realizar o cuidado culturalmente sensível nas comunidades indígenas, evento do programa Vem Saber, promovido pela área de pós-graduação em Saúde da Uninter. Transmitido pelo AVA Univirtus no dia 07.jul.2021, às 19h20, o evento contou com a mediação do coordenador dos cursos de pós-graduação lato sensu, professor Willian Barbosa Sales.

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Autor: Maurício Geronasso - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Divulgação/DSEI


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