Os bastidores dos 20 anos da Guerra do Iraque

Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

Há 20 anos, militares britânicos e norte-americanos realizaram a invasão ao território iraquiano, naquilo que mais tarde seria conhecida como a Guerra do Iraque. Impulsionados por mentiras e falsas acusações, os soldados buscavam destituir o ditador Saddam Hussein, que comandava o país desde 1979, e impedir que possíveis armas nucleares fossem usadas contra o Ocidente.

Com a ofensiva de mais de 150 mil homens, a queda do ditador iraquiano aconteceu em poucas semanas. Após a derrubada do governo, o país entrou em uma espiral de conflitos internos que se arrastam até os dias atuais. Desde 2003, as tais armas de destruição em massa jamais foram encontradas. As mentiras criadas pelo Ocidente como pretexto para a invasão impactaram a história do país que convive com a violência há décadas.

Os governos de Estados Unidos e Inglaterra justificam o avanço das tropas com a promessa de levar paz e liberdade ao Oriente. Denominada Operação de Liberdade Iraquiana, a invasão gerou dezenas de milhares de mortes entre soldados e civis iraquianos.

O estopim: 11 de setembro de 2001

Na manhã daquela terça-feira, o mundo virava suas atenções para a região de Lower Manhattan, em Nova Iorque (EUA). A série de ataques coordenados pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001 foi um divisor de águas na política internacional e no modo como a população ocidental via o Oriente.

Quase três mil pessoas morreram durante os ataques ao World Trade Center, incluindo os 227 civis e os 19 sequestradores a bordo dos aviões. Após os atentados que atingiram não só as torres no centro de Nova York, mas também o Pentágono (Departamento de Defesa estadunidense), o governo iniciou uma forte investida contra o mundo oriental, culpabilizando não só o grupo terrorista, como toda a nação iraquiana.

O doutor em Relações Internacionais e professor da Uninter Guilherme Frizzera afirma que iniciou ali um período ao qual a ordem liberal começa a encontrar grandes atritos. “Um ataque aos Estados Unidos simboliza algo muito maior. É um ataque a uma concepção de mundo”, explica.

Após os ataques, cresceram as alegações dos Estados Unidos eram de que o Iraque tinha posse de poderosas armas nucleares que ameaçam a integridade do Ocidente. Por muitas vezes, o presidente George W. Bush utilizou dessa narrativa para justificar a hostilidade e os possíveis “contra-ataques” contra a população árabe, fazendo com que americanos acreditassem na ligação entre o governo iraquiano e o 11 de setembro.

Durante sessão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em janeiro de 2003, o Secretário de Estado Colin Powell apresentou supostas provas de que o governo de Saddam Hussein escondia armas de destruição em massa. Na oportunidade, Powell divulgou slides com fotos de satélite e fitas com gravações de conversas entre militares e funcionários do governo iraquiano, gravadas por satélites-espiões americanos.

Apesar da tentativa, China, França e Rússia vetaram a invasão ocidental ao território iraquiano por entenderam que as provas apresentadas pelo secretário não apontavam para nenhuma ameaça real. O veto, no entanto, não impediu que Estados Unidos e Inglaterra invadissem o território iraquiano de maneira autônoma.

“Estava ali a semente da desinformação, feita para atingir objetivos políticos e econômicos”, comenta Frizzera sobre as informações apresentadas por Powell. Ele ressalta que ninguém foi punido pela violência imposta pelo governo dos Estados Unidos contra a população iraquiana.

Confronto deixa marcas profundas

Em 19 de março de 2003, Bush anunciou o início dos bombardeios ao território. Cerca de 150 mil soldados americanos foram enviados no primeiro mês de confronto.  Neste período, a capital Bagdá era tomada e, em 1° de maio daquele ano, o presidente estadunidense declarou a vitória sobre a “ameaça” e o início da ocupação americana no país

Ao contrário do que era propagado pela mídia na época, os estadunidenses não eram vistos pelos cidadãos iraquianos como um exército libertador, mas como uma força de ocupação e de controle. Para muitos, as denúncias de descuido e desinteresse da Casa Branca quanto a população local pode ter causado o crescimento de conflitos internos e o nascimento de outras organizações terroristas, como é o caso do Estado Islâmico (ISIS).

Cidades foram destruídas pelos bombardeios e dezenas de milhares de mortes foram contabilizadas. Segundo os últimos dados do Departamento Defesa dos Estados Unidos, 4.487 militares estadunidenses morreram no confronto desde o início da operação no em 19 de março de 2003. Entre os iraquianos, ocorreram entre 97.461 e 106.348 mortes até julho de 2010 segundo o Iraq Body Count (IBC).

Pobreza, desemprego e violência por parte dos militares foram outros motivos que levaram a população iraquiana a protestar contra a ocupação estadunidense ao longo dos anos. As disputas entre xiitas e sunitas (grupos de tradição muçulmana) aumentaram progressivamente após a devolução do controle político aos iraquianos em 2004 e as primeiras eleições em 2005.

Mentiras reveladas

Em 2004, a mentira sobre os arsenais de armas nucleares que estariam em posse de Saddam Hussein se tornou um dos maiores escândalos da históriaUm ano após a invasão, Bush se defendeu da responsabilidade da guerra. Segundo ele, “se não tivéssemos agido, os programas de destruição em massa do ditador teriam continuado até hoje”.

Mais tarde naquele mesmo ano, Bush abriu investigação sobre armas e veio a público, junto do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, reconhecer que houve falhas nos trabalhos dos serviços secretos de ambos os países. Somente em 2006 o presidente admitiu que o governo de Saddam Hussein não tinha posse de armas nucleares e tentou justificar a ocupação em outros termos.

Para muitos estudiosos, a intervenção norte-americana no Iraque faz parte de uma grande estratégia da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de tentar frear uma possível integração econômica e energética na Eurásia (região da Ásia Central).

Na opinião do Doutor em Sociologia Política e professor da Uninter Rafael Pons Reis, o confronto criado pelos Estados Unidos e apoiado por nações como Inglaterra e Alemanha fez parte do projeto de imposição da democracia liberal em diferentes regiões do planeta. “Isso subverte a lógica de uma democracia liberal que nasce de baixo para cima”, afirma.

Os 20 anos da Guerra do Iraque foi o tema da live exibida pela Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança (ESGPPJS) da Uninter em 27 de março. Comandada por Rafael Pons Reis, a transmissão também contou com a presença dos professores André Frota e Guilherme Frizzera, que lecionam nos cursos de Ciência Política e Relações Internacionais da Uninter.

Assista à íntegra da transmissão neste link.

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Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução YouTube


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